sexta-feira, agosto 29, 2008

Quando o crime bate à porta…

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro

É duro, mesmo muito duro. Hoje, em Portugal, o crime passou a ser notícia da ordem do dia. Mas mais do que em telejornais, rádios, jornais ou internet, mais profundo do que ler, ver ou ouvir, é SENTIR. É sentir o crime, quando fomos o alvo, ou quando atingiu os nossos familiares mais próximos ou os nossos amigos.

E hoje, já ninguém está seguro, todos nós já fomos vítimas, ou temos alguém muito próximo que o foi. Apenas no prazo de uma semana, no meu restrito círculo de vivências, posso dar conta de um familiar muito próximo que foi assaltado em plena tarde de sábado, na estação de General Torres, em Vila Nova de Gaia; de um vizinho que encontrou a fechadura da porta de casa estroncada e os haveres roubados; de um amigo a quem assaltaram o carro, a par de mais três viaturas, que se encontravam todas em frente da minha casa.

Dá para arrepiar. O aumento do crime não é uma miragem, como alguém já nos quis fazer parecer, e o profissionalismo do crime é assustador. Está em causa a quantidade de crimes que ocorrem, mas também, a forma como os crimes ocorrem. A forma do crime está a mudar, as «performances» que se constatam nos crimes são aterradoras, deixando as pessoas impotentes para poderem fazer frente ao criminoso.

Face a esta conjuntura, que de ocasional passou a ser quotidiana, que de virtual passou a ser real, que de ligeira passou a ser brutal, não serve a promulgação do Presidente da República das polémicas leis da Segurança Interna e da Organização e Investigação Criminal, ambas aprovadas no Parlamento com os votos favoráveis da maioria socialista, onde entre outras, figura a nova redacção da Lei da Segurança Interna, com a nomeação do secretário-geral de Segurança Interna - cargo ainda não ocupado e que irá funcionar na dependência directa do primeiro-ministro - que passa a ser antecedida de audição no Parlamento.

A concentração de poderes para o Estado, só se torna benéfica se esse Estado demonstra credibilidade, o que não vem acontecendo em Portugal há longos anos. Assim, torna-se duvidoso o excessivo peso do Estado no actual edifício da Administração Interna. Da mesma forma que não bastam boas vontades, ou apenas “sugestões”, como o Procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, diz que vai anunciar, para «melhor combater a criminalidade especialmente violenta».

Perante este aumento imparável desta “orgia” de criminalidade, não constatamos que esteja a ser salvaguardado o principal objectivo das leis do crime, que, adequadamente, serviriam para dissuadir os criminosos. A lei, já não cumpre a sua principal função, e quando assim acontece, mais do que “sugestões” são necessárias mudanças. Não se pode continuar a aligeirar penas de prisão, de criminosos recorrentes, como vem acontecendo nos últimos anos, e não se pode colocar em liberdade, pessoas que para além de tratamento “VIP” em algumas prisões, custeado com o dinheiro dos impostos de todos nós, continuam a usufruir dos meios de comunicação social, como se de heróis nacionais se tratassem.

Vamos ainda mais além, e perante este aumento de “criminalidade violenta”, onde “assaltar à mão armada” ou “balear à queima-roupa”, passaram a ser rotina, há que equacionar se em Portugal continuará a ser possível fugir à prisão perpétua como pena máxima, quando a mesma não deixou de ser adoptada em países desenvolvidos como a Inglaterra, a França, a Itália, a Alemanha, a Suíça, a Finlândia, o Canadá ou na maior parte dos estados, dos Estados Unidos. E para que melhor se entenda a nossa questão, é bom realçar que estamos a falar, de países desenvolvidos e com longa tradição de respeito aos direitos humanos, e que constatamos em todos eles, que a pena máxima é superior à prevista no nosso país. Em todos eles, a progressão de regime prisional, quando ela existe, requer um tempo bem mais dilatado que em Portugal. Vejamos que em todos eles, o Juiz PODE OU NÃO deferir a progressão de regime prisional. A progressão não é um direito de todo o preso, mas sim um direito a ser aplicado em cada caso concreto.

