terça-feira, outubro 31, 2006

Descobrir outros rumos

Os políticos portugueses estão viciados, as políticas de alternância que se vêm praticando em Portugal, atingem hoje limites de falta de senso inimagináveis. Na decorrência deste estado do Estado, mais do que nunca assistimos agora à lembrança e mais do que isso, à exaltação, de Salazar. Passar de “8 para 80”, é sempre sinónimo de revolta extrema, de ansiedade, de angústia, de descrédito, de insatisfação e mau estar.

Seria muito bom que ninguém se lhe alheasse desta realidade. É urgente que os políticos deixem de olhar para os seus umbigos e que em vez de prometerem sem poder cumprir, pensem em perceberem os problemas para saber ouvir.

Em Portugal, a alternância política em que vivemos está a levar-nos ao esgotamento do sistema e à falência da sociedade. O país mantém hoje duas máquinas de Estado: uma no poder, e outra encostada às boxes. Sempre que elegemos um governo PS, temos que indemnizar quem abandona os cargos anteriores e reformar um batalhão de funcionários, pela substituição de outros. E o mesmo acontece pelo seu inverso, ou seja, sempre que se elege um Governo PSD ou de coligação.

O peso da máquina estatal e de todos os que dela dependem, vem sendo crescente ao longo dos anos. Esta realidade tem que ter um fim! Não podemos continuar a pactuar de braços cruzados com o resultado medíocre em que se torna o nosso Portugal. Não podemos continuar a ter vergonha do que somos e do que não conseguimos alcançar. No dia em que se perceber que o sistema está efectivamente está falido, é inevitável uma nova revolução.

Nós, na Nova Democracia continuamos a lutar, ainda que com todos os entraves que o próprio sistema nos provoca. Como todos já nos apercebemos, se em Portugal é quase missão impossível constituir um novo partido, ainda mais impossível se torna conseguir fazê-lo sobreviver. Os tentáculos dos poderes instalados são tão fortes e ferozes que arrastam consigo o domínio da comunicação social generalizada. Os objectivos de quem domina têm por fim fazer ignorar os novos projectos e as novas ideias de quem surge de novo na vida política e são, portanto, em grande parte alcançados.

Muitos são os que já agoiraram e continuam a agoirar a extinção do Partido da Nova Democracia. Enganaram-se e continuam a enganar-se. Nós continuamos vivos e a idealizar novos rumos para Portugal.

Prova disto mesmo será já no próximo fim-de-semana, nos dias 4 e 5, da realização do III Congresso da Nova Democracia. Vamos provar mais uma vez que estamos vivos e que de forma sustentada, continuamos a crescer. Mostraremos ao país que temos um programa político inovador a defender e que estamos abertos à sociedade civil e política de Portugal, contando nos nossos painéis temáticos de discussão com figuras de todos os quadrantes, como será por exemplo o caso do Eng.º João Cravinho ou da Dr.ª Maria José Morgado. Estamos abertos a ouvir a todos, a debater com correcção, e preparados para apresentar uma alternativa para Portugal.

Na próxima semana, vos daremos conta desta realidade, que se não me engano, constituirá uma boa surpresa para muitos, e naturalmente motivo de derrota para muitos!

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

Do barco do amor para o barco do aborto

Estamos todos no mesmo barco, no que se refere a esta questão tão polémica e na realidade tão complexa.
Quem não tem conhecimento de um aborto clandestino, que deu mau resultado?! Provavelmente por ter sido realizado numa clínica clandestina, mas que toda a gente sabe que está lá e que para ter acesso a essa, com condições de saneamento que prometem infecções, tem de se largar uma boa quantia!
Continue a ler no Comunicar a Direito

segunda-feira, outubro 30, 2006

Outubro finda

outubro finda nos telhados
já sem zinco atravessados
pelos fungos e pelas frases

escuto ainda o furtivo amor
e a esquiva luz pelas janelas

o segredo que me dizes
é um corredor branco sem memória.

Martim de Gouveia e Sousa
Ave-Azul

domingo, outubro 29, 2006

Silêncio (I)

O silêncio é um termo polissémico, uma palavra com várias camadas como a casca da cebola. Uma palavra que se descaca com encantamento. Ausência de barulho, jejum da palavra, renúncia, revela-se o canto secreto da linguagem acabada, música de mil harmonias segundo o imaginário, os afectos, a intuição. O silêncio penetra para além do conceito, do intelecto, leva-nos ao coração das coisas, faz-nos tocar, sem esforço, o coração de Deus. Buda é às vezes chamado o "mestre do silêncio". Para os budistas, no ramo zen em particular, o silêncio é considerado como meio privilegiado de chegar à verdade, a nascente escondida.

in O Silêncio
Os Melhores Contos Zen

Silêncio (II)

Japão. Primeira metade do século XIV, shogunato dos Ashikagaka. Um templo perdido na montanha. Quatro monges zen decidiram fazer um sesshin (espécie de retiro) em silêncio absoluto. Instalaram-se em zazen. Veio a noite. O frio cortante.
"A vela apagou-se!, diz o mais jovem dos monges.
- Não deves falar! É um sesshin de silêncio total, - observa severamente um monge mais velho.
- Porque falam, em vez de se calarem, como tinha sido combinado! - faz notar com humor um terceiro monge.
- Sou o único que não falou!", diz com satisfação o quarto monge.

