quarta-feira, outubro 18, 2006

Horizonte

O mar anterior a nós, teus medos

Tinham coral e praias e arvoredos.

Desvendadas a noite e a cerração,

As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério

'Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa

Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;

Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:

E, no desembarcar, há aves, flores,

Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esp'rança e da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte

Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa

5 Comments:

At 8:29 da manhã, Blogger hfm said...

Que nos reste Fernando Pessoa para nos aliviar do que por aí vai; talvez, por isso, ele, como alguns (poucos) outros serão eternos.

 
At 9:10 da manhã, Blogger da. said...

..e tantas são as vezes que até mesmo a linha do horizonte nos recusa o sonho...

 
At 11:03 da manhã, Blogger isabel mendes ferreira said...

a flor.



a tua.



beijos.

 
At 3:35 da tarde, Blogger veritas said...

Olá!

É de facto um magnífico poema da "Mensagem", um hino aos nossos descobridores, algo mais para nos orgulharmos além do futebol de que toda a gente fala. Intemporal!

Bjs.

 
At 9:18 da tarde, Blogger mfc said...

A gente não se cansa de beber Pessoa!

 

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