«Mudam-se os tempos, mudam-se as exigências», e num tempo em que não se prevêem alterações positivas da degradação económica, financeira e social a que chegámos, mas antes, se enunciam em cada dia, “piores dias”, há que passar à acção. Se os crimes são cada vez mais violentos, as sanções terão de ser alteradas e adequadas à proporção da realidade presente, a bem de todos nós, e a favor da LIBERDADE de toda a pessoa de bem que a merece, já que para certos criminosos, pelos mais variados estímulos, ao que sabemos vale tudo, e o temor à lei, aos princípios, à família, ao Estado, ou mesmo a Deus, é algo que definitivamente não existe.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

quarta-feira, agosto 27, 2008

A Melhor Prova duma Real Amizade

A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam. Ainda que devendo muito aos que muito me louvam, eu não quero ser-lhes obrigada pela gratidão. Mas sim grata porque estou com eles, devido a circunstâncias que a todos nós agradam e são um laço mais entre nós, sem constituírem um dever. Eu pretendo dizer da amizade o que Diógenes dizia do dinheiro: que ele o reavia dos seus amigos, e não que o pedia. Pois aquilo que os outros têm pelo sentimento comum não se pede, é património comum. Neste caso, a Amizade.

Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'

quinta-feira, agosto 21, 2008

O que falta aos atletas portugueses?

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Provavelmente, falta aos atletas portugueses o mesmo que faz falta a Portugal. Os cidadãos de uma nação, sejam eles atletas, políticos, professores, operários, reformados, ou qualquer outra coisa, mais não representam no seu todo, do que o espelho dessa mesma nação.

Assim, podemos afirmar de um modo generalista, evidentemente, que se uma nação se afirma ao mundo de forma patriótica, triunfante, orgulhosa, combativa, corajosa, trabalhadora, empenhada, terá maiores probabilidades de gerar cidadãos imbuídos do mesmo espírito. Se por outro lado, e no seu extremo, nos depararmos com uma nação sem brio nacional, derrotada, dependente, decadente, medrosa, corrupta, displicente, existirão no seu limite, maiores dificuldades de gerar cidadãos imbuídos de força e espírito de vitória.

Não queremos com isto dizer, que não possam existir “excepções à regra”, elas existem, mas são sempre fruto de uma iluminação especial, de um qualquer ser humano muito especial, que pode ocorrer tanto para o bem, como para o mal. Portugal, por exemplo, já contou com atletas tão portentosos quanto Carlos Lopes, ou como Rosa Mota, que ainda se encontram bem presentes nas nossas memórias. Todavia, na verdade não passam de casos de tempos a tempos, isolados, fruto de espíritos de sacrifício transcendentes.

Sem nos envergonharmos dos atletas portugueses envolvidos nas presentes olimpíadas, até porque já contámos com algumas boas prestações, e mesmo com uma medalha de prata conquistada pela excelente triatleta do Benfica, Vanessa Fernandes, constatamos no entanto, que ficamos muito aquém dos objectivos apontados pelos responsáveis do Comité Olímpico de Portugal (COP). E já fruto desta desilusão, infelizmente, foram as consequências transmitidas pela comunicação social, que após manifestações públicas de desagrado, já levaram à ruptura inevitável de Vicente Moura, presidente do COP.

Sabendo nós que Portugal contou com a maior comitiva olímpica de sempre, e com as melhores condições proporcionadas, também percebemos à partida, e por experiência de causa, que a euforia que se gerou à volta desta mesma comitiva era extremamente exagerada, para uma nação que contando apenas com cerca de dez milhões de habitantes, nunca foi uma potência desportiva, e que acima de tudo nunca se preocupou em criar os estímulos educativos necessários, para o espírito de desenvolvimento e aperfeiçoamento físico dos seus atletas.

A educação de base de um povo, é essencial para um espírito de competição, que exige qualidades como o espírito de sacrifício, a persistência, o trabalho, o empenho e a dedicação, que nos dias de hoje não revemos espelhadas no nosso sistema educacional, e assim sendo, a falta de disciplina e de rigor que todos sentimos nas nossas escolas, desde a mais tenra infância, vedam à partida o desenvolvimento harmonioso e equilibrado de possíveis atletas, que por muito boas condições físicas que apresentem, sendo educados pela via do facilitismo e da falta de princípios imprescindíveis, acabam por nunca estar psicologicamente preparados para a alta competição.

