quinta-feira, agosto 21, 2008

O que falta aos atletas portugueses?

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Provavelmente, falta aos atletas portugueses o mesmo que faz falta a Portugal. Os cidadãos de uma nação, sejam eles atletas, políticos, professores, operários, reformados, ou qualquer outra coisa, mais não representam no seu todo, do que o espelho dessa mesma nação.

Assim, podemos afirmar de um modo generalista, evidentemente, que se uma nação se afirma ao mundo de forma patriótica, triunfante, orgulhosa, combativa, corajosa, trabalhadora, empenhada, terá maiores probabilidades de gerar cidadãos imbuídos do mesmo espírito. Se por outro lado, e no seu extremo, nos depararmos com uma nação sem brio nacional, derrotada, dependente, decadente, medrosa, corrupta, displicente, existirão no seu limite, maiores dificuldades de gerar cidadãos imbuídos de força e espírito de vitória.

Não queremos com isto dizer, que não possam existir “excepções à regra”, elas existem, mas são sempre fruto de uma iluminação especial, de um qualquer ser humano muito especial, que pode ocorrer tanto para o bem, como para o mal. Portugal, por exemplo, já contou com atletas tão portentosos quanto Carlos Lopes, ou como Rosa Mota, que ainda se encontram bem presentes nas nossas memórias. Todavia, na verdade não passam de casos de tempos a tempos, isolados, fruto de espíritos de sacrifício transcendentes.

Sem nos envergonharmos dos atletas portugueses envolvidos nas presentes olimpíadas, até porque já contámos com algumas boas prestações, e mesmo com uma medalha de prata conquistada pela excelente triatleta do Benfica, Vanessa Fernandes, constatamos no entanto, que ficamos muito aquém dos objectivos apontados pelos responsáveis do Comité Olímpico de Portugal (COP). E já fruto desta desilusão, infelizmente, foram as consequências transmitidas pela comunicação social, que após manifestações públicas de desagrado, já levaram à ruptura inevitável de Vicente Moura, presidente do COP.

Sabendo nós que Portugal contou com a maior comitiva olímpica de sempre, e com as melhores condições proporcionadas, também percebemos à partida, e por experiência de causa, que a euforia que se gerou à volta desta mesma comitiva era extremamente exagerada, para uma nação que contando apenas com cerca de dez milhões de habitantes, nunca foi uma potência desportiva, e que acima de tudo nunca se preocupou em criar os estímulos educativos necessários, para o espírito de desenvolvimento e aperfeiçoamento físico dos seus atletas.

A educação de base de um povo, é essencial para um espírito de competição, que exige qualidades como o espírito de sacrifício, a persistência, o trabalho, o empenho e a dedicação, que nos dias de hoje não revemos espelhadas no nosso sistema educacional, e assim sendo, a falta de disciplina e de rigor que todos sentimos nas nossas escolas, desde a mais tenra infância, vedam à partida o desenvolvimento harmonioso e equilibrado de possíveis atletas, que por muito boas condições físicas que apresentem, sendo educados pela via do facilitismo e da falta de princípios imprescindíveis, acabam por nunca estar psicologicamente preparados para a alta competição.

Prova do que acabamos de afirmar, foram as próprias declarações da vice-campeã olímpica de triatlo, Vanessa Fernandes, que considerou que «Há atletas portugueses que desconhecem o significado de viver em alta competição. A alta competição não é brincadeira nenhuma. Não é fazer meia dúzia de provas, andar a receber uma bolsa e está feito. Muitos não vêem bem a realidade das coisas. Se calhar por termos facilidades a mais», criticou, e acrescentou ainda «Muitos não entendem o que é a alta competição: é como um trabalho. Tem de ser feito. Devemos trabalhar para o que fazemos. Há dificuldades em Portugal de entender isso».

Mais comentários para quê? As palavras da jovem atleta portuguesa de 22 anos, corroboram por si só, todo o “sentimento” deste ser português que hoje se acomoda no nosso país. E pior ainda, é que depois, sem esforço e sem um trabalho objectivo, a par das fantasias e das grandes euforias que acabam em nada, vêm sempre os grandes trambolhões. E assim vem vivendo Portugal.
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

1 Comments:

At 12:39 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Permita-me que lhe apresente os meus sinceros parabéns pela lucidez da análise. Mais um artigo com a excelência com que nos habituou.

Não há dúvida de que os nossos atletas, tal como os nossos governantes, os nossos quadros, e, principalmente, os nossos políticos - salvaguardando sempre aquelas excepções que confirmam a regra – são bem o reflexo da decadência a que esta Nação, com quase 900 anos de História gloriosa, chegou.

Faço votos sinceros de que nunca esmoreça na sua luta.

JSP

 

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