sábado, setembro 30, 2006

Sobre a água

A água é frágil. A água é maleável. A água é no entanto portentosa.

Fonte de inspirações, a água. Sobrevivência. Insubstituível, a água.

"Mergulho" a fundo e interrogo-me, serão os meus princípios e as minhas verdades absolutas aliados ou inimigos da felicidade?

A água é frágil. A água é maleável. Mas a água é Vida.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Grandes verdades

Por Jorge Ferreira, no Aveiro, Chegou a Hora, deixa avisos que dão que pensar, também, aos aveirenses.

Em destaque, na publicação de hoje do Diário de Aveiro :

«É essa falta de credibilidade que gera a indiferença cívica, este estado de desinteresse em que os portugueses e genericamente o mundo ocidental vivem. Nada lhes importa, nada os preocupa, nada os motiva. Falta liderança»

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A não perder

“...Se me conseguires ouvir, nunca sintas medo, sou a escultura, sou o teu eco, eu apenas te quero dizer para não adicionares nem retirares nenhum pedaço de barro que me forma, porque já consigo falar contigo, sou por isso uma obra terminada, capaz de responder às tuas vibrações e por isso à tua necessidade interior...”
Pedro Figueiredo

A exposição “Geração em Linha” de Pedro Figueiredo foi produzida pelo Teatro Municipal da Guarda, que a expôs na sua Galeria desde os finais de Abril de 2006. Em Agosto, no âmbito de FRONIMA 2006 – Fronteiras Imaginárias, projecto de cooperação transfronteiriça entre a Delegação Regional da Cultura do Centro e a Junta de Castela e Leão, foi apresentada no Museu de Zamora. Agora, por iniciativa do Teatro Aveirense, está de novo perante o nosso olhar.

Saiba mais informações na DRCC

Biografia de Pedro Figueiredo

quinta-feira, setembro 28, 2006

Sobre buracos...

Fantástica reflexão sobre "os buracos à portuguesa", O Buraco - Instituição Nacional..., por João Carvalho Fernandes, no Fumaças

quarta-feira, setembro 27, 2006

Não sei nada

Conheço as palavras pelo dorso. Outro, no meu lugar, diria que sou um domador de palavras. Mas só eu – eu e os meus irmãos – sei em que medida sou eu que sou domado por elas. A iniciativa pertence-lhes. São elas que conduzem o meu trenó sem chicote, nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.
Sim. Conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio. O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar, rolar umas sobre as outras as palavras. As palavras são seixos que rolo na boca antes de as soltar. São pesadas e caem. São o contrário dos pássaros, embora «pássaro» seja uma minhas palavras. A minha vida passou para o dicionário que sou. A vida não interessa. Alguém que me procure tem de começar – e de se ficar – pelas palavras.
Através das várias relações de vizinhança, entre elas estabelecidas no poema, talvez venha a saber alguma coisa. Até não saber nada, como eu não sei.
Ruy Belo
in Homem de Palavra[s]

Os pássaros nascem nas pontas das árvores

Algumas proposições com pássaros e árvores

QUE O POETA REMATA COM UMA REFERÊNCIA AO CORAÇÃO

As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros

Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores

Os pássaros começam onde as árvores acabam

Os pássaros fazem cantar as árvores

Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se

deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal

Como pássaros poisam as folhas na terra

quando o outono desce veladamente sobre os campos

Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores

mas deixo essa forma de dizer ao romancista

é complicada e não se dá bem na poesia

não foi ainda isolada da filosofia

Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros

Quem é que lá os pendura nos ramos?

De quem é a mão a inúmera mão?

Eu passo e muda-se-me o coração

Ruy Belo

terça-feira, setembro 26, 2006

Tábua de Salvação

É o que representa Maria da Luz Nolasco, directora do Teatro Aveirense, na defesa da cultura em Aveiro. À parte do programa, e da actividade que com muita dignidade vai sendo apresentada pelo Teatro Aveirense, a cidade permanece com poucos atractivos culturais e ao que se sabe a vereação da cultura em Aveiro tem andado bastante distraída.

Mais um ano lectivo se iniciou e o Campus Universitário de Santiago da Universidade de Aveiro, continua a crescer a olhos vistos. Chegam à cidade centenas de novos jovens, para estudar nas mais variadas áreas de conhecimento que a nossa Universidade lhes oferece, mas também para desfrutar dos encantos da nossa cidade, que deveria estar preparada para uma das mais importantes áreas que com que se pode cativar a juventude, precisamente a cultura.

Às barbas dos serviços da própria Câmara Municipal de Aveiro, encontram-se dois auditórios, o grande e o pequeno auditório como assim os conhecemos designados, com taxas vergonhosas de ocupação. Sim, aí mesmo, no nosso belíssimo Centro Cultural e de Congressos. Um local atractivo por excelência tem ao abandono excelentes áreas para a cultura, porquê? Ainda ninguém deu conta?

Para já nem falar de um dito palco flutuante de madeira no exterior do Centro Cultural e de Congressos, que se encontra por ironia do destino, em frente aos lugares de aparcamento destinados precisamente às entidades da Câmara Municipal. Lá está o palco, num local de eleição, mas onde nada acontece!

Enfim, deixa-se aqui mais um apelo aos responsáveis públicos pela cultura em Aveiro, já é tempo de trabalhar no sentido de não deixarmos que os nossos jovens continuem a ter de se deslocar a Lisboa e ao Porto para usufruírem do que aqui não podem encontrar. Restaurantes, bares e discotecas, fazem parte e bem, da ocupação e lazer dos jovens, mas não podemos contribuir para que os horizontes dos tempos livres se fiquem apenas por isso.