Este episódio faz sorrir. Mas ilustra com exactidão a justeza do espírito do Zen. Troça-se dos monges, trata-se com humor o silêncio, do qual no entanto se sabe que é um elemento essêncial do caminho. É que o silêncio não é senão silêncio, ou seja, um meio. "Se encontrares o Buda, mata o Buda", diz uma máxima célebre.

*
Nada deve ser obstáculo à experiência pessoal.
in O silêncio
Os Melhores Contos Zen

sábado, outubro 28, 2006

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

Porque será...

Que hoje todos os meus "amigos sportinguistas" se lembraram de me enviar mensagens?

Bem sei... foi um grande jogo, mas lamento ter de dizer: foi lindo :)) ah, grande Beira-Mar!!!

sexta-feira, outubro 27, 2006

Sons em Trânsito (SET) 06 - Festival de Músicas do Mundo de Aveiro

O festival Sons em Trânsito conhece este ano a sua quinta edição. O evento, agendado para 29 de Novembro a 2 de Dezembro, traz novamente a Aveiro sonoridades de várias partes do mundo

Três artistas portugueses figuram na programação da edição deste ano do Sons em Trânsito - Festival de Músicas do Mundo de Aveiro, que decorre entre 29 de Novembro e 2 de Dezembro.

O cartaz do evento, que conhece em 2006 a sua quinta edição, integra ainda nomes provenientes da Argentina, Itália, Mali, Índia, Espanha e França.
Continue a ler no Diário de Aveiro

A Pergunta Batoteira

Politicamente falando o Governo PS é responsável por uma estranho paradoxo. Por um lado fecha maternidades, por outro quer liberalizar o aborto até às dez semanas. Parece que com o PS, o difícil mesmo é nascer.
Além do momento pouco apropriado e da incerteza quanto às consequências políticas que o PS está ou não disposto a tirar do resultado que vier a verificar-se no referendo do aborto, sobretudo se não votar a maioria dos eleitores, o aspecto mais grave deste referendo é a pergunta que foi aprovada na Assembleia da República. Ela induz o eleitor em erro e esconde as verdadeiras consequências de votar sim.
“Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”. É esta a pergunta que vai ter de ser respondida em termos de sim ou não, se o Tribunal Constitucional declarar a constitucionalidade da pergunta e permitir, desse modo, a Cavaco Silva optar politicamente por convocar o referendo.
Não é por acaso que a expressão aborto não consta da pergunta PS/PSD/BE. Os defensores do sim sabem que ela provoca repulsa e transporta uma carga emocional negativa. A tecnocrática e asséptica interrupção voluntária da gravidez é mais limpinha, menos agressiva e mais fácil de vender. Mesmo que não seja possível retomar a gravidez interrompida e, portanto, não seja propriamente de uma interrupção que se trata.
Continue a ler, por Jorge Ferreia, no TomarPartido

O Estado Civil Da Culpa

O antigo ministro das Obras Públicas Jorge Coelho, que tutelava a pasta no momento da tragédia de Entre-os-Rios, afirmou esta semana que considera que «a culpa vai morrer solteira» no caso da queda da ponte que custou a vida a 59 pessoas.
Segundo Jorge Coelho, ao demitir-se do Governo a 5 de Março de 2001, horas depois do acidente, pretendeu dar «o exemplo» da assunção de responsabilidades políticas no caso da queda da ponte. Mas esperava que o processo judicial tivesse outro desfecho. «Não é possível que 59 pessoas tenham morrido a atravessar um equipamento cuja manutenção é da responsabilidade do Estado e, feita a investigação, ninguém seja responsabilizado. Se a desresponsabilização se torna uma normalidade no nosso país, então tudo pode acontecer», sublinhou o ex-ministro.
Continue a ler, por Jorge Ferreira, no Aveiro

Vida

As árvores necessitam tanto das suas raízes, como nós necessitamos das árvores. Não vivemos sem elas, ainda que a nossa vista as não alcance.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão

quarta-feira, outubro 25, 2006

Satisfazer-se mais com Intensidade do que com Quantidade

A perfeição não consiste na quantidade, mas na qualidade. Tudo o que é muito bom sempre foi pouco e raro: o muito é descrédito. Mesmo entre os homens, os gigantes costumam ser os verdadeiros anões. Alguns avaliam os livros pela corpulência, como se escritos para exercitar mais os braços do que os engenhos. A extensão sozinha nunca pôde exceder a mediocridade, e essa é a praga dos homens universais: por quererem estar em tudo, estão em nada. A intensidade dá eminência, e é heróica se em matéria sublime.
Baltasar Gracián y Morales, in 'A Arte da Prudência'
Espanha [1601-1658] Escritor/Pedagogo

terça-feira, outubro 24, 2006

O OGE e o distrito de Aveiro

O Orçamento do Estado para 2007, constitui mais uma enorme desmoralização para todos os que ainda continuam a lutar neste país e por este país!
O agravamento das injustiças sociais pelo aumento dos impostos, as anunciadas reduções das comparticipações do Estado na Saúde e na Educação e as propostas de redução da despesa pública sempre à custa da classe média portuguesa, enquadram este Orçamento numa continuidade da linha política socialista profundamente errada, tanto do ponto de vista social como do ponto de vista económico. Portugal está a tornar-se num país sem atractivos ao investimento. Se por um lado Portugal se tornou um país aberto à imigração, por outro lado Portugal está a voltar a ser um país de emigrantes. Temos um hoje um país cada vez mais desenraizado, sem confiança nem futuro para os portugueses.