Prova do que acabamos de afirmar, foram as próprias declarações da vice-campeã olímpica de triatlo, Vanessa Fernandes, que considerou que «Há atletas portugueses que desconhecem o significado de viver em alta competição. A alta competição não é brincadeira nenhuma. Não é fazer meia dúzia de provas, andar a receber uma bolsa e está feito. Muitos não vêem bem a realidade das coisas. Se calhar por termos facilidades a mais», criticou, e acrescentou ainda «Muitos não entendem o que é a alta competição: é como um trabalho. Tem de ser feito. Devemos trabalhar para o que fazemos. Há dificuldades em Portugal de entender isso».

Mais comentários para quê? As palavras da jovem atleta portuguesa de 22 anos, corroboram por si só, todo o “sentimento” deste ser português que hoje se acomoda no nosso país. E pior ainda, é que depois, sem esforço e sem um trabalho objectivo, a par das fantasias e das grandes euforias que acabam em nada, vêm sempre os grandes trambolhões. E assim vem vivendo Portugal.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

segunda-feira, agosto 18, 2008

O pior do Brasil em Portugal

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro

Crimes, prostituição, novelas e acordos ortográficos, são o que de pior Portugal importa do Brasil, através de uma permeabilização tão incontornável quanto permanente, destes factores de risco e de aculturação, que todos os dias nos entram no nosso país e nas nossas casas, com todas as conivências políticas e sociais que lhes são inerentes.

O Brasil, uma nação que por si só podia ser um continente, que se reserva a uma natureza única com belíssimas praias e florestas que são património da humanidade, é um país tão fascinante quanto controverso, tão belo quanto degradado, tão rico quanto pobre, tão grandioso pela sua história e pela sua cultura, quanto assimétrico na sua sociedade e na sua economia. E nós portugueses, que outrora partimos à sua descoberta e à sua conquista, agora guardamos deste país como recordação, os tempos idos, algumas boas férias para alguns, alguns investimentos para poucos, alguns familiares de muitos, alguma boa música, algum bom teatro, e alguma boa literatura à “moda antiga” nos dias de hoje já considerada clássica.

Invertem-se os tempos e as vontades, e se já fomos em grande massa portugueses emigrados para o Brasil, hoje passamos a receber todos os dias imigrantes brasileiros. E o mais negativo, é que mesmo existindo alguns imigrantes brasileiros em Portugal nos meios científicos, universitários, ou no investimento económico, a verdade é que a esmagadora maioria que por cá se instala, vem em condições degradantes ao ponto de por cá permanecer sem legalidade, e pior ainda, estabelecendo-se em actividades ilícitas.

Assim, as consequências são a curto prazo catastróficas, e são já no presente uma ameaça à nossa segurança e à nossa liberdade. Prova desta realidade, foi o assalto ao BES (Banco Espírito Santo) de Campolide em Lisboa, por dois sequestradores brasileiros armados, que ocorreu na semana passada, com um desfecho gravíssimo. E prova não menos grave, mas menos divulgada, por daí não terem resultado disparos, nem mortos nem feridos, foi o assalto ocorrido no passado sábado à noite ao talho Extracarnes, em Setúbal, por dois homens criminosos, igualmente de nacionalidade brasileira, que “limparam” cerca de dois mil euros da caixa registadora do estabelecimento, e em seguida deixaram fechadas na cave 11 pessoas (oito funcionários e três clientes), conforme notícia do jornal 24 Horas, apenas divulgada esta terça-feira aos meios de comunicação social.

É ainda de salientar, que estes dois assaltos aqui enunciados, ocorreram durante a mesma semana, e que apesar do menor mediatismo do segundo, a verdade é que os assaltantes conseguiram fugir e apesar da Polícia Judiciária estar a investigar o caso, segundo os relatos das testemunhas ao jornal 24 Horas, o profissionalismo dos criminosos não facilitará as investigações, pois um deles tinha a boca tapada e óculos escuros, enquanto o outro usava um carapuço na cabeça.

Assim, como se não nos bastassem as intermináveis novelas brasileiras com que nos deixam invadir os canais da televisão portuguesa, as inúmeras prostituas brasileiras espalhadas por todo o Portugal, os acordos ortográficos que em vez de privilegiarem o ensinamento do português ao brasileiros, desvirtuam a nossa língua portuguesa ajustando-a ao “abrasileirado”, ainda temos de suportar a “escola do crime brasileiro” que se instala no nosso país, passando à acção de forma rápida e eficiente, tornando-nos cada vez mais inseguros e mais fragilizados.