Há que planear um programa concertado com o próprio Teatro Aveirense, mas que não se fique apenas por essa área. Será deveras redutor entender que um só espaço numa cidade que tem vindo a crescer como todos constatamos, é suficiente para alimentar os sonhos almejados por tanta diversidade de públicos. Além das Galerias particulares que muito têm contribuído para a divulgação da cultura e a escultura em Aveiro, há que promover novos encontros com as artes em geral, acompanhando a inovação e a oferta de mais e melhor, em prol de uma maior fixação à cidade das suas gentes e de todos aqueles que tanto nos honram com a sua visita.
(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Semelhanças

Pode estar idêntico calculismo no resultado dos números obtidos por um brilhante mas obsessivo homem de finanças, que nas mais belas palavras de um excelente escritor.
Acontece quando ambos cuidam apenas da vã e efémera glória da fama e do sucesso.
Pode ganhar a obra. Apenas de forma temporária. Mas defenitivamente perde o homem.

Histórias de Aveiro e Aveiro Antiga

São verdadeiras pérolas, colocadas por Jorge Ferreira, no Aveiro

Espanha versus Portugal

A ler, Das Espanhas, pela Margarida, no Ecléctico

domingo, setembro 24, 2006

Tempo

«O tempo tudo consome, apenas o amor o aproveita.»
Paul Claudel
França[1866-1955]Escritor/Diplomata

Dessincronia

Renúncia,

Não ousar o tempo

Enquanto dura o Sol,

Passa o dia

Passa a noite,

Faz-se Inverno

No Outono.

A.A.

sábado, setembro 23, 2006

É Isso Aí

É isso aí
Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa
Quase sempre
É isso aí
Os passos vão pelas ruas
Ninguém reparou na lua
A vida sempre continua


Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei parar
De te olhar

É isso aí
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade

É isso aí
Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos a escolher seus amores

Eu não sei parar de te olhar
Não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não vou parar de te olhar

Ana Carolina & Seu Jorge

Lágrimas na noite...

É o título de um trabalho muito bonito que Pé de Salsa de Nós e os Outros elaborou, em homenagem aos artistas pirotécnicos.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Força Beira-Mar

No Dragão com ambição

O Beira-Mar regressa, duas épocas depois, ao Estádio do Dragão onde, no único jogo que lá disputou, venceu por uma bola a zero. Na temporada de 2004/2005, Beto, ainda no primeiro tempo, marcou o único golo da partida.

Continue a ler no Diário de Aveiro

Aveiro vai ter outro Bispo

D. António Francisco nomeado novo Bispo de Aveiro
D. António Marcelino é substituído no próximo dia 8 de Dezembro por D. António Francisco dos Santos como Bispo de Aveiro
Continue a ler no Diário de Aveiro

A Direita Que Não Havia

Com todas as evidências, por Jorge Ferreira no TomarPartido

Continua animado o debate sobre a direita e a esquerda. Esse debate é a melhor prova que esta clivagem identitária pode não esgotar o catálogo das linhas de conflito político nas sociedades contemporâneas, mas que continua a ser uma das principais.

Nos jornais e nos blogues continuam a publicar-se opiniões sobre o assunto. Um exemplo. Eduardo Pitta escrevia ontem no Da Literatura: “a esquerda e a direita democráticas são adversárias, não são inimigas. É importante que se reconheçam e se digladiem de forma clara, para que nesse confronto não se percam apoios para os sectores radicais, para as margens, onde – aí sim – se albergam os inimigos da democracia.”.

Não podíamos estar mais de acordo. Portugal tem tido uma direita a que costumo chamar a direita das cadeiras. É direita apenas porque as suas cadeiras estão postas à direita das do PS no hemiciclo parlamentar. É a direita geométrica. A direita que é tão estatista como a esquerda. Que é tão centrista como Sócrates. Por isso essa direita se sente invadida pelo actual PS e vota a maioria das iniciativas políticas do Governo. É a direita que almeja a conquista do El Dorado eleitoral a que por cá se chama de centrão.

Mas do que Portugal precisa é de uma direita política. De uma direita conservadora e liberal, que não tenha a mesquinha ambição dos consensos, mas que tenha a coragem das rupturas necessárias. Que não queira vender a alma ao diabo dos pactos, mas que se atreva a propor, defender, sufragar e executar, se para tanto tiver os votos necessários. Que não seja estatista. Sobretudo que não seja anti-estatista vivendo e comendo do Estado.
Como afirma o Prof. José Manuel Moreira, “O mal que o Estado faz não é só ao sistema económico é também ao sistema político e – principalmente – ao sistema ético-cultural ao ter-nos feito com que as pessoas tenham perdido o sentido da íntima relação entre deveres e direitos. O que levou à substituição do direito a “procurar a própria felicidade” pelo direito a “desfrutar dessa felicidade”, a desfrutá-la, claro, à custa do orçamento público. O que nos arrastou para os problemas da despesa pública e pode acarretar, a prazo, a deslegitimação do próprio Estado.”

É esta direita que não havia que a NovaDemocracia se propõe representar. As diferenças relativamente ao CDS e ao PSD são óbvias.