O distrito de Aveiro não foge à regra nesta realidade desmotivante. Na passada semana tive infelizmente prova desta constatação, numa passagem pelo Governo Civil de Aveiro para renovação de passaporte. Ali, enquanto se espera, respiram-se as consequências da crise do país pelos queixumes de todos quantos ali se dirigem. Não se encontram pessoas felizes a tirar passaportes para gozar férias no estrangeiro, isso não. Encontram-se misérias humanas, pessoas desesperadas na fuga de alguma situação ou na busca de oportunidades que no seu país já não conseguem encontrar.

Proponho a todos quantos colaboraram neste Orçamento de Estado que façam uma visita ao Governo Civil mais próximo e que oiçam o que quem por lá passa tem a dizer do país. Aí sim, deveriam auscultar as mais sinceras vozes de quem sente na pele as dificuldades contrárias às ilusões que o Governo nos quer ainda fazer acreditar. Como pensar em retoma económica ou na baixa da inflação quando no dia-a-dia o que sentimos no bolso é a baixa cada vez maior do poder de compra?

No distrito de Aveiro, as pequenas e médias empresas continuam a encerrar portas e o desemprego continua a aumentar. Para aferir esta constatação, basta apenas folhearmos os nossos Jornais nas páginas de Citações de Dívidas e de Declarações de Bens à praça pública. Sectores estratégicos da economia em Aveiro e empresas com décadas de existência, todos os dias nos surpreendem com más notícias. A norte do distrito, concelhos como Ovar, São João da Madeira ou Santa Maria da Feira, que por excelência geravam riqueza e investimento industrial, hoje são concelhos onde o desinvestimento é uma realidade e onde todos os dias aumenta o desemprego e aparecem os casos de maior criminalidade.

O aumento previsto do custo da electricidade e o aumento do custo das portagens, virá naturalmente agravar todo este cenário já caótico no nosso distrito, que é obviamente o espelho de todo o país em geral. Como encontrar forças para continuar? É caso para perguntar ao actual Ministro da Economia, que até “por acaso” foi cabeça de lista do PS nas últimas legislativas por Aveiro: - Sr. Ministro, não pensará V. Ex.ª em demitir-se antes de pensar em voltar ao nosso distrito? Haja vergonha para voltar a vir por aqui dizer tanto disparate!

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

segunda-feira, outubro 23, 2006

Aveiro FM 96.5 em Festa!

A Rádio Aveiro FM assinala hoje 17 anos de existência. A 23 de Outubro de 1989, a Rádio Regional de Aveiro iniciou as suas emissões.

Parabéns pelo excelente serviço público que nos tem prestado ao longo destes anos e pela indispensável companhia que nos faz!

Parabéns!

Ao Comunicar a Direito, pelo seu 2º Aniversário.

Muitos anos de vida, no excelente prazer de comunicar.

As razões do não

No novo blogue do não, de portugueses livres, leia as opiniões e os comentários sobre o "não" ao referendo sobre o ABORTO.

A Direita Colaboracionista

1. Numa entrevista talhada para Ribeiro e Castro brilhar, não fosse a entrevistadora uma grande inimiga da Nova Democracia, o presidente dos centristas pouco mais disse do que nada. É certo que na sua ânsia de alargar o CDS ao espaço da direita, no que foi ajudado por Maria João Avillez, ainda tentou dizer que à volta do “eixo” da democracia – cristã se podiam abrigar os conservadores e os liberais, mas na essência o povo da direita percebeu que o seu voto no CDS é apenas útil à esquerda. Tendo tido todas as oportunidades para demonstrar a diferença da dita “direita”, que o CDS quer representar, face à postura social – democrata do governo de Sócrates, José Ribeiro e Castro ficou-se pelas encolhas provando estar disponível para entendimentos com o actual primeiro – ministro.
Continue a ler, por Manuel Monteiro, no Democracia Liberal

domingo, outubro 22, 2006

Por um fino fio

Photo by Arno Rafael Minkkinen

Memória, intensidade

Energia, vontade

Fado, saudade.

Sem mais.

Por um fino fio

Que invade,

Nostalgia, amizade.

Por um fino fio,

O desejo

É verdade.

Por um fino fio

O amor,

A liberdade.

Augusta Almeida

Sonho

"O sonho é ver as formas invisíveis."


Fernando Pessoa

Existir Eficazmente

Esta necessidade de estar só, de não sentir que te pedem seja o que for, que te separam de ti próprio. Este horror a que tenham o mínimo direito sobre ti, de que to façam sentir... Esta evidente impertinência dos outros, quando esperam qualquer coisa, quando take for granted alguma coisa de ti. Tornas-te de súbito distante, apagas-te, ficas rígido, repeles. Incapaz de dizer uma boa palavra. Pões ponto final e afastas-te. Rancor contra aqueles que tiveste de eliminar dessa maneira e que, por piedade, por espírito de sacrifício, tens de voltar a aceitar.
A saúde interior que dão a profissão político-moral e o contacto com as massas não é diferente da que provém de qualquer ocupação, de qualquer actividade a que um homem se consagre. Quando escreves e te entregas inteiramente à tua arte, sentes-te sereno, equilibrado, feliz.
E se tudo for apenas saúde, existir eficazmente? Que dirás no momento da morte?
Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'
Itália[1908-1950]Escritor

sábado, outubro 21, 2006

Primeira vez

Nenhuma palavra é exacta.

