segunda-feira, maio 26, 2008

Em entrevista ao Diário de Aveiro

A mulher que ajudou a fundar um partido e agora quer criar outro
Severense Susana Barbosa não quer ser «mais do mesmo» na política portuguesa
Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
por Rui Cunha

«Não estou na política para ser mais do mesmo», diz Susana Barbosa, que ajudou a fundar o Partido da Nova Democracia e agora batalha por criar o Partido da Liberdade. Natural de Sever do Vouga, luta a partir de Aveiro por uma «nova direita» em Portugal

Em 2003 ajudou a fundar o Partido da Nova Democracia (PND); esgotada a sua participação no movimento de Manuel Monteiro, encabeça actualmente uma batalha por criar um novo partido com sede em Aveiro. Com 44 anos feitos no passado mês de Março, Susana Barbosa, natural de Rocas do Vouga, concelho de Sever do Vouga, não quer que o PND tenha sido o primeiro e último capítulo da sua história política pessoal. Diz sempre ter gostado de «intervir politicamente em sociedade», mas nunca até 2003 se filiara em algum partido. Fez programas na rádio, foi actriz de teatro nas companhias Seiva Trupe e Art`Imagem, escreveu artigos em jornais ou participou em debates. Mas «sempre como independente».

Até que, há cinco anos, iniciou a sua participação política activa integrada num partido, contribuindo para a constituição da Nova Democracia. «O meu papel na fundação do PND foi sem dúvida muito importante, porque para além de ter estado nas reuniões do projecto desde o início e de ter ajudado a recolher assinaturas, não só em Aveiro mas um pouco por todo o lado, fui a primeira pessoa a formar um núcleo a nível distrital e a trabalhar e a reunir com esse núcleo, e com Manuel Monteiro, mesmo antes do congresso fundador», disse ao Diário de Aveiro.

«Em derrapagem»

A sua permanência no PND acabou por ser pouco duradoura, em virtude de «divergências com a prática política» do líder nacional do partido, Manuel Monteiro, antigo presidente do CDS.

Susana Barbosa explica que a sua relação política com Manuel Monteiro «entrou em derrapagem» logo que começou a convivência partidária. «Desde cedo percebi que o seu discurso de ‘político de palco’ nada tinha a ver na prática com a forma como se comportava politicamente no trabalho em grupo e na forma como liderava o partido».

Logo após o congresso que ditou a fundação da Nova Democracia demitiu-se da direcção nacional por discordar da forma como foi constituída. «Menos de meio ano depois», porém, Manuel Monteiro reconheceu que «não conseguia fazer nenhum trabalho em Aveiro» e nomeou-a coordenadora distrital, cargo para que foi eleita em 2005 e reeleita em 2007, fazendo sempre parte de todas as direcções nacionais do PND.

No entanto, ressalva, sempre seguiu uma «linha distinta de trabalho em Aveiro», além de ter travado «várias batalhas a nível nacional» como a criação dos círculos eleitorais ou do Círculo da Juventude.

Finda a experiência no PND – onde não encontrou a «verdadeira direita» que diz defender – vira-se agora para a fundação de um novo movimento político: o Partido da Liberdade (PL).

«Não estou na política para ser mais do mesmo» e, como mulher que sempre encarou de frente as adversidades e as dificuldades de alcançar o que pretende, não hesitei em sair do PND quando Manuel Monteiro nos lançou o desafio, a mim em particular e a todos os que a ele se opunham, de constituir um novo partido», esclarece a empresária, licenciada em Comércio Internacional e pós-graduação em Estudos Europeus e Comunitários.

«Nova direita»

O sonho de Susana Barbosa é, através do PL, constituir «uma nova direita livre de preconceitos», resgatando algumas bandeiras habitualmente atribuídas de «forma enganosa» à esquerda, como «a defesa da cultura ou dos trabalhadores». «Este conceito está totalmente errado, porque a verdadeira direita e a direita dos princípios é uma direita do trabalho, atenta e defensora de todas as formas de expressão cultural do seu povo. A verdadeira direita jamais poderá ser uma direita dos capitalismos supérfluos ou dos elitismos bacocos», declara.

A severense adianta não se identificar com nenhum dos actuais partidos existentes em Portugal.

O «mal» da direita, sustenta, é «encaminhar-se sempre para liberalismos desenfreados e economicistas» com prejuízo de valores como os da família, da dignificação do trabalho e do mérito, da defesa das classes médias e dos trabalhadores. Susana Barbosa insurge-se contra «um país de ‘economia de casino’, onde a riqueza se encontra cada vez mais nas mãos de poucos, cavando assim um fosso brutal entre ricos e pobres».

É aqui que entra o PL, cujo nome foi escolhido com cuidado. «Neste momento sentimos mais do que nunca a asfixia da liberdade de expressão, da liberdade de iniciativa e do trabalho», adverte, criticando a confusão entre «liberdade com libertinagem», diferença que graças a uma «pressão psicológica latente», se tem acentuado desde o 25 de Abril. «Já afirmava Victor Hugo que tudo quanto aumenta a liberdade aumenta a responsabilidade, e esta verdade nem todos gostam de perceber», avalia.

Sempre votou

Também não é por acaso que o PL terá sede em Aveiro, já que, por «motivos políticos», se trata da «capital da liberdade». Por isso é que a primeira acção de rua do movimento teve início no Obelisco da Liberdade, um monumento de homenagem a aveirenses ilustres.

Sediar o partido em Aveiro tem um segundo propósito. «O facto de termos assente que a sede nacional será em Aveiro diferencia-nos à nascença dos demais partidos, que estão neste momento todos centralizados em Lisboa e que só vêem Portugal da capital para o resto do país».

Com um ciclo de eleições quase à porta – europeias, legislativas e autárquicas em 2009 –, Susana Barbosa ambiciona ver o PL inscrito nos boletins de voto já nesses próximos sufrágios. «O objectivo de qualquer partido é concorrer a eleições e tudo faremos para dizer presente em 2009», refere. Para isso é preciso, todavia, formalizar a constituição do partido. A recolha de assinaturas prossegue e, das 7.500 necessária, mais de um terço foi já obtido, revela.

Para trás ficam os tempos em que optava preferencialmente pelo voto em branco. Também votou no PSD e, nos últimos anos, no PND. Agora só pensa no PL e quer continuar a gabar-se de nunca ter faltado a um acto eleitoral.

O Diário de Aveiro procurou recolher a opinião de Manuel Monteiro sobre Susana Barbosa, mas em vão. Citado pela Agência Lusa há uns meses, Monteiro afirmou que «o direito de constituição de partidos é universal para qualquer cidadão», referindo que a saída de Susana Barbosa do PND «é tardia e corresponde ao sentimento da esmagadora maioria dos membros do partido, que não se identificavam com as suas tomadas de posição».
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)