quinta-feira, maio 29, 2008

Que «frente» sairá do PSD?

Assim, vai a política em Portugal, sem alma, sem fogo, sem credibilidade. Seja qual for o próximo líder do PSD, estamos certos que não representará o elo de uma união consistente dos sociais-democratas, e que, infelizmente, este partido vai continuar a travar mais guerras internas, do que a trabalhar, como seria desejável, em propostas de séria oposição.
Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Saberemos já no próximo fim-de-semana, que liderança assumirá os destinos do maior partido da oposição em Portugal na actualidade. Ferreira Leite, Santana Lopes, Passos Coelho e Patinha Antão, são os candidatos, que, sem nada de novo para darem à política portuguesa, se apresentam nesta corrida desinteressante, que tem sido a participação dos mesmos na apresentação das suas ideias, ou melhor dizendo, das suas candidaturas.

Com quatro candidatos «de mais do mesmo», o PSD fica longe de representar uma esperança para Portugal, enquanto segundo maior partido português. Lamentavelmente, já que necessitávamos com urgência de «frentes» credíveis que constituíssem uma boa oposição a José Sócrates, e que fizessem já parte de uma alternativa para Portugal.

Manuela Ferreira Leite, passou inexplicavelmente das suas preocupações financeiras com o país, para as preocupações sociais, e o que constituiu uma atitude de pretenso aligeiramento de imagem, passou a representar uma fragilização da candidata que não sabe apresentar «substância» para o que pretende defender, e as suas intervenções enchem as plateias de tédio, presenciando-se os militantes a dormir. Pedro Santana Lopes, já mais que identificado no seu estilo populista, nada mais adianta ao seu «PPD/PSD» do que saudosismos de um passado, que como todos já perceberam, se tornou impossível de fazer regressar aos dias de hoje deste PSD, tornando a sua candidatura demagógica e sem ideias próprias. Passos Coelho, donde se esperava alguma renovação para o partido, acabou por assentar as suas diferenças na igualdade de propostas encostadas ao já gasto socialismo, e que em vez de mudança na social democracia, para combater o socialismo de Sócrates, se foi apresentando como um deslumbrado aprendiz do próprio Sócrates, traindo assim a confiança numa possível alternativa. Patinha Antão, com todo o respeito que possamos ter pelo seu esforço, não trouxe ilusões nem desilusões, não aqueceu, nem arrefeceu nada, no seio do PSD, que o mesmo é dizer que se tornou numa candidatura indiferente.

Assim, vai a política em Portugal, sem alma, sem fogo, sem credibilidade. Seja qual for o próximo líder do PSD, estamos certos que não representará o elo de uma união consistente dos sociais-democratas, e que, infelizmente, este partido vai continuar a travar mais guerras internas, do que a trabalhar, como seria desejável, em propostas de séria oposição.

Portugal está com a «corda na garganta», e a sociedade em geral, por um lado, e os políticos, por outro lado, só têm contribuído para uma dissociação tão grande de interesses, que as soluções para o país já quase não têm luz ao fundo do túnel. É urgente acenar bandeiras pretas de protesto, é urgente «gritar», é urgente não deixar passar despercebido o desencanto, a desilusão, a falta de esperança, e sobretudo o desespero de tantos e tantos portugueses, que asfixiam todos os dias numa doença que se está a tornar incurável, e que se chama nada mais nada menos do que «apatia». É apenas fruto do comodismo, e da falta de coragem, e estejamos certos que se o mundo vai mal, «nada nesta vida muda se não houver quem tente».

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

segunda-feira, maio 26, 2008

Em entrevista ao Diário de Aveiro

A mulher que ajudou a fundar um partido e agora quer criar outro
Severense Susana Barbosa não quer ser «mais do mesmo» na política portuguesa
Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
por Rui Cunha

«Não estou na política para ser mais do mesmo», diz Susana Barbosa, que ajudou a fundar o Partido da Nova Democracia e agora batalha por criar o Partido da Liberdade. Natural de Sever do Vouga, luta a partir de Aveiro por uma «nova direita» em Portugal

Em 2003 ajudou a fundar o Partido da Nova Democracia (PND); esgotada a sua participação no movimento de Manuel Monteiro, encabeça actualmente uma batalha por criar um novo partido com sede em Aveiro. Com 44 anos feitos no passado mês de Março, Susana Barbosa, natural de Rocas do Vouga, concelho de Sever do Vouga, não quer que o PND tenha sido o primeiro e último capítulo da sua história política pessoal. Diz sempre ter gostado de «intervir politicamente em sociedade», mas nunca até 2003 se filiara em algum partido. Fez programas na rádio, foi actriz de teatro nas companhias Seiva Trupe e Art`Imagem, escreveu artigos em jornais ou participou em debates. Mas «sempre como independente».