Nenhuma tem a nitidez

da imagem que retrata

a primeira vez.

E é inútil buscar no dicionário

esse termo extraordinário.

Torquato da Luz, no Ofício Diário

sexta-feira, outubro 20, 2006

Liberdade

«Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir»
George Orwell
Inglaterra[1903-1950]
Romancista/Ensaísta/Crítico

E não querem mais nada?

Não sabem no que se estão a meter
TSF online, via Rui Costa Pinto, no Mais Actual

A Liberdade de Governar

Por vezes somos tentados a pensar que Deus nos reservou os piores para nos tratar do destino. Que o país foi concebido num dia mau e que transporta consigo para todo o sempre o pecado original de ter nascido de uma zanga entre um filho e uma mãe. Isto sucede normalmente nas fases de maior desespero com a política, em que colectivamente parece descrermos de tudo, de nada e de todos.
Continue a ler, por Jorge Ferreira, no Aveiro

quinta-feira, outubro 19, 2006

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.


A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto em alguém,

Essas coisas todas —

Essas e o que falta nelas eternamente —;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,

Cansaço.


Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada —

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...


E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço,

Íssimno, íssimo, íssimo,

Cansaço...

Álvaro de Campos

Bons ventos

«Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável »
Lucius Annaeus Seneca
Roma Antiga [-4-65] Filósofo, Escritor

Ele é cada um...

FAZ SENTIDO

«A vida tem uma lógica, um sentido. A política, é uma emanação da vida. Tem, igualmente uma lógica, um sentido. Nem sempre se percebem, a lógica e o sentido, a frio, ao longe, de fora. Mas há momentos em que tudo fica claro e a lógica e o sentido exibem-se sem pudor na praça pública. Hoje descobri que há um secretário de Estado que pensa que a culpa do aumento de 15% na electricidade para 2007 é dos consumidores. A princípio fiquei preocupado. Um governante assim tão, tão, tão... bem fiquemos assim. Mas depois percebi. Ele, afinal, é secretário de Estado do Dr. Pinho. Aí estão, esplendorosos, a lógica e o sentido.»
por Jorge Ferreira, no TomarPartido

quarta-feira, outubro 18, 2006

Horizonte

O mar anterior a nós, teus medos

Tinham coral e praias e arvoredos.

Desvendadas a noite e a cerração,

As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério

'Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa

Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;

Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:

E, no desembarcar, há aves, flores,

Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esp'rança e da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte

Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa

segunda-feira, outubro 16, 2006

Sonhos sem ilusões

«Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentimentos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.»

Fernando Pessoa
in 'O Livro do Desassossego'

A crise de volta

Quando Manuel Pinho afirmou na passada sexta-feira em Aveiro que "a crise acabou", ninguém o entendeu. Em boa verdade ele referia-se apenas à entrada do fim-de-semana, isto é, "a crise encerraria portas por dois dias". Hoje segunda-feira, todos percebemos que a crise voltou.

Onde vamos parar?

"A Barbárie e uma Pergunta Oportuna", por Manuel Monteiro, no Democracia Liberal

As palavras

«Ao escrever sobre o que sentimos acabamos por vezes a sentir o que escrevemos porque o escrevemos. Explico-me. Às vezes, escrevem-se coisas porque vão umas com as outras, porque rimam significados ou simplesmente ficam bem. Porque as palavras procuram outras de uma certa maneira irrecusável. E depois já está. As palavras possuem esse poder de moldar o que a mão ao escrevê-las queria dizer. Escrever não é um acto de um sentido só, uma espécie de rua de sentido único entre o que temos dentro e o que aparece de fora, escrito. Este «de fora» que parece ser a escrita, se molda o que depois ao ler sentimos, é porque está ainda «de dentro». Mas às vezes o cansaço apodera-se de nós, e temos vontade de parar. Não sei se de escrever, se de sentir, possivelmente de estar sempre a pensar nisso. Parar: vontade de fechar os olhos e ver.»
Dylan Thomas, via Mendes Ferreira, do Piano

Recentes acontecimentos na China

As imagens de militares chineses disparando sobre civis indefesos, são um testemunho da barbárie mais cruel, mal vil, mais repugnante, a que temos assistido nos últimos tempos. Nada, rigorosamente nada, pode justificar tal atitude e muito menos quando os disparos eram dirigidos a pessoas que apenas procuravam ir ao encontro do seu líder religioso. Com tal atitude a China demonstra não fazer parte dos regimes políticos civilizados e respeitadores da vida humana. Imaginemos o que se passará a coberto do anonimato, quando não há por perto ninguém disponível ou com coragem para fotografar, para filmar, para relatar. É grave que no Século XXI estas situações continuem a ocorrer, mas é ainda mais grave que a China seja aceite como parceiro livre na Organização Mundial de Comércio. Como entender a liberdade económica, sem a liberdade política? Como entender a livre circulação de mercadorias, sem a livre aceitação de opiniões distintas e plurais? Como entender a posição de países como os Estados Unidos da América, da Inglaterra, da França, da Alemanha, da Espanha e mesmo de Portugal, que têm surgido na primeira linha da defesa dos direitos humanos e da democracia em relação ao Iraque, ao Irão, à Líbia, à Venezuela, à Coreia do Norte e se calam perante um regime assassino que viola todos os dias as mais elementares e simples regras de qualquer Estado de Direito?
Continue a ler, por Manuel Monteiro, no Democracia Liberal

domingo, outubro 15, 2006

Não ser

Ah! arrancar às carnes laceradas
Seu mísero segredo de consciência!
Ah! poder ser apenas florescência
De astros em puras noites deslumbradas!

