terça-feira, outubro 03, 2006

As sete diferenças entre Portugal e Espanha

Todos sabem o quanto renego a ideia de pensar Portugal dependente de Espanha, quanto mais pensar que existem portugueses que até são a favor que Portugal se una numa só nação Ibérica com os espanhóis! Se tal viesse a acontecer um dia, cairia por terra o que me resta de esperança neste povo e creio que a desilusão seria de tal ordem que mais valeria emigrar.

Ao longo da minha vida profissional, a Espanha tem-se atravessado nas minhas relações comerciais como parceiro de negócios, inevitavelmente. Conheço bem o país de norte a sul, assim como as ilhas e é com algum à vontade que posso dizer que conheço também a forma de estar dos espanhóis na sociedade civil e na vida política.

Apesar de ser um assunto mais que batido, a problemática da dependência cada vez maior do nosso país em relação à Espanha continua a estar na ordem do dia. Ouso assim uma reflexão para enunciar entre muitas, as sete principais diferenças que me parecem existir entre os dois países, fazendo com que um avance gerando riqueza e progresso e outro, infelizmente o nosso, permaneça estagnado e dependente:

Primeira – A Espanha é monárquica. Eu sou sem dúvidas republicana, mas reconheço que a monarquia tem os seus lados positivos para uma nação, especialmente quando comparada com regimes semi-presidencialistas como o nosso. O estado espanhol poupa na despesa de ter um Presidente com a respectiva máquina de assessorias, que em grande parte só servem para cortesias de estado, “corta-fitas” e alimentação de revistas e artigos “cor-de-rosa”. A Espanha tem um Rei e uma Casa Real que se alimentam por conta própria, alimentando ainda as necessidades do povo em termos de simbolismo patriótico.

Segunda – Os impostos. Em Espanha, a sobrecarga fiscal dos cidadãos e das empresas é substancialmente menor que a nossa. Isto quer dizer que o estado espanhol cobra muito menos impostos e ao que se sabe presta melhores serviços. Quer seja por melhor organização, menor despesa de estado ou maior rentabilidade, a verdade é que o estado espanhol vive proporcionalmente com muito menos que o nosso, dando melhor qualidade de vida aos seus cidadãos.

Terceira – Salário mínimo e custo de vida. Como sabemos os salários em Espanha são muito superiores aos nossos e dado que o seu custo de vida não é na mesma proporção superior ao nosso, esta situação permite um bem-estar que em Portugal não existe.

Quarta – Rentabilidade. Decorrente por certo do ponto anterior, a rentabilidade da economia espanhola é muito superior à nossa. Os trabalhadores fazem em média menos horas de serviço com maior salário e o empreendedorismo das empresas espanholas é muito superior ao das nossas empresas.

Quinta – Inovação. Em Espanha não se brinca à inovação nem se põe planos tecnológicos em andamento sem objectividade. A inovação é uma constante na vida do estado e das empresas. A inovação faz parte do modo de vida e não existe a necessidade do estado desperdiçar avultadas verbas com campanhas publicitárias só para dizer que inova, porque em Espanha inova-se naturalmente.

Sexta – Agricultura e pescas. Apesar da Espanha estar integrada na União Europeia, não deixou de dar atenção e prevalecer os sectores primários da economia. A Espanha continua a impor-se no sector das pescas, mesmo usufruindo de quotas que outrora pertenceram a Portugal e a sua agricultura continua protegida. Basta fazer uma viagem pelo sul e todos constatamos a diferença que são as terras ao abandono no Alentejo e Algarve comparadas com as terras cultivadas logo que passamos as fronteiras.

Sétima - Auto-confiança. Os espanhóis apesar dos vários problemas de segurança que predominam na sociedade em relação à ETA e aos grupos separatistas, vivem com muito mais auto-confiança do que nós, fazem mais férias fora de casa, e têm uma alegria de viver que já não encontramos de forma geral nos portugueses.

Há pois que equacionar correctamente porque evoluem mais os espanhóis do que nós. Não passará apenas o problema por estratégia política? Deveremos continuar a invejá-los, a querer ser tomados por eles? Ou pelo contrário deveremos começar a aprender a pôr “mãos à obra” e a corrigir o que vai mal?

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

6 Comments:

At 2:52 da tarde, Blogger Elise said...

Muito interessante Susana.
Se calhar a competição saudável entre as várias regiões espanholas promoveu esta evolução. Por aqui... não há competição!

"Eu sou sem dúvidas republicana, mas reconheço que a monarquia tem os seus lados positivos para uma nação, especialmente quando comparada com regimes semi-presidencialistas como o nosso."

Concordo. :)

bjos!

 
At 10:38 da tarde, Blogger AC said...