Até que, há cinco anos, iniciou a sua participação política activa integrada num partido, contribuindo para a constituição da Nova Democracia. «O meu papel na fundação do PND foi sem dúvida muito importante, porque para além de ter estado nas reuniões do projecto desde o início e de ter ajudado a recolher assinaturas, não só em Aveiro mas um pouco por todo o lado, fui a primeira pessoa a formar um núcleo a nível distrital e a trabalhar e a reunir com esse núcleo, e com Manuel Monteiro, mesmo antes do congresso fundador», disse ao Diário de Aveiro.

«Em derrapagem»

A sua permanência no PND acabou por ser pouco duradoura, em virtude de «divergências com a prática política» do líder nacional do partido, Manuel Monteiro, antigo presidente do CDS.

Susana Barbosa explica que a sua relação política com Manuel Monteiro «entrou em derrapagem» logo que começou a convivência partidária. «Desde cedo percebi que o seu discurso de ‘político de palco’ nada tinha a ver na prática com a forma como se comportava politicamente no trabalho em grupo e na forma como liderava o partido».

Logo após o congresso que ditou a fundação da Nova Democracia demitiu-se da direcção nacional por discordar da forma como foi constituída. «Menos de meio ano depois», porém, Manuel Monteiro reconheceu que «não conseguia fazer nenhum trabalho em Aveiro» e nomeou-a coordenadora distrital, cargo para que foi eleita em 2005 e reeleita em 2007, fazendo sempre parte de todas as direcções nacionais do PND.

No entanto, ressalva, sempre seguiu uma «linha distinta de trabalho em Aveiro», além de ter travado «várias batalhas a nível nacional» como a criação dos círculos eleitorais ou do Círculo da Juventude.

Finda a experiência no PND – onde não encontrou a «verdadeira direita» que diz defender – vira-se agora para a fundação de um novo movimento político: o Partido da Liberdade (PL).

«Não estou na política para ser mais do mesmo» e, como mulher que sempre encarou de frente as adversidades e as dificuldades de alcançar o que pretende, não hesitei em sair do PND quando Manuel Monteiro nos lançou o desafio, a mim em particular e a todos os que a ele se opunham, de constituir um novo partido», esclarece a empresária, licenciada em Comércio Internacional e pós-graduação em Estudos Europeus e Comunitários.

«Nova direita»

O sonho de Susana Barbosa é, através do PL, constituir «uma nova direita livre de preconceitos», resgatando algumas bandeiras habitualmente atribuídas de «forma enganosa» à esquerda, como «a defesa da cultura ou dos trabalhadores». «Este conceito está totalmente errado, porque a verdadeira direita e a direita dos princípios é uma direita do trabalho, atenta e defensora de todas as formas de expressão cultural do seu povo. A verdadeira direita jamais poderá ser uma direita dos capitalismos supérfluos ou dos elitismos bacocos», declara.

A severense adianta não se identificar com nenhum dos actuais partidos existentes em Portugal.

O «mal» da direita, sustenta, é «encaminhar-se sempre para liberalismos desenfreados e economicistas» com prejuízo de valores como os da família, da dignificação do trabalho e do mérito, da defesa das classes médias e dos trabalhadores. Susana Barbosa insurge-se contra «um país de ‘economia de casino’, onde a riqueza se encontra cada vez mais nas mãos de poucos, cavando assim um fosso brutal entre ricos e pobres».

É aqui que entra o PL, cujo nome foi escolhido com cuidado. «Neste momento sentimos mais do que nunca a asfixia da liberdade de expressão, da liberdade de iniciativa e do trabalho», adverte, criticando a confusão entre «liberdade com libertinagem», diferença que graças a uma «pressão psicológica latente», se tem acentuado desde o 25 de Abril. «Já afirmava Victor Hugo que tudo quanto aumenta a liberdade aumenta a responsabilidade, e esta verdade nem todos gostam de perceber», avalia.

