Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
Fernando Pessoa
3 Comments:
Adoro esse poema!
Adoro Fernando Pessoa! :)
Olá Susana:
Costuma dizer-se que é nas coisas mais simples que encontramos a verdadeira beleza.
Pessoa tinha esse condão, tornar bela a mensagem... e duma forma simples.
Um abraço,
Este é um poema que eu também adoro. Aliás, tenho-o publicado no meu blogue OLHÓ SOL em www.sol.sapo.pt/blogs/averissimo.
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