Perspectiva-se a união económica com a Espanha lá para 2020, se até lá este sítio ainda se aguentar e, se os espanhóis ainda nos quiserem, ou se até lá, já não tiverem comprado tudo o que por aqui há.

Em boa verdade, gosto do nosso país, muito, mas os portugueses fizeram dele a lástima que conhecemos. Fingiremos então que somos portugueses e independentes.

Até lá, é fartar!
Cpts

 
At 12:59 da manhã, Blogger Migas (miguel araújo) said...

Viva Susana
Vamos por partes e espero não me alongar muito.
Já tinha lido atentamente o seu artigo no DA.
Primeiro, permita-me que acrescente mais dois aspectos que me parecem igualemnet relevantes.
8. O ensino. Mais bem enquadrado, mais eficaz. Daí que muitos procurem espanha, principalmente, a nível superior e já nem só ligada à medicina.
9. A sociedade. Muito mais bem estruturada e assente em prncípios basilares. Seja a nivel social, político, cultural e desportivo, por exemplo.

Portanto, como vê e como muito bem referiu, não vejo qual a crise existencial que profere em sermos espanhóis?!
Está no nosso sangue, minha cara. Está a esquecer a nossa própria história. Lembra-se que o D. Afonso Henriques "bateu" na mãe e fugiu para o Sul?! Tudo ocorreu lá em cima, em terras de Guimarães. As tais terras do condado portucalense.
Curioso é que muitos poucos são os que recordam o dia 5 de Outubro como o dia da nacionalidade, como muito bem refere o João Oliveira (embora por razões ideológicas). Foi nesta data, no ano de 1143, que "nasceu" Portugal. Ou, se mais gostar, nos separámos de castela (Espanha).
Por isso é que ainda hoje o lamenamos. Estávamos muito melhor.
Pois no meu caso pessoal, por tudo o que enunciou e eu tive o desplante de acrescentar, muito me gostaria ser Luso-Galaico.
Para além da questão social e económica, é de uma riqueza cultural e histórica verdadeiramente deslumbrante e apixonante.
Repense minha cara. Vai ver que não se arrependerá.
Nós é que renegámos a nossa génese.
Cumprimentos Ibéricos

 
At 11:12 da tarde, Anonymous Nuno said...

Portugal>Espanha

Portugal tem uma historia muito melhor que a Espanhola pois nós demos-lhes um enxerto de Porrada! Em batalhas como Aljubarrota, Toro e Atoleiros, etc...

 
At 7:41 da manhã, Blogger Paulo Sousa said...

Minha querida Susana, permita-me chamá-la assim.
Sou descentente luso hispano italiano.
Mas a minha alma sempre foi portuguesa.
Foi e é.
Apesar de ter nascido no Brasil creio que o Brasil ainda há de ser um grande Portugal.
O Brasil foi o melhor feito português.
Não sou monarquista. Isso é coisa do passado. Sou Replubicano. Quando meu pai chegou nesta terra vindo de Portugal trouxe o cheiro da imigração. Três meses num navio sem tomar banho. Trabalhou 50 anos sem férias. Paguei-lhe a primeira viagem de passeio em Portugal e apaixonei-me pelo modo como os portugueses são.
Meus filhos nascidos no Brasil são também testemunhas da beleza da terra e do povo luso.
Levei-os a Portugal. E tenho sempre comigo a lembrança dos meus avós e tios que sempre honraram a forma de serem portugueses.
O meu avô espanhol. Bem essa história preciso reiventá-la. Fica para a próxima reencarnação.
Um grande abraço a pátria portuguesa que também é minha.
Paulo Sousa

 
At 7:42 da manhã, Blogger Paulo Sousa said...

Minha querida Susana, permita-me chamá-la assim.
Sou descentente luso hispano italiano.
Mas a minha alma sempre foi portuguesa.
Foi e é.
Apesar de ter nascido no Brasil creio que o Brasil ainda há de ser um grande Portugal.
O Brasil foi o melhor feito português.
Não sou monarquista. Isso é coisa do passado. Sou Replubicano. Quando meu pai chegou nesta terra vindo de Portugal trouxe o cheiro da imigração. Três meses num navio sem tomar banho. Trabalhou 50 anos sem férias. Paguei-lhe a primeira viagem de passeio em Portugal e apaixonei-me pelo modo como os portugueses são.
Meus filhos nascidos no Brasil são também testemunhas da beleza da terra e do povo luso.
Levei-os a Portugal. E tenho sempre comigo a lembrança dos meus avós e tios que sempre honraram a forma de serem portugueses.
O meu avô espanhol. Bem essa história preciso reiventá-la. Fica para a próxima reencarnação.
Um grande abraço a pátria portuguesa que também é minha.
Paulo Sousa

 

Enviar um comentário

<< Home