Ser nostálgico choupo ao entardecer,
De ramos graves, plácidos, absortos
Na mágica tarefa de viver!
...

Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?!...

Florbela Espanca

sábado, outubro 14, 2006

Parabéns à Universidade de Aveiro e ao Carlos Martins de Sever do Vouga

A Universidade de Aveiro e a empresa Martifer assinaram, ontem, um protocolo de cooperação com vista à instalação no campus de uma Unidade de Investigação e Desenvolvimento na área das Energias Verdes e do Ambiente.

Continue a ler no Diário de Aveiro

Será desta?

Ligação ferroviária ao porto de Aveiro: obra de grande impacte económico e visual

leia no Diário de Aveiro

É mesmo uma tristeza

A descrição exacta do estado de Aveiro, "Um Ano Triste", por Jorge Ferreira, no Aveiro

Pessoas com sorte

«Muitos se têm revelado surpresos com as declarações de Manuel Pinho, hoje, em Aveiro, decretando o fim da crise. A mim, confesso, não me surpreendem. Tive ocasião de acompanhar o percurso do actual ministro durante a última campanha eleitoral em que fui candidato pela NovaDemocrcacia pelo círculo de Aveiro e Manuel Pinho pelo PS. Percebi duas coisas. Que o senhor está-se literalmente nas tintas para o PS (o que por si só não é pecado) e que é incapaz de trocar o golfe pelo trabalho político. E constatei outra: a sua irreprimível queda para a brincadeira. Perguntado nos alvores da campanha sobre o que sabia de Aveiro, Pinho não hesitou em dizer que se lembrava de ver morrer uma criança ao tentar atravessar a linha do comboio em Espinho. A debates não foi, tal como o deputado fantasma do CDS, então candidato Portas (gente arrogante, perdão, importante, é assim mesmo). Campanha não fez. Fizeram-na os escravos do aparelho que nos salões deve execrar chiquerrimamente. Ideias não tinha porque não precisava, visto que estava ali para ser ministro, o que veio a conseguir graças a Sócrates. Não tarda é condecorado.»
Num blogue livre de condecorações presidenciais, "O Dr. Pinho", por Jorge Ferreira, no TomarPartido

sexta-feira, outubro 13, 2006

Vida para além da vida

pois a vida... para lá dos dias e das noites. para lá do preto e do branco. para lá do gelo e das chamas. para lá do ir e voltar. mesmo no silêncio das pedras... é um imenso arco-íris se aprendermos a voar.

Loucura

«Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.»
Friedrich Wilhelm Nietzsche
Alemanha[1844-1900]Filósofo

quinta-feira, outubro 12, 2006

«Arte Nova - Porta para o futuro» em Aveiro

Considerada, pelo crítico José Augusto França, como a capital do estilo Arte Nova em Portugal, a cidade de Aveiro está a ser palco de um encontro de três dias inteiramente dedicado a este peculiar estilo arquitectónico.

Com o tema «Arte Nova – Porta para o futuro», o evento é promovido pela Câmara Municipal de Aveiro e está a decorrer no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, com cerca de 130 inscritos.

Recordando que em Aveiro, uma certa burguesia construiu a sua elegância e distinção social nos imóveis característicos da Arte Nova, na azulejaria, nos vitrais coloridos, na ferro trabalhado pela forja e na cantaria, Élio Maia assumiu, na sessão de abertura, que «somos os herdeiros privilegiados desse património e seremos zelosos na sua salvaguarda e na sua valorização». O encontro que ontem começou possui características internacionais, uma vez que reúne a experiência e realidades de três cidades, Aveiro, Barcelona e Riga que, embora bastante afastadas geograficamente entre si, possuem familiaridades na descendência dos padrões estéticos da Arte Nova.

Ainda de acordo com o presidente da Câmara Municipal de Aveiro, o carácter internacional da iniciativa visa a «partilha de políticas de valorização deste património, com o intuito de trocarem conhecimentos e experiências que constituam soluções para a sua preservação, para desenvolver intercâmbios no domínio da preservação e promoção urbanística e com um grande empenho em reforçar a divulgação do património Arte Nova».

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Fotografia seleccionada

De Pedro Ribau, do Fotografias Soltas, para a exposição relativa ao concurso promovido pela Câmara Municipal de Aveiro no âmbito das primeiras jornada da Ria de Aveiro - SORRIA.

A exposição circulará nas freguesias envolvidas nesta iniciativa pela seguinte ordem: Esgueira de 20 de Setembro a 4 de Outubro; Aradas de 9 a 22 de Outubro; Cacia de 23 de Outubro a 5 de Novembro; Glória de 6 a 19 de Novembro; São Jacinto de 20 de Novembro a 3 de Dezembro e Vera Cruz de 4 a 17 de Dezembro.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Interesse

«Há, de facto, inúmeras coisas, circunstâncias e até pessoas que não valem a pena. Não valem a pena, para nós, porque não as significamos de um certo modo, não as conseguimos distinguir da massa das coisas, circunstâncias ou pessoas que atravancam os dias ou distinguimo-las com nitidez e, ainda assim, reafirmamos o nosso desinteresse, o nosso desejo de alheamento e distância.»
Isabel Leal
Notícias Magazine (DN)

80º Aniversário

O Concelho de São João da Madeira foi criado em 11 de Outubro de 1926, faz hoje 80 anos, como reconhecimento da grande pujança económica, industrial e demográfica da então vila de São João da Madeira.