Sempre votou

Também não é por acaso que o PL terá sede em Aveiro, já que, por «motivos políticos», se trata da «capital da liberdade». Por isso é que a primeira acção de rua do movimento teve início no Obelisco da Liberdade, um monumento de homenagem a aveirenses ilustres.

Sediar o partido em Aveiro tem um segundo propósito. «O facto de termos assente que a sede nacional será em Aveiro diferencia-nos à nascença dos demais partidos, que estão neste momento todos centralizados em Lisboa e que só vêem Portugal da capital para o resto do país».

Com um ciclo de eleições quase à porta – europeias, legislativas e autárquicas em 2009 –, Susana Barbosa ambiciona ver o PL inscrito nos boletins de voto já nesses próximos sufrágios. «O objectivo de qualquer partido é concorrer a eleições e tudo faremos para dizer presente em 2009», refere. Para isso é preciso, todavia, formalizar a constituição do partido. A recolha de assinaturas prossegue e, das 7.500 necessária, mais de um terço foi já obtido, revela.

Para trás ficam os tempos em que optava preferencialmente pelo voto em branco. Também votou no PSD e, nos últimos anos, no PND. Agora só pensa no PL e quer continuar a gabar-se de nunca ter faltado a um acto eleitoral.

O Diário de Aveiro procurou recolher a opinião de Manuel Monteiro sobre Susana Barbosa, mas em vão. Citado pela Agência Lusa há uns meses, Monteiro afirmou que «o direito de constituição de partidos é universal para qualquer cidadão», referindo que a saída de Susana Barbosa do PND «é tardia e corresponde ao sentimento da esmagadora maioria dos membros do partido, que não se identificavam com as suas tomadas de posição».
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

domingo, maio 25, 2008

Bomba atómica genética

O auge da genética tem de conhecer limitações, por muitos avanços científicos que intente propiciar. Confundir industrialização e avanço tecnológico com «aberrações», tal como a construção e aceitação do «homem grávido», é um atentado à natureza...
Coma devida vénia ao Diário de Aveiro
Foi dado esta semana, o crucial «pontapé de saída» para a elaboração da futura nova lei sobre fertilização humana e embriologia. Num debate parlamentar que ocorreu no Reino Unido, e que ficará registado na história da humanidade, os deputados britânicos decidiram numa votação de 336 votos a favor, contra 176, aprovar a geração de embriões mistos de humano e animal, o primeiro ponto crucial da futura nova lei sobre fertilização humana e embriologia.

Segundo publicação da passada segunda-feira, no Público, «os embriões híbridos podem ser de diversos tipos: “cíbridos”, obtidos introduzindo o núcleo de uma célula humana adulta (com todo o seu ADN) num ovócito de animal (de vaca) esvaziado do seu próprio núcleo; os embriões humanos transgénicos, obtidos inserindo genes animais em embriões humanos; as “quimeras”, obtidas introduzindo células animais num embrião humano – e os híbridos verdadeiros, cruzamentos de gâmetas (espermatozóides ou ovócitos) humanos e animais».

Ao longo do artigo, escrito por Ana Gerschenfeld, podem ler-se frases abonatórias em relação ao tema do tipo «a derradeira prova de abertura de espírito dos deputados» ou ainda «tanto o primeiro-ministro, Gordon Brown, como o seu concorrente directo, o líder dos conservadores David Cameron – e os muitos outros deputados que hoje votaram em consciência –, consideraram que não podiam deixar fugir a oportunidade de revolucionar a medicina humana».

Segundo esta jornalista do Público, apesar dela não o afirmar desta forma, enuncia-nos claramente a ideia de nos encontrarmos perante «o admirável mundo novo» já que ela mesma, não consegue relatar a notícia de forma objectiva e imparcial.

Apesar das salvaguardas do tipo «claro que os embriões só poderão ser fabricados se se provar previamente que a investigação para a qual vão contribuir é necessária e útil» ou ainda «E, seja qual for o tipo de embrião híbrido gerado, apenas será permitido desenvolverem-se durante 14 dias e nunca serão implantados no útero de uma mulher ou de um animal», percebemos como de forma obcecada avança a ciência universal, ultrapassando os limites da natureza e industrializando a própria vida, como se de um produto «standard» se tratasse.