(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)

Os Obreiros Da Ruína

Excelente artigo de Jorge Ferreira no Aveiro, sobre o estado da "obra" na nossa querida cidade


Para um socialista nenhuma dívida, por mais alta que seja, é trágica. Porque na sua cabeça as dívidas pagam-nas os outros. Nunca eles. Sobretudo, como se costuma dizer no autárquiquês (uma espécie de eduquês dos autarcas), se essa dívida foi contraída para deixar “obra”. Isto significa, em português comum, caseiro e familiar, que o autarca viveu acima das possibilidades e gastou o que não tinha e não devia.

A “obra” justifica tudo. Justifica que uma autarquia não pague a quem devia quando devia, coisa vedada a qualquer cidadão desgraçado que se lembre de não pagar qualquer coisa à autarquia a tempo e horas. Justifica que a autarquia peça emprestado para financiar a “obra”. Justifica que a autarquia venda à banca o dinheiro que há-de receber um dia, antecipando aquilo que não tem ainda. O autarca pensa sempre que se encher o olho ao eleitorado com “obra”, o resto é secundário e a reeleição está assegurada. Daí a insensibilidade ao desvario do gasto. A bem da “obra”, isto é, da reeleição.

Pois é. O problema é que nem sempre funciona este círculo infernal. Aveiro é um exemplo. Ainda esta semana, aos microfones da Aveiro FM, o socialista Raul Martins lá recordou, que a dívida da autarquia foi contraída para possibilitar um «salto qualitativo» no concelho. Só a construção do novo estádio custou 55 milhões de euros, lembrando a unanimidade com que toda a gente abrilhantou esta parcela da dívida. Raul Martins, apesar de continuar a justificar a dívida municipal com a “obra”, sabe bem que nem sempre a “obra” é tudo. O PS deixou “obra”, mas foi derrotado nas urnas pelo eleitor ingrato e aparentemente ceguinho (não viu a “obra”). O problema é que este raciocínio contaminou todos os partidos que obtiveram alvará nos idos de 1975 junto do MFA. No fundo, todos têm Ibsen à cabeceira.

Há uma peça fundamental de Henrik Ibsen, chamada «O Inimigo do Povo». É a história de um homem que diz a verdade. Só a verdade. Uma verdade que contrariava interesses instalados e ideias feitas. Por dizer a verdade caluniaram-no de O Inimigo do Povo. Foi quase exterminado fisicamente. Um dia a população em peso, com a irracionalidade própria das multidões, correu a apedrejar a sua casa.

Se o mote de Ibsen fosse tomado a contrario, os autarcas obreiros seriam «os amigos do povo». Mas não. As multidões são tramadas; não se satisfazem com nada nem com ninguém. O homem de Ibsen foi maltratado por dizer a verdade. O teatro percebe bem de política. E há quem esteja disposto a levar esse teatro ao limite do absurdo.
No mesmo programa de rádio, Gilberto Ferreira, militante do PSD e administrador da empresa municipal Parque Desportivo de Aveiro, defendeu a realização de auditorias às contas da Câmara «de quatro em quatro anos». «Sempre que houver eleições, seja qual for o executivo». Como se as contas públicas fossem sistematicamente de desconfiar, como se os eleitos fossem por princípio e fatalidade democrática, gente sem escrúpulo nem confiança financeira. Para este gestor municipal até o actual Executivo municipal se inclui no grupo, já que defende uma auditoria no final do actual mandato (às vezes o teatro revela-se preverso…).

Por estes dias, na longínqua Hungria, ocorre uma revolta popular contra o Primeiro-Ministro que ganhou as eleições com certas promessas e governa a fazer o contrário. Olha se o exemplo pega! Imaginem só se o inimigo do povo de Ibsen vira, afinal, o mentiroso. As bolhas são assim, vão crescendo sem ninguém se dar conta e um dia rebentam e aí é tarde para concertações e torna-se necessária a ruptura.

Em Aveiro a festa foi bonita, pá, pois foi, pá, mas a factura está aí e a penúria também. Da dívida, já se suspeitava. O que não se imaginava era tanta inépcia para a estancar e para a diminuir.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

quinta-feira, setembro 21, 2006

Segredo

Sei um ninho.

E o ninho tem um ovo.

E o ovo, redondinho,

Tem lá dentro um passarinho

Novo.

Mas escusam de me atentar:

Nem o tiro, nem o ensino.

Quero ser um bom menino

E guardar

Este segredo comigo.

E ter depois um amigo

Que faça o pino

A voar...

Miguel Torga, in "Diário VIII"

quarta-feira, setembro 20, 2006

II Edição dos Festivais de Outono

22 Setembro a 22 de Novembro, no Teatro Aveirense
A segunda edição dos Festivais de Outono apresenta uma programação em torno das “Efemérides” de 2006, uma vez que se celebra um conjunto de nomes nacionais e internacionais, como Mozart, Schumann, Lopes-Graça, A. J. Fernandes, Shostakovich e A. Ginastera, contando, para isso, com grandes intérpretes nacionais e internacionais da cena musical. Os Festivais incluem uma componente pedagógica e científica, com cursos internacionais, conferências e a 2ª edição do colóquio PerforMED e o primeiro Fórum de compositores.