E a esmagadora maioria dos portugueses continua a “dormir ao sol”, e a não querer pensar nos políticos nem nas políticas. Continuem assim, enquanto é tempo, e até que infelizmente a desgraça lhes bata à porta!

(publicado na edição do Diário de Aveiro de 14-08-2008)

sexta-feira, agosto 08, 2008

A IV via da globalização

Com a devida vénia ao Diáriode Aveiro
Sem jamais olvidar a portentosa natureza universalista dos portugueses na descoberta e conquista de novos mundos, e simultaneamente sem falsos saudosismos ou pretensões de regressos ao passado, não podemos aceitar esta globalização desenfreada que o «sistema» nos impinge todos os dias, invadindo-nos a nossa liberdade nacional e a nossa privacidade pessoal, até mesmo porque já como todo o Mundo civilizado percebeu, para além de uma pretensiosa globalização, a mais não assistimos do que a uma derrota global.

Assim, com a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), vimos à partida, o rumo e o preço da nossa (des) integração económica, mas à «boa maneira» de novos ricos, consentimos o recebimento de subsídios chorudos para não produzir, e aceitamos milhões que em vez de se canalizarem para investir, foram antes esbanjados pelos caminhos certeiros do oportunismo dos bolsos de alguns. E na ilusão dos grandes eventos e das grandes obras nacionais, fomos andando e rindo, recebendo muito e fazendo pouco, inebriados pelo luxo das marcas europeias e pelos rótulos dos mercados mundiais que rapidamente nos invadiram.

Como tudo o que se desperdiça nada deixa semeado, chegámos ao momento em que para além de nada termos para colher, também chegámos ao ponto de ter esgotado os recursos para comprar. Vimos a nossa agricultura na senda da dita globalização, e ficámos sem agricultores e sem agricultura. Vimos a nossa indústria ser globalizada, e ficámos com industriais arruinados. Vimos o nosso comércio tradicional português transformado em comércio global, e deparamo-nos com a falência dos pequenos e médios comerciantes, que em Portugal, como todos inequivocamente sabemos, sempre representaram a base da sustentabilidade económica da nossa nação.

Hoje, para além de nos encontrarmos inseridos numa Europa federalista, defensora dos interesses capitalistas dos mais fortes, e distante dos ideais de desenvolvimento e fraternidade dos seus «pais fundadores», encontramo-nos enredados nas malhas duma globalização tão feroz, que vemos sugada até ao tutano a nossa liberdade e a nossa identidade, e deparamo-nos com a brutalidade de tudo o que é forçado, hoje designado pelo politicamente correcto «mundo global», desprovidos das nossas raízes, da nossa cultura e dos nossos valores.

Fruto de todo este percurso indevido, o edifício mundial começa a dar sinais de decadência, e começa a tornar-se evidente uma derrota global anunciada pelas crises de recursos naturais como o petróleo ou mesmo a água, pelas crises de alimentos de base tão importantes como os cereais, pelas recorrentes crises económicas e financeiras, ou ainda pelas constantes e inevitáveis crises de valores.

Todavia, os nossos governantes como nem com os erros dos outros conseguem aprender, continuam a insistir na IV via da globalização. Continuam a alimentar as suas vaidades, e a perder demasiado tempo a olhar-se ao espelho. Continuam sem tempo para olhar à sua volta, e ainda não querem perceber o que realmente nos está a acontecer.

Empreendem na alta tecnologia, mas não reparam que já não temos vacas leiteiras nem leite para consumir, preocupam-se com «aeroportos e tgv`s» que a poucos vão servir, e esquecem a recuperação das imensas linhas-férreas que deixaram ao abandono e que a tudo e a todos serviriam, fazem acordos ortográficos apressados e desconcertantes, e não olham a meios para atingir os fins. O problema é que nesta ganância desmedida, nos parece que nem dão conta do quanto nos estão a empobrecer economicamente e culturalmente.

Entramos definitivamente na IV via da globalização, onde já nem se respeita o nosso maior património de valor universal, representado pela nossa língua portuguesa, divulgada e valorizada em todos os cantos do Mundo. É inacreditável a leviandade como tudo se facilita, como tudo se aligeira, como tudo se adultera, se descaracteriza, e inevitavelmente se torna mais pobre.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)