Não colocando em causa, as grandes valias com que a investigação científica tem vindo a presentear a humanidade de forma construtiva, ao longo da história universal, há todavia, a necessidade urgente de delimitar fronteiras e limites à investigação desenfreada que não olha a meios para atingir os seus fins, invertendo valores e ultrapassando princípios de ética e de equilíbrio natural, no que concerne ao que de mais valioso o homem possui, que consiste na concepção do acto de criar a vida humana.

O auge da genética tem de conhecer limitações, por muitos avanços científicos que intente propiciar. Confundir industrialização e avanço tecnológico com «aberrações», tal como a construção e aceitação do «homem grávido», é um atentado à natureza e o mesmo que construir bombas atómicas genéticas, que mais não poderão desencadear do que a autodestruição do que possuímos de mais sagrado nesta vida: a bênção natural da nossa exclusividade enquanto seres humanos.
(publicado na edição de 23 de Maio do Diário de Aveiro)

sábado, maio 17, 2008

Novos-ricos, novos-pobres

Antes tínhamos novos-ricos, agora temos novos-pobres. E é tão grave a inversão material, quanto a inversão de princípios e valores que se implantou na nossa sociedade. Se antes havia a ideia de que se era rico porque se preservavam e valorizavam os patrimónios, e porque pela via do trabalho, da criatividade do investimento traduzida na «arte e engenho» e do mérito alcançado, hoje, espera-se sentado pela sorte para se ser rico, talvez por um euro-milhões, ou talvez por conseguir um simples telefonema, que acerte uma estúpida pergunta, de um desses programas cor de rosa que os «média» tanto gostam de apresentar, ficando-se rico num minuto!
Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Durante anos de esbanjamento de subsídios provenientes da União Europeia (UE), destinados à modernização, ao rejuvenescimento, e ao incremento da economia portuguesa, assistimos à rápida ascensão dos «novos-ricos», tanto de particulares como do estado, que receberam incentivos que canalizaram para investimentos pessoais, ao invés de reformularem a qualidade das suas empresas industriais, dos seus comércios, ou das suas explorações agrícolas, ou pior ainda, desviados do investimento público a que se destinavam. Como fruto de uma acumulação de anos de má gestão, de um país sem escrúpulos, sem valores, e sem rumo, quer ao nível de quem governa, quer ao nível de quem se deixa governar, assistimos neste momento em Portugal à ascensão dos «novos-pobres».

Antes tínhamos novos-ricos, agora temos novos-pobres. E é tão grave a inversão material, quanto a inversão de princípios e valores que se implantou na nossa sociedade. Se antes havia a ideia de que se era rico porque se preservavam e valorizavam os patrimónios, e porque pela via do trabalho, da criatividade do investimento traduzida na «arte e engenho» e do mérito alcançado, hoje, espera-se sentado pela sorte para se ser rico, talvez por um euro-milhões, ou talvez por conseguir um simples telefonema, que acerte uma estúpida pergunta, de um desses programas cor de rosa que os «média» tanto gostam de apresentar, ficando-se rico num minuto!

Transformámo-nos numa sociedade de «pobres culpados», onde já nem se apontam as faltas de oportunidades ou de exclusão social, como causas justas de luta contra a pobreza. Aceitam-se histórias de políticos corruptos ou de dirigentes oportunistas do sistema, de forma passiva e recorrente, como se de um novo episódio de telenovela se tratasse. Aceitam-se as falências das empresas ou das famílias, de forma entediada e adormecida, sem reparar que estamos a ser «enredados» por um sistema socioeconómico injusto, aliado a políticas públicas alimentadas por um ciclo vicioso de visões cada vez mais distorcidas da realidade.

Os «novos-ricos» são hoje os oportunistas deste sistema decadente e permeável à intromissão dos valores do facilitismo, e dos «abutres» que sobrevivem à custa deste apodrecimento social. Os «novos-pobres» são hoje provenientes das classes médias que até há bem pouco tempo possuíam vidas «estruturadas e estabilizadas», mas que se deixaram «afunilar», por um lado, pelas dificuldades do aumento generalizado do custo de vida, e por outro lado, pelo próprio assédio a soluções fáceis e sem futuro que o sistema lhes proporcionou, como o recurso ao «crédito num minuto» a taxas brutais e insuportáveis.