A Velocidade do Tempo é Infinita

A velocidade do tempo é infinita, e só quando olhamos para o passado, é que temos consciência disso. O tempo ilude quem se aplica ao momento presente, de tal modo é insensível a passagem do seu curso vertiginoso. Queres saber porquê? Porque todo o tempo passado se acumula num mesmo lugar; todo o passado é contemplado em bloco, forma uma totalidade; todo ele se precipita no mesmo abismo. De resto, não é possível delimitar grandes intervalos nesta nossa vida tão breve. A existência humana é um ponto, é menos que um ponto. Só por troça é que a natureza deu a tão diminuta existência a aparência de uma grande duração, dividindo-a em infância, em adolescência, em juventude, em período de transição da juventude à velhice, finalmente em velhice. Tantos períodos num tão exíguo espaço de tempo!

(...) Habitualmente não me parecia tão veloz a passagem do tempo; agora, porém, parece-me incrivelmente rápida, talvez porque sinto aproximar-se o fim, talvez porque passei a dar-lhe atenção e a avaliar o desgaste que em mim provoca. Por isso mesmo me causa indignação ver como as pessoas gastam em futilidades a maior parte de uma vida que, mesmo dispendida com a maior parcimónia, não seria bastante para as coisas essenciais.
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
Filósofo, Escritor-Roma Antiga [-4-65]

terça-feira, setembro 19, 2006

Porque desilude Cavaco Silva?

Quem me acompanha sabe que eu jamais me desiludiria com Cavaco Silva, por uma simples razão, porque ele nunca me iludiu. Nem como economista, nem como Ministro, nem como 1º Ministro, muito menos como Presidente da República.

Nas últimas eleições presidenciais conheci muita gente a criar expectativas em Cavaco Silva, que em menos de um ano de mandato já caíram por terra. Era inevitável, uma vez que acreditar em alguém que deu provas como primeiro-ministro de uma desmedida incapacidade para a governação do país, numa altura em que abundavam os apoios comunitários traduzidos em milhões de contos-dia, jamais poderia ter a coragem de assumir um papel activo encarando o mesmo país de frente, numa posição de estado-membro na cauda da Europa, para a qual ele muito contribuiu enquanto governante.

Ser Presidente da República em Portugal, já é pelo sistema instituído, um cargo de muito mais representatividade do que de responsabilidade. Cavaco Silva, poder-se-á agora dizer sem margem para dúvidas, tem dado mostras de ser o presidente que melhor incorporou o papel deste cargo “à letra”, desde o 25 de Abril.

Se dúvidas houverem, poder-se-á consultar a Página Oficial da Presidência da República Portuguesa, na Internet, que pelas actualizações diárias, elucidam bastante bem o trabalho desenvolvido pelo actual Presidente. Envios de condolências e mensagens de cortesia, reuniões de conveniência, inaugurações, apresentações, festas e almoços preenchem a agenda “superlotada” de Cavaco Silva.

E o espaço dedicado a reuniões de trabalho para a reflexão da realidade portuguesa, o espaço dedicado para a análise dos problemas nacionais e intervenção na vida política, o espaço dedicado às sugestões a fazer à governação ou ao país, o espaço dedicado à integração de Portugal na Europa e no Mundo de hoje?

Não, estes espaços não tomam posição na agenda do presidente.

Alguém se recorda de alguma intervenção de Cavaco Silva ao país, desde que tomou posse como Presidente da República? Muito poucos se recordarão, das suas também poucas palavras, que até hoje dirigiu aos portugueses, pela razão de que quando o fez foi de forma que a todos passou despercebida, sem interesse, sem força e sem alma. Passou-se a calamidade de mais uma época de incêndios, centenas de empresas continuaram a deslocar-se e a encerrar portas por esse país fora, passaram-se as férias, iniciou-se um novo ano escolar e o nosso Presidente da República lá continua com a sua família impávido e sereno, reservando-se a salamaleques e cortesias que de nada servem ao país real.

Continuar a alimentar este estado do Estado da Presidência, já não faz sentido nas sociedades modernas dos dias de hoje. O Presidente da República não pode continuar a servir apenas de figura alegórica, consumindo para tal parte de um orçamento de Estado que tanta falta faz às inúmeras carências que se constatam de norte a sul do país. Se queremos figuras alegóricas, restaure-se a monarquia, o que não parece ser a crença da maioria dos portugueses.

É pois, tempo de equacionar para Portugal um diferente modelo Presidencial, antes que todos se habituem à ideia de que viver sem produzir, é o exemplo a seguir. Nenhum país pode evoluir sem trabalho, nenhum modelo pode singrar sem exemplos. O povo tem em qualquer sociedade a necessidade de exemplos a seguir, e se não pode dar conta do exemplo que devia surgir do mais alto cargo da nação, desmorona a suas ambições no na procura do facilitismo e da futilidade da vida.

A factura desta forma de estar, é constatada todos os dias pela falta de progresso. Se queremos ter um Portugal diferente, agir, trabalhar e intervir são verbos que devem começar a fazer parte do nosso dia-a-dia, antes que seja tarde!

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)


segunda-feira, setembro 18, 2006

Felicidade outonal

Em múltiplo colorido te contemplo

E sinto que vens ao meu encontro,

Vale a pena o caminho mesmo incerto

Reviver e viver é ser-se outono.

A.A.

domingo, setembro 17, 2006

Apanhado a dizer a verdade

Isaltino Morais agora à pouco, em declarações à Sic notícias afirmou:

" ... isso é uma falsa mentira!"

Ora nem mais. Mais palavras para quê?