Formado por uma única freguesia, e apesar de ser o mais pequeno concelho do País, no que se refere a área geográfica, está nos lugares cimeiros num vasto rol de indicadores económicos, demográficos, sociais, culturais e de qualidade de vida.

Durante décadas conhecida como a cidade do calçado e dos chapéus, São João da Madeira é hoje uma cidade com um parque industrial muito diversificado, onde estão sedeadas algumas das maiores empresas do distrito de Aveiro, mas que não renega as suas origens, por isso, aqui está localizado o Centro Tecnológico do Calçado, uma referência em termos de investigação e de projectar o futuro, e o Museu da Chapelaria, memória viva de um passado que engrandece o presente.

Com zonas industriais bem definidas e estruturas, São João da Madeira é uma cidade também com um forte tecido empresarial na área do comércio e dos serviços, que também inclui o sector turístico.A sua localização estratégica no centro de grandes rotas, faz de São João da Madeira uma cidade central na região de Entre Douro e Vouga, como o prova o seu movimentado Centro Coordenador de Transportes. A par disso, a quantidade de avenidas, mesmo em áreas ainda não urbanizadas, faz desta cidade um exemplo da implantação de estruturas viárias, a que agora se junta o projecto de integrar a linha férrea nos transportes urbanos da cidade.

Continue a ler no Diário de Aveiro

Programa das comemorações

terça-feira, outubro 10, 2006

As vergonhas de Aveiro

São as dívidas que se acumulam sem freio, deixando raízes por todo o lado. Numa cidade de tantos encantos, os aveirenses vivem hoje envergonhados no lodo em que os políticos, “uns atrás do outros”, vão deixando a dignidade da nossa gente.

Élio Maia, após um ano de mandato à frente dos destinos de Aveiro, depois de tantas promessas pessoais ao eleitorado, conhecendo-o como pessoa séria que é, de duas uma, ou não sabia de todo o que o esperava ou não esperava o que lhe aconteceria.

O actual Executivo, não espelha a imagem de seriedade que todos conhecíamos a Élio Maia. Sente-se que não existe sincronia na acção da equipa. Concordo quando muitos afirmam que Élio Maia não se sente bem na roupagem que incorpora. As suas palavras, a sua forma de estar e a sua vontade não se integram na forma de estar nem nas acções da sua equipa que parece não querer dar ouvidos àquilo que o Presidente transmite.

Parece-nos que Élio Maia, caiu numa imensa armadilha, arquitectada por si próprio. Entendeu-se confiante para que chegando a Presidente, pudesse impor à sua equipa o seu partido PEM (partido de Élio Maia). Enganou-se e agora não consegue tão pouco o objectivo mínimo que seria uma coligação CDS/PSD/PEM. Conclusão, não há rei nem roque que nos governe quando as vozes desafinam em prol de interesses individuais de cada um para seu lado.

O resultado está à vista e passado um ano, os problemas de Aveiro em vez de se aliviarem, agravam-se. Ontem no Jornal de Notícias demos conta de mais um buraco de seis milhões de euros, que a Empresa do Estádio Municipal de Aveiro (EMA) contraiu pela dívida do Imposto Municipal de Imóveis (IMI), de acordo com o vereador Pedro Ferreira, do pelouro das Finanças. Uma verdadeira lástima, a acrescer a todos os problemas financeiros já existentes que se traduzem num passivo de 225 milhões de euros, segundo afirmou recentemente Élio Maia

Bem que se demonstra a nossa razão, desde que propusemos a Élio Maia, vai fazer breve um ano, a extinção das empresas municipais. No partido da Nova Democracia, temos vindo a lutar por esta causa. Em inícios deste ano, o nosso vice-presidente João Almeida Garrett endereçou cartas a todos os municípios do país, a inquirir todos os Presidentes sobre a situação das empresas municipais visando a extinção das mesmas.

Nada satisfeitos pela falta de respostas obtidas no distrito de Aveiro, recentemente enviámos novas cartas aos presidentes das câmaras de Albergaria-a-Velha, Aveiro, Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Sever do Vouga, onde existem empresas municipais constituídas, desta vez assinadas por Jorge Ferreira, número um da lista ao PND por Aveiro nas últimas legislativas. Na carta tornada pública, fazem-se três perguntas sobre a «identificação de todas as empresas municipais existentes no concelho, data de constituição e respectivo objecto social; identificação dos actuais membros dos respectivos órgãos sociais e seus vencimentos e demais regalias auferidas devido ao exercício das funções e o último valor conhecido do deficit ou do superavit das respectivas contas».

Também tornámos público, que se não obtivermos respostas às cartas recorreremos a Tribunal. Mais do que nunca entendemos que não podemos continuar a assistir de braços cruzados aos descalabros municipais que se averiguam em cada dia. As empresas públicas, constata-se, salvo raríssimas excepções, mais não têm servido do que satisfazer clientelas partidárias, sem quaisquer objectivos de benefício social sério, o que as torna inúteis, parasitas e acumuladoras das dívidas municipais.