E toda esta situação se vai agravando em cada dia, sob cortinas tanto mais sofisticadas quanto mais gastas, até ao dia em que «o pano cai». Já não há como manter escondida a realidade, a crise está verdadeiramente instalada, e pior que tudo, a crise existe em Portugal, na Europa e no Mundo. O petróleo continua a aumentar, os cereais continuam a escassear e o desemprego só não aumenta todos os dias, porque os nossos desempregados emigram. O nosso país, que está sempre na cauda da cauda desta Europa, defendida pelos interesses dos mais ricos, e assim sendo fará sempre parte dos elos mais frágeis, e é a esta «sociedade» que temos de agradar, indo ao encontro dos valores que ela cultiva. Enquanto nós deixarmos, e enquanto ela conseguir ser poder!
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

quinta-feira, maio 15, 2008

Perseverança

«Todas as graças da mente e do coração se escapam quando o propósito não é firme.»
William Shakespeare
Inglaterra[1564-1616]
Dramaturgo/Poeta/Actor/Compositor

segunda-feira, maio 12, 2008

12 de Maio - Feriado Municipal em Aveiro

Dia da Princesa Santa Joana
Princesa de Portugal, filha do rei D. Afonso V e da rainha, sua mulher, D. Isabel.
Nasceu em Lisboa a 6 de Fevereiro de 1452; faleceu no Convento de Aveiro a 12 de Maio de 1490.

quinta-feira, maio 08, 2008

O défice da democracia portuguesa

Curioso ainda, é que mediante tão penalizador e vergonhoso estudo para Portugal, tão poucos comentadores políticos tenham pegado até à data neste assunto. Também não será difícil para o mais comum dos cidadãos, questionar porquê. – Será porque eles próprios se envergonham deste estudo? – Será porque a eles próprios lhes interessa não realçar ainda mais esta matéria? – Ou será apenas porque hoje em dia em Portugal, só temos comentadores políticos do próprio sistema a quem é permitido dar voz?
Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Um artigo publicado esta semana no Diário de Notícias, e também anunciado na RTP1 e na SIC sobre as conclusões da Demos, uma organização não governamental (ONG) britânica, que tem por principal objectivo "pôr a ideia democrática em prática" através, por exemplo, de estudos, coloca Portugal numa péssima posição face à qualidade da democracia portuguesa em relação aos vinte e cinco países da União Europeia (UE), analisados no estudo em questão.

Assim, é-nos dado a conhecer que a Demos divulgou no final do passado mês de Janeiro, um “top” de avaliação da qualidade democrática em 25 países da UE, denominado «Everyday Democracy Index» (EDI), cuja tradução possível adoptada, será «Index da Democracia Quotidiana», e que se tratou de uma avaliação minuciosa, envolvendo mais itens do que o normal em estudos deste género, não se ficando apenas pelos aspectos formais da democracia (como são as análises às eleições regulares), mas indo muito mais longe, avaliando até mesmo o empenho popular na solução democrática dos seus problemas e, por exemplo, a qualidade da democracia dentro das relações familiares.

Lamentavelmente, todavia já não seja surpreendente, o referido estudo através do seu EDI, constata que Portugal está em 21º lugar no que concerne à qualidade da sua democracia, ficando apenas à frente da Lituânia, da Polónia, da Roménia e da Bulgária.

Outros países que até há bem pouco tempo faziam parte do rígido «império soviético», e que só recentemente passaram a fazer parte da UE, encontram-se melhores classificados que Portugal segundo este “top”, empurrando para o fim das tabelas a democracia portuguesa, que acabou de completar 34 anos no passado dia 25 de Abril, e que só mesmo fechada dentro da Assembleia da República poderia merecer os rasgados elogios dos políticos de sempre, alheados da realidade «cá de fora», e fazendo de conta que os «cravos vermelhos» são suficientes para hastear bandeiras de democraticidade.

Trinta e quatro anos volvidos, percebe-se que mais difícil que fazer uma revolução, é colocar em prática os ideais dessa mesma revolução. E não seria necessário este estudo da Demos, para nós afirmarmos tantas vezes como é sabido, que esta democracia está doente, corrupta e decadente, e para insistentemente andarmos a fazer artigos e acções de alerta, e tantas, tantas vezes a bater na «mesma tecla» …

A vida cívica ou a democracia laboral, são variáveis onde ocupam lugares cimeiros países ao nível da Suécia ou da Dinamarca, ao invés de Portugal, e não será por acaso, que no que diz respeito à análise deste estudo aos «serviços públicos» especificamente, o nosso país seja mesmo acantonado para um 23º lugar, ainda pior que a média do 21º alcançada no seu todo, onde mais uma vez a Dinamarca lidera o “top”.