A estreia do Sol

A leitura da Margarida, no Eclético

sexta-feira, setembro 15, 2006

A Visita Surpresa na Festa do Avante

Ingrid Betancourt Pulecio nasceu em Bogotá, na Colômbia, no dia de Natal de 1961, é casada e tem dois filhos. Em 2001 decidiu candidatar-se à Presidência da República do seu país e foi raptada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em 2002. As FARC são uma organização classificada pela União Europeia como terrorista. As FARC financiam-se através de extorsão, roubo, tráfico de droga e tem sequestradas mais de 3.000 pessoas, entre as quais a candidata à Presidência da Colômbia. Entre outras actividades, realizam atentados de que resulta a morte de muitos civis. São amigos do Partido Comunista Português, que decidiu convidá-las para a Festa do Avante, na Quinta da Atalaia, por intermédio da revista Resistência, seu órgão oficial.
Primeira nota: o PCP diz que não convidou as FARC, mas apenas o órgão oficial das FARC. O argumento é ridículo e hipócrita. Convidar o Avante é convidar o PCP, de que é órgão oficial e cujos directores são membros do partido. Mais, foram as FARC e não a revista que decidiram publicar um comunicado a responder aos protestos que em Portugal se geraram com tão funesta parceria.
Segunda nota: muitos julgavam que o PCP tinha mudado. Perante a evidência democrática, depois da derrota da previsão feita por Álvaro Cunhal a Oriana Fallaci, de que nunca haveria democracia burguesa em Portugal, com eleições, pluralismo e liberdade, só maçadas, e depois do desmoronamento do totalitarismo soviético, o PCP ter-se-ia convertido aos mínimos civilizacionais. Falso. Adoptou a máscara da necessidade, para sobreviver. Mas não mudou a essência. Cá para dentro faz voz mansa. Lá para fora, faz daquilo que sempre foi: um partido com uma concepção totalitária do poder, que anda rodeado das piores companhias.
Continue a ler por Jorge Ferreira, no Aveiro

Sabedoria

«O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê.»
Platão
Grécia Antiga [427-347]

quinta-feira, setembro 14, 2006

E em Aveiro mais do que nunca


Cresce o número de militantes do CDS que caminha em direcção à Nova Democracia, desiludidos com o clima de mal estar vivido no interior do seu partido.
As últimas desfiliações ocorreram na região transmontana onde é esperada, para breve, uma visita de Manuel Monteiro

Dívida ainda mais endividada

Saiba como:

Câmara de Aveiro tem «estrutura financeira desequilibrada», por Ana Sofia Pinheiro no Diário de Aveiro

E O Que Mais Se Verá, por Jorge Ferreira, no Aveiro

quarta-feira, setembro 13, 2006

Reconhecimento

Dou-te o sal
De meu corpo estremecido
Em areias douradas
A sonhar,

Dou-te o mar
De minha alma solevada
Em ondas incontidas
A cantar,

Mas esse mar amor
Não é salgado
É feito de morangos
E luar.

A.A.

terça-feira, setembro 12, 2006

Pirâmides em extinção

Não, não quero falar das pirâmides do Egipto. Quero apenas anotar a imensa tristeza que é perder na nossa Ria as pirâmides que se erguiam pelos montinhos de sal que caracterizavam as belas paisagens de Aveiro.

No passado sábado, integrei uma comitiva da NovaDemocracia que foi convidada a almoçar na “Marinha da Passagem” a convite do seu proprietário Sr. Rafael Pereira Simões. Fizemos no fim de almoço uma visita pedonal às salinas, onde constatámos que a tradicional produção de sal deu agora lugar a viveiros de peixe e que por sua vez este peixe é alimentado de forma intensiva à base de rações.

Nas redondezas da Marinha da Passagem, apenas o Sr. Rafael Simões mantém viveiros naturais de peixe nas suas salinas, mas o sal, esse está mesmo em extinção nas nossas salinas e apenas na Marinha da Troncalhada, propriedade da Câmara Municipal de Aveiro onde se situa um Eco-Museu, se avista um montinho de sal mas ainda assim, formado por um sal amarelado na base em nada comparável aos montinhos de sal de outros tempos que davam uma luz resplandecente e única à paisagem.

Com a globalização, o sal que hoje consumimos é na sua maioria importado da Argélia e de outras paragens que não as salinas portuguesas. Será que nunca os Ministérios da Agricultura e Pescas dos sucessivos governos se interrogaram sobre a importância desta actividade? E se isso aconteceu porque se acomodam ao “deixa andar” e ao “nada fazer”?

É que para além de um meio de subsistência de várias famílias, a produção do sal é também o garante de um ecossistema particular que permite a sobrevivência de várias espécies num ambiente único e digno de ser preservado.

A par dos múltiplos argumentos que se podem expor, caminha sempre a desolação de uma das maiores fontes de receita da nossa cidade que é representada ao que sabemos pelo turismo. Os postais ilustrados que durante décadas e séculos levaram Aveiro e as suas pirâmides de sal por esse mundo fora, deixaram de ter razão de ser constituem hoje infelizmente uma adulteração da realidade.

Umas salinas tristes e sem vida, sem a luz que as caracterizou de forma tão brilhante, é hoje o que podemos encontrar. Sinal dos tempos ou negligência dos homens?