Infelizmente Aveiro também caiu nas garras desta realidade que tanto repudio nos causa. Lutaremos pela sua extinção até ao fim. Não queremos continuar a pagar directa ou indirectamente com os nossos impostos o sustento do que nada produz. Aveiro se nos apoiar, sairá a ganhar. Temos de definitivamente deixar o “queimar para ver” e passar a ver para não queimar!
(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

segunda-feira, outubro 09, 2006

Dívidas sem fim

A Empresa do Estádio Municipal de Aveiro (EMA) tem uma dívida de seis milhões de euros, relativa ao Imposto Municipal de Imóveis (IMI), de acordo com o vereador Pedro Ferreira, do pelouro das Finanças.
"Não sei quem se lembrou de fazer uma empresa daquela forma", disse o vereador, na última reunião da Assembleia Municipal (AM), acrescentando, na resposta a uma observação de um vogal do PS, que continuam a chegar facturas por pagar e que, ao contrário do que às vezes tem sido dito, "nem toda a dívida é relativa a obra".
Ao fim de quase um ano de mandato da Câmara de maioria PSD-CDS/PP, ainda ninguém sabe, verdadeiramente, (nem a maioria nem a oposição) qual é a situação financeira da autarquia. Nem quanto deve.
no Jornal de Notícias, via Jorge Ferreira, no Aveiro, que acrescenta:
«não sei como é que não ocorreu a ninguém extinguir a empresa. Esta e as outras que, está provado, só servem para dar ordenados a clientes locais dos partidos sem poiso e disfarçar, esconder, ocultar dívida.»

Ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, outubro 08, 2006

The Awakening

linkada à belíssima colecção do amigo Raul

Porquê

Porque procuro o mar revolto
se tenho rios dourados a meus pés?
Porquê
Porque não sabendo de ti
sei bem quem és?
Porquê

Porque tanto penso na morte
se a vida agora começou?
Porquê
Porque não dura o tempo
quando sei para onde vou?
Porquê

Porque percorro atalhos tortuosos
se tenho auto estrada só para mim?
Porquê
Porque dizes que não
sabendo sim?
Porquê

Augusta Almeida

sábado, outubro 07, 2006

As palavras interditas

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,

uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.

Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.

As palavras que te envio são interditas até,

meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,

dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.

Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, outubro 06, 2006

Independencia Nacional

Não conheço nenhum país do mundo, decente, civilizado e evoluído, que não comemore a data da sua independência. Nós podemos até não comemorar a data do nosso aniversário, mas sabemos de cor o dia em que nascemos. Aposto que se perguntassem numa sondagem aos portugueses a data em que Portugal nasceu, as respostas seriam lamentáveis.

Em Portugal não é assim. Ninguém comemora a data em que passámos a ser independentes. Essa data é 5 de Outubro de 1143. Comemora-se nesse dia a implantação da República e comemora-se muito bem. Eu sou republicano, embora não me agrade a forma reumática e quase indiferente como a República é comemorada a 5 de Outubro, com discursos na Praça do Município na varanda do edifício onde ela foi proclamada, romagens ao cemitério do Alto de São João e uma coroa de flores na estátua de António José de Almeida. A República merecia mais e melhor.
Continue a ler, por Jorge Ferreira, no Aveiro

Sentidos Inconscientes

Nada consola mais o autor de um romance do que descobrir as leituras nas quais não havia pensado e que lhe são sugeridas pelos leitores... Não digo que o autor não possa descobrir uma leitura que lhe pareça aberrante, mas em todos os casos deveria calar-se: que os outros a contestem, texto em punho. De resto, a grande maioria dos leitores faz-nos descobrir efeitos de sentidos nos quais não havíamos pensado. Mas o que significa o facto de não termos pensado naquilo?
Umberto Eco
in Apostilha ao «Nome da Rosa»

quinta-feira, outubro 05, 2006

Boas Memórias

5 de Outubro de 1143
Oficialização da fundação de Portugal, pelo Tratado de Zamora
5 de Outubro de 1910
Implantação da República

Veja aqui o significado dos símbolos e das cores da bandeira nacional

O verde simboliza a esperança.

O vermelho simboliza a coragem e o sangue dos portugueses mortos em combate.



terça-feira, outubro 03, 2006

Confiança

O que é bonito neste mundo, e anima,

É ver que na vindima

De cada sonho

Fica a cepa a sonhar outra aventura...

E que a doçura que se não prova

Se transfigura

Numa doçura

Muito mais pura

E muito mais nova...

Miguel Torga

As sete diferenças entre Portugal e Espanha

Todos sabem o quanto renego a ideia de pensar Portugal dependente de Espanha, quanto mais pensar que existem portugueses que até são a favor que Portugal se una numa só nação Ibérica com os espanhóis! Se tal viesse a acontecer um dia, cairia por terra o que me resta de esperança neste povo e creio que a desilusão seria de tal ordem que mais valeria emigrar.

Ao longo da minha vida profissional, a Espanha tem-se atravessado nas minhas relações comerciais como parceiro de negócios, inevitavelmente. Conheço bem o país de norte a sul, assim como as ilhas e é com algum à vontade que posso dizer que conheço também a forma de estar dos espanhóis na sociedade civil e na vida política.