Curioso ainda, é que mediante tão penalizador e vergonhoso estudo para Portugal, tão poucos comentadores políticos tenham pegado até à data neste assunto. Também não será difícil para o mais comum dos cidadãos, questionar porquê. – Será porque eles próprios se envergonham deste estudo? – Será porque a eles próprios lhes interessa não realçar ainda mais esta matéria? – Ou será apenas porque hoje em dia em Portugal, só temos comentadores políticos do próprio sistema a quem é permitido dar voz?

É que de «democracia» neste país temos cada vez menos, e os resultados estão aí à vista desarmada, e de resto, não será por acaso que falamos de falta de liberdade… é que agora é a «ditadura» que está a «passar por aí» … só não quer ver quem é protegido do sistema, e infelizmente depois de maiorias absolutas são tantos. Mas se realmente queremos a qualidade da democracia que merecemos, a mudança está nas nossas mãos!

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

segunda-feira, maio 05, 2008

Mãe ainda e sempre...

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sexta-feira, maio 02, 2008

Temos jovens idosos?

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Temos conversado com jovens de todo o país, durante a recolha de assinaturas para o Partido da Liberdade (PL). Não nos surpreenderam pois, as declarações do Presidente da República, durante o seu discurso do passado dia 25 de Abril, relativamente ao alheamento dos jovens portugueses da política, e face ao desinteresse e descrédito que os mesmos demonstram pelos políticos.

Frequentemente encontramos jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos, dispostos a assinarem para a constituição do PL, mas que o não podem fazer porque não se encontram recenseados. E encontramos ainda outros jovens que dizendo que sim, que se encontram recenseados mas que não têm o cartão de eleitor no momento, e que mais tarde verificamos na validação das assinaturas com o Bilhete de Identidade, sendo também obrigatório o nº de eleitor para o efeito no requerimento, que o que afirmaram não corresponde à verdade e que realmente ainda não se encontram inscritos, por não constarem dos registos de recenseamento do Ministério da Administração Interna.

São situações embaraçosas e que nos entristece constatar, mas que infelizmente são reais em Portugal, e que para admiração de qualquer cidadão civilizado, acontecem numa democracia com trinta e quatro anos cumpridos!

Mas ainda mais incomodativo que o desinteresse pela política que verificamos nos jovens, é o descrédito que nutrem pela sociedade em geral e acima de tudo a falta de esperança que sentimos nas suas palavras e nos seus olhares. É constrangedor perceber a falta de motivação e de objectivos que se instalam em muitos jovens, alguns de formação superior, e que por vezes num desabafo acomodado ou revoltado, nos confrontam com a questão – que futuro nos espera?

Com perplexidade mais nos parecem «jovens idosos», e incrivelmente existem por vezes idosos mais jovens, que os próprios jovens. É claro que falamos de jovialidade da alma, do espírito empreendedor, das mentalidades inovadoras, da coragem, da força e da vontade e alegria de viver, que numa ordem natural das coisas, seria mais fácil encontrar num jovem de 25 anos a iniciar a vida profissional activa, do que num reformado de 75 anos, que ainda assim vemos a lutar por uma vida melhor.

Devemos pois interrogarmo-nos sobre o tipo de sociedade que estamos a ajudar a construir, e se o fizermos, facilmente entendemos que muitos valores se têm invertido e que muito terá de ser feito para alterar o que vai mal. Começando pelos próprios jovens que são o garante do futuro de todos nós, temos de assumir que eles «são o que são» muitas das vezes denominados de «geração rasca» por culpa de todos nós, os mais velhos que os ajudamos a educar, e por culpa do sistema que tornámos permeável a toda esta situação.

Tal como me dizia um velho amigo há uns dias, se quisermos deixar de «viver à rasca», temos de arregaçar as mangas e lutar em primeiro lugar, para educar os jovens mesmo nas dificuldades, em vez de passar o resto da vida a lamentar, que ainda com algumas facilidades, não passam de «geração rasca». Se entendermos que a vida são dois dias, amanhã será tarde, e a preciosa juventude dos dias de hoje será idosa.

(publicado na edição de ontem do Diário de Aveiro)