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

segunda-feira, setembro 11, 2006

A Insegurança continua...

domingo, setembro 10, 2006

«O que se está a passar nas pescas é um crime»

por João Peixinho, no Diário de Aveiro de hoje

Os pescadores já não dizem aos filhos para seguirem a actividade, segundo o presidente do PND, para quem isto é «algo de novo», representando um «corte brutal». A nível comunitário disse que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, podia fazer «muito mais» pelas pescas.
O presidente do Partido da Nova Democracia, Manuel Monteiro, atribui ao presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, parte da responsabilidade pela crise das pescas em Portugal. A «diminuição das quotas de pesca e o abandono da actividade» são factores apontados pelo líder do PND, que resumindo disse que «o que se está a passar é um crime».
Tudo isto num país cuja frota nacional apenas «suporta um terço das necessidade de consumo», embora com forte tradição na actividade, e o facto de ser o maior consumidor de peixe entre os membros da União Europeia.
Antes de entrar ontem em Aveiro, no cais do Canal Central, a bordo do moliceiro que o levaria pela Ria até uma marinha de sal para almoçar, recordou que Durão Barroso «disse que ia para a Comissão Europeia para ser útil para a Portugal». Manuel Monteiro conclui que o social-democrata, afinal, «podia fazer muito mais». E «se não provar o contrário, foi para a Comissão Europeia para ser útil para si próprio».
De resto, para o presidente do PND, Durão Barroso «está a fazer contas para ser Presidente da República, daqui a uns anos».Manuel Monteiro também se referiu aos armadores de pesca dizendo que «muitos deles estão à espera do dinheiro para abater navios».
Nos encontros com pescadores e regulares viagens em embarcações que tem feito, Manuel Monteiro apercebeu-se que está a acontecer «algo de novo». A comunidade piscatória «é cada vez mais idosa e os pais estão a aconselhar os filhos a não seguir a carreira», diz o líder partidário que classifica esta nova atitude como um «corte brutal muito preocupante na tradição económica e familiar».
Para Manuel Monteiro, «defender a pesca é defender um modo de vida e uma actividade económica», recordando que esta prática tem relações a montante e a jusante como a construção e reparação de embarcação, fábricas de redes e outros apetrechos, indústria de conservas, envolvendo «centenas de milhares de pessoas». Entretanto, o PND prepara um dossier a apresentar na Comissão Europeia «com propostas alternativas sobre as pescas».

Marinhas de Sal (1)

Marinhas de Sal (3) agora

Marinhas de Sal (2) antes...

sexta-feira, setembro 08, 2006

É já amanhã

ACÇÃO INÉDITA DE MANUEL MONTEIRO

No próximo sábado, dia 09, pelas 12h00, o Presidente da Nova Democracia, Manuel Monteiro, com uma comitiva, na qual se inserem Susana Barbosa coordenadora distrital de Aveiro e Jorge Ferreira cabeça de lista por Aveiro nas últimas eleições Legislativas, deslocar-se-á às Marinhas num Barco Moliceiro, onde irá ser recebido na "Marinha da Passagem", a convite do seu proprietário Sr. Rafael Pereira Simões.

Trata-se de um evento especial, uma vez que se trata de um almoço que é oferecido pela primeira vez nas salinas em Aveiro a um líder partidário! No almoço participarão cerca de uma centena de convidados.

Local de Encontro : Saída às 12h00 de Barco Moliceiro, do cais da Ria de Aveiro, junto à Rota da Luz.

Ainda no próximo sábado dia 9, em Aveiro, pelas 16h30, Manuel Monteiro fará uma reunião alargada, com os Coordenadores Nacionais da Nova Democracia na Junta de Freguesia da Vera Cruz.

À margem da reunião o Presidente do Partido prestará declarações à Comunicação Social relativamente ao Congresso da Nova Democracia, agendado para os próximos dias 04 e 05 de Novembro, em Lisboa, bem como os contactos que iniciou para os futuros Órgãos Nacionais do Partido.

in Democracia Liberal

Artigo muito oportuno

O Estado Da Direita Moderna, por Jorge Ferreira, no Aveiro

Depois de, no artigo da semana passada, ter exposto a necessidade de uma direita moderna e popular para Portugal, é necessário explicar para quê. Para mudar o Estado. E por que é necessário mudar o Estado? Porque o actual modelo de funções, logística e financiamento do Estado está falido e esgotado. Isto é, já não é possível continuar a viver a ilusão que o Estado resolve todos os nossos problemas, porque não resolve e o tentar resolver agrava alguns e cria outros.

A necessidade contínua de cada vez maior financiamento deste modelo tem conduzido à asfixia da produção, dos cidadãos, das famílias e das empresas. E tem produzido enormes injustiças sociais, em que cada vez mais pessoas pagam bens e serviços que o Estado inventou que tem de produzir e prestar para cada vez menos pessoas. O método do pagamento por todos daquilo que apenas alguns consomem é ruinoso e conduz à falência geral.

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De menos

O que fica por dizer
é sempre mais do que se diz.
Ninguém há-de ser feliz
se não souber
que só disse metade
do que tinha na vontade.

O que fica por fazer
é sempre mais do que se faz.
Ninguém há-de ser capaz
de se entender
se pensa que tudo fez
de vez.

O que dizemos ou fazemos
é sempre de menos.