Apesar de ser um assunto mais que batido, a problemática da dependência cada vez maior do nosso país em relação à Espanha continua a estar na ordem do dia. Ouso assim uma reflexão para enunciar entre muitas, as sete principais diferenças que me parecem existir entre os dois países, fazendo com que um avance gerando riqueza e progresso e outro, infelizmente o nosso, permaneça estagnado e dependente:

Primeira – A Espanha é monárquica. Eu sou sem dúvidas republicana, mas reconheço que a monarquia tem os seus lados positivos para uma nação, especialmente quando comparada com regimes semi-presidencialistas como o nosso. O estado espanhol poupa na despesa de ter um Presidente com a respectiva máquina de assessorias, que em grande parte só servem para cortesias de estado, “corta-fitas” e alimentação de revistas e artigos “cor-de-rosa”. A Espanha tem um Rei e uma Casa Real que se alimentam por conta própria, alimentando ainda as necessidades do povo em termos de simbolismo patriótico.

Segunda – Os impostos. Em Espanha, a sobrecarga fiscal dos cidadãos e das empresas é substancialmente menor que a nossa. Isto quer dizer que o estado espanhol cobra muito menos impostos e ao que se sabe presta melhores serviços. Quer seja por melhor organização, menor despesa de estado ou maior rentabilidade, a verdade é que o estado espanhol vive proporcionalmente com muito menos que o nosso, dando melhor qualidade de vida aos seus cidadãos.

Terceira – Salário mínimo e custo de vida. Como sabemos os salários em Espanha são muito superiores aos nossos e dado que o seu custo de vida não é na mesma proporção superior ao nosso, esta situação permite um bem-estar que em Portugal não existe.

Quarta – Rentabilidade. Decorrente por certo do ponto anterior, a rentabilidade da economia espanhola é muito superior à nossa. Os trabalhadores fazem em média menos horas de serviço com maior salário e o empreendedorismo das empresas espanholas é muito superior ao das nossas empresas.

Quinta – Inovação. Em Espanha não se brinca à inovação nem se põe planos tecnológicos em andamento sem objectividade. A inovação é uma constante na vida do estado e das empresas. A inovação faz parte do modo de vida e não existe a necessidade do estado desperdiçar avultadas verbas com campanhas publicitárias só para dizer que inova, porque em Espanha inova-se naturalmente.

Sexta – Agricultura e pescas. Apesar da Espanha estar integrada na União Europeia, não deixou de dar atenção e prevalecer os sectores primários da economia. A Espanha continua a impor-se no sector das pescas, mesmo usufruindo de quotas que outrora pertenceram a Portugal e a sua agricultura continua protegida. Basta fazer uma viagem pelo sul e todos constatamos a diferença que são as terras ao abandono no Alentejo e Algarve comparadas com as terras cultivadas logo que passamos as fronteiras.

Sétima - Auto-confiança. Os espanhóis apesar dos vários problemas de segurança que predominam na sociedade em relação à ETA e aos grupos separatistas, vivem com muito mais auto-confiança do que nós, fazem mais férias fora de casa, e têm uma alegria de viver que já não encontramos de forma geral nos portugueses.

Há pois que equacionar correctamente porque evoluem mais os espanhóis do que nós. Não passará apenas o problema por estratégia política? Deveremos continuar a invejá-los, a querer ser tomados por eles? Ou pelo contrário deveremos começar a aprender a pôr “mãos à obra” e a corrigir o que vai mal?

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Arte

«A arte situa-se no intervalo, fino como a pele, que separa a verdade da mentira»
Monzaemon Chikamatsu
Japão[1653-1724], Dramaturgo

domingo, outubro 01, 2006

Cântico azul-marinho e verde-esperança

Cansam-me as mentes austeras

cingidas pela robustez

de interesse por várias esferas.

E espanta-me a insensatez

de quem louva a austeridade,

fruto da incapacidade

para um pensamento aberto,

que, perante o que é incerto,

esconde a dúvida no erro

que é condenar-se ao desterro

de cumprir uma matriz

e com isso ser feliz.

Quero quem tenha do humano

a maior sabedoria,

para lidar, mano a mano,

com a vida do dia a dia,

que não vem num manual

- tantas são as variáveis -,

pelo que é essencial

que, de todos os notáveis,

ganhe quem saiba da alma

da gente que, de uma vez,

conseguiu levar a palma,

contra um fado português

cantado por outro austero,

de corpo e de pensamento,

que, com pulso rude e fero,

fez do país monumento

ao silêncio, ao medo, à morte.

Não quero quem me lembre de tal sorte,

quem confine a uma baía o mar da vida,

insistindo numa rota já batida

que leva a um só cais,

num mar cinzento e frio, sem risco ou chama.

Quanto aos demais,

lá, onde mora o sonho e a alma se derrama

por horizontes há tanto desejados,

são cais esquecidos, são portos ignorados

pela barca de um só rumo, cega e surda

às vozes que, na amurada, se levantam,

quando o vento da vontade nasce e muda

o rumo e a rima dos versos que ao mar cantam.

Por isso, a esses cais não vai qualquer navio.

Só vai o que não teme o desafio

de inscrever no voo das gaivotas

a rima de outros versos, a espuma de outras rotas

que nunca o céu de chumbo encobriu.

Por que voltar à cinzenta rota antiga,

se há tanto azul no mar e verde na cantiga

e a vontade de cantar não se extinguiu?

in Ideias em desalinho

(imagem: “Seagull” - Ian Britton – FreeFoto.com)

Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

Florbela Espanca