Torquato da Luz

quinta-feira, setembro 07, 2006

Frase do dia

"Quem é político e domesticável deve ser remetido para o escalão dos animais domésticos".

da entrevista de João Cravinho à Visão
via TomarPartido

Moliceiros

segunda-feira, setembro 04, 2006

A Necessidade do Outro

Os homens sempre tiveram muita necessidade de se amarem uns aos outros. Construíram esse amor como construíram pontes. Foram necessárias abóbadas sonoras para tornar a multidão mais presente para a multidão; e palavras incompreensíveis para que se cantasse com todo o coração; e uma música bem ritmada, para que todos pudessem dizer as mesmas coisas ao mesmo tempo. (...) Só querer relacionar-se com aqueles que se aprovam em tudo é quimérico, e é o próprio fanatismo.
in 'Considerações II'
Alain, pseud. de Émile-Auguste Chartier
França [1868-1951] Ensaísta/Filósofo

Crónicas do Sistema (VIII)

Por Rui Costa Pinto, no Mais Actual

O Estado Particular da Direita

Por Jorge Ferreira, no Jornal Expresso
1. A dita direita portuguesa gosta de indefinição e é avessa à clarificação ideológica. Cultiva um discurso de diferença mas pratica o bem-bom do poder. Porque essa clarificação produz a diferença, só traz maçadas e dificulta os negócios de poder. Por isso, quem na direita se atreva a pedir ou a fazer essa clarificação, o mínimo que pode esperar é ser açoitado na praça pública. Os valores políticos difusos, vagos e indefinidos são os maiores amigos das traficâncias. E, em Portugal, a direita vigente vive do Estado, como tanto gosta de atirar à cara da esquerda. Por isso, não se vê diferença quando está o PS ou o PSD e o CDS no poder.
O estado particular da direita é mau. Vamos a números. Na anterior sessão legislativa o Governo apresentou no Parlamento 54 iniciativas legislativas. O PSD votou contra 7. O CDS votou contra 9. É isto, a direita de Marques Mendes, de Ribeiro e Castro e de Paulo Portas (a banda, recordam-se?). O fracturante Bloco votou contra 11. O PCP votou contra 24. Lamento informar, mas o líder da oposição é o PCP. Ou seja, a esquerda do “estalinismo requentado” lidera a oposição à “esquerda Armani” e meteu a direita no bolso. Uma tristeza.
Magníficas foram as performances colaboracionistas e concordantes do conformado PSD e do bicéfalo CDS, sobretudo se atentarmos no facto de existir maioria absoluta e não haver necessidade de tanta colaboração com a maioria. Não é nada confortável ver que é o PCP quem se esforça por apresentar consequentemente alternativas ao Governo. A ideia é pôr o país a andar para a frente e não para trás.
Mas bem pior é perceber que a direita está cansada, sem ideias e sem diferenças políticas face ao PS. Põe o calculismo acima das ideias. Elege a táctica em detrimento da estratégia. Procura o voto periodicamente para fazer depois o que for preciso e, sobretudo, o que for conveniente. Sempre que pode a direita troca as ideias por um motorista, os projectos por uma avença, os princípios por um parecer bem pago.
É de elementar bom senso concluir que é preciso um novo programa político para Portugal. Inovador, federador, ganhador. E que isso não se faz se se mantiver o egoísmo grupal das quintas e quintinhas em que a direita está espartilhada. Que assuma a responsabilidade quem, vaidoso, comprometido ou incompetente disser que não.
2. Este mês, um simples almoço entre Ribeiro e Castro e Manuel Monteiro chegou para pôr esta direita instalada à beira de um ataque de nervos. Devo dizer que se me tivesse sido pedida opinião, eu teria manifestado as maiores reservas ao almoço. Por uma razão simples. Porque, ao contrário do que possa parecer, esse almoço foi mais benéfico para Ribeiro e Castro do que para Manuel Monteiro e o seu projecto de realizar uns Estados Gerais da Direita.
Manuel Monteiro pode ainda não ter um partido, mas tem significado político. Desde logo o de se ter batido sempre pelas suas ideias independentemente do partido onde o fez e de ter ainda hoje o melhor resultado eleitoral do Partido Popular, que nem Portas conseguiu, se é que conseguirá alguma vez, igualar. Ribeiro e Castro tem partido, mas não tem significado político. Ganhou ele mais com o almoço, porque ganhou o significado público de interlocutor, que até então não tinha. Falou-se mais do líder do CDS em Agosto por causa do almoço do que no tempo todo que leva de liderança (Congressos aparte, naturalmente).
Independentemente desta objecção, que ainda não vi razões para alterar, sobretudo depois do “não” que a proposta de Manuel Monteiro recebeu dos dois CDS’s, confesso que as reacções ao almoço me têm divertido imenso. A oposição interna a Ribeiro e Castro no CDS desatou a atacar Monteiro dizendo ao mesmo tempo que o mesmo não existia. Os colunistas do costume, que fazem parte da direita serventuária e fretista, atacaram como sempre o dedo que apontou para a Lua, em vez de reflectirem sobre a Lua. Também faz parte. O incómodo, foi, pois, geral. Até em certos sectores no PSD foi indisfarçável o incómodo. Clarificar ideologicamente é a última coisa que a direita instalada pretende. Discutir o poder, está bem. Para quê, não interessa, desde que se lá chegue. Cada um trata da sua quinta particular. O interesse do país em ter uma direita moderna que seja agente de mudança e de solução dos problemas é para estes grupos, secundário.
Por isso Sócrates e o PS andam tão descansados.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Clarificação

"Jamais desespere no meio das mais sombrias aflições da sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda."

Provérbio Chinês

Uma Direita Popular e Moderna

Por Jorge Ferreira, no Aveiro

Sempre houve e haverá várias esquerdas e várias direitas. Mas no caso português, existe um momento histórico particularmente relevante na definição da concorrência ideológica e partidária. E esse momento foi aquele em que o MFA passou os alvarás aos partidos no Pacto MFA-Partidos, assinado em 11 de Abril de 1975. Nesse dia a tropa revolucionária disse quem podia e quem não podia fazer política depois de Abril e, consequentemente, quem podia e quem não podia entrar no mercado partidário. Pior, os que receberam a bênção dos quartéis tiveram de se conformar com limites ideológicos socializantes e esquerdizantes, que conduziram o CDS a defender no seu projecto de Constituição em 1975 a construção do socialismo português! Era esta a condição para entrar no clube. E assim chegámos ao século XXI.
Este poder ainda hoje se projecta na sociedade portuguesa, trinta e dois anos depois. Este condicionamento provocou um sistema político coxo. Tudo se tem passado como se o país fosse uma pessoa com uma dúzia de pernas esquerdas de vários matizes e feitios, e uma muleta para se amparar na ausência de contrapeso a tanta perna de um só lado. O CDS fez de direita e o PSD fez de direita do ponto de vista geométrico, não infelizmente do ponto de vista ideológico. Eles têm sido a direita permitida, consentida e autorizada pelos vizires do sultão revolucionário. E dirá o leitor: o que temos nós a ver com isso? Respondo: temos muito.
E temos muito porque neste momento estamos no fim de um tempo e no início de outro. Vivemos um sistema político, económico e social que tem os dias contados. Por muitas discordâncias que tenhamos uns com os outros sobre o que fazer, todos percebemos que está a chegar ao fim uma era cujo projecto essencial era trabalhar cada vez menos, ganhar cada vez mais e exigir quase tudo do Estado. Pelo caminho foram insidiosamente moldadas as direitas convenientes e bem comportadas: as autorizadas. São pessoas, certamente bem intencionadas e cheias de fé que fazem discursos contra a esquerda mas que são alimentadas pela esquerda e por isso, no limite, inofensivas. Sabe-se que na hora H, estarão do lado certo da barricada.
Ora, aqui bate o ponto do futuro: é preciso uma direita moderna, popular e sem complexos de esquerda. Que ponha a política e o Estado ao serviço do Homem e não o Homem ao serviço das mitomanias falidas do Estado social. Que reconheça a Nação como identidade e porta aberta ao Mundo e não como um quarto de dormir cheio de naftalina. Que perceba que o Estado a mais estraga, não resolve. E que o Homem não é naturalmente bom, como cegamente acreditam as esquerdas, nem naturalmente mau, como cegamente crê a velha direita dos salões lisboetas do reviralho alimentado, todavia, pelos orçamentos públicos. Esta é a descrição da situação tal qual a vejo. A resposta que creio necessária, encontrá-la-á o leitor neste espaço de hoje a oito dias.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

O Manifesto da Direita e um Deus Irónico

Manuel Monteiro e o PND divulgaram um documento a que chamaram Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal. O documento foi recebido com a habitual comiseração com que as iniciativas de Manuel Monteiro são recebidas, mas merece uma atenção mais cuidada. A começar, porque essa comiseração é um reflexo comunicacional do banimento com que o PP de Portas pretende ostracizar Monteiro, mais do que uma consideração do real mérito do documento.

Se não fosse Monteiro o autor, mas sim Portas, o documento teria certamente outro tratamento e seria saudado de outra maneira, em vez de ocultado. O que é, em primeiro lugar, interessante no manifesto é que ele é uma síntese das ideias que deram origem ao PP, e que circulam nos corredores de uma “nova direita” ligada ao grupo de Portas no CDS-PP (Grupo parlamentar, blogues, revista Atlântico, etc.), e que Paulo Portas não pode hoje enunciar, mas Monteiro pode. É um caso de punição divina em que um Deus cruel e irónico misturou protagonistas e ideias, dando a cada um a fala do outro, e a impossibilidade de falar a própria.

Monteiro diz aquilo que disse (e pensa) Portas, porque ele, Monteiro, nasceu com essa fala a que deu o seu corpo político. Portas não pode dizer aquilo que diz Monteiro porque o uso daquela fala, com que fez o PP, era para ele instrumental em relação a uma ambição maior, a de tomar conta do PSD. Enquanto para Monteiro o PND é a encarnação actual e virgem do projecto do PP, que ele tomou e toma a sério, para Portas o PP servia para demarcar-se do velho CDS e do PSD e para colocar na ordem os dirigentes do PSD que se opunham a uma “frente de direita”, os “cavaquistas” que foram o seu alvo preferencial no Independente, o cadinho do PP.

Para prosseguir esse objectivo, Portas vendeu o seu corpo político a tudo, - ao PS, ao PSD, à Constituição Europeia, ao estatismo anti-liberal, –, mas não o conseguiu e ficou num limbo de onde não sabe sair. Tem um partido na mão, mantendo Ribeiro e Castro numa teia de que não se consegue livrar, mas hesita em querer ou não o CDS-PP porque não sabe o que lhe é mais útil, a única consideração que conta. Por isso, a Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal lhe é particularmente incomoda e tudo fará para que não seja levada a sério. É como se uma parte do passado se recusasse a ir embora e viesse todos os dias para morder o presente.

Como esse banimento aqui não se aplica, voltaremos ao Manifesto.
por Pacheco Pereira, na Sábado

Um Manifesto da Direita em Portugal

Vale a pena ler, documento completo

Agradecimentos

Aos que durante os últimos dias, e horas especialmente difíceis, me ofereceram o seu apoio, a sua amizade e solidariedade. A todos o meu bem haja!