O Estado Particular da Direita
Por Jorge Ferreira, no Jornal Expresso
1. A dita direita portuguesa gosta de indefinição e é avessa à clarificação ideológica. Cultiva um discurso de diferença mas pratica o bem-bom do poder. Porque essa clarificação produz a diferença, só traz maçadas e dificulta os negócios de poder. Por isso, quem na direita se atreva a pedir ou a fazer essa clarificação, o mínimo que pode esperar é ser açoitado na praça pública. Os valores políticos difusos, vagos e indefinidos são os maiores amigos das traficâncias. E, em Portugal, a direita vigente vive do Estado, como tanto gosta de atirar à cara da esquerda. Por isso, não se vê diferença quando está o PS ou o PSD e o CDS no poder.
O estado particular da direita é mau. Vamos a números. Na anterior sessão legislativa o Governo apresentou no Parlamento 54 iniciativas legislativas. O PSD votou contra 7. O CDS votou contra 9. É isto, a direita de Marques Mendes, de Ribeiro e Castro e de Paulo Portas (a banda, recordam-se?). O fracturante Bloco votou contra 11. O PCP votou contra 24. Lamento informar, mas o líder da oposição é o PCP. Ou seja, a esquerda do “estalinismo requentado” lidera a oposição à “esquerda Armani” e meteu a direita no bolso. Uma tristeza.
Magníficas foram as performances colaboracionistas e concordantes do conformado PSD e do bicéfalo CDS, sobretudo se atentarmos no facto de existir maioria absoluta e não haver necessidade de tanta colaboração com a maioria. Não é nada confortável ver que é o PCP quem se esforça por apresentar consequentemente alternativas ao Governo. A ideia é pôr o país a andar para a frente e não para trás.
Mas bem pior é perceber que a direita está cansada, sem ideias e sem diferenças políticas face ao PS. Põe o calculismo acima das ideias. Elege a táctica em detrimento da estratégia. Procura o voto periodicamente para fazer depois o que for preciso e, sobretudo, o que for conveniente. Sempre que pode a direita troca as ideias por um motorista, os projectos por uma avença, os princípios por um parecer bem pago.
É de elementar bom senso concluir que é preciso um novo programa político para Portugal. Inovador, federador, ganhador. E que isso não se faz se se mantiver o egoísmo grupal das quintas e quintinhas em que a direita está espartilhada. Que assuma a responsabilidade quem, vaidoso, comprometido ou incompetente disser que não.
2. Este mês, um simples almoço entre Ribeiro e Castro e Manuel Monteiro chegou para pôr esta direita instalada à beira de um ataque de nervos. Devo dizer que se me tivesse sido pedida opinião, eu teria manifestado as maiores reservas ao almoço. Por uma razão simples. Porque, ao contrário do que possa parecer, esse almoço foi mais benéfico para Ribeiro e Castro do que para Manuel Monteiro e o seu projecto de realizar uns Estados Gerais da Direita.
Manuel Monteiro pode ainda não ter um partido, mas tem significado político. Desde logo o de se ter batido sempre pelas suas ideias independentemente do partido onde o fez e de ter ainda hoje o melhor resultado eleitoral do Partido Popular, que nem Portas conseguiu, se é que conseguirá alguma vez, igualar. Ribeiro e Castro tem partido, mas não tem significado político. Ganhou ele mais com o almoço, porque ganhou o significado público de interlocutor, que até então não tinha. Falou-se mais do líder do CDS em Agosto por causa do almoço do que no tempo todo que leva de liderança (Congressos aparte, naturalmente).
Independentemente desta objecção, que ainda não vi razões para alterar, sobretudo depois do “não” que a proposta de Manuel Monteiro recebeu dos dois CDS’s, confesso que as reacções ao almoço me têm divertido imenso. A oposição interna a Ribeiro e Castro no CDS desatou a atacar Monteiro dizendo ao mesmo tempo que o mesmo não existia. Os colunistas do costume, que fazem parte da direita serventuária e fretista, atacaram como sempre o dedo que apontou para a Lua, em vez de reflectirem sobre a Lua. Também faz parte. O incómodo, foi, pois, geral. Até em certos sectores no PSD foi indisfarçável o incómodo. Clarificar ideologicamente é a última coisa que a direita instalada pretende. Discutir o poder, está bem. Para quê, não interessa, desde que se lá chegue. Cada um trata da sua quinta particular. O interesse do país em ter uma direita moderna que seja agente de mudança e de solução dos problemas é para estes grupos, secundário.
Por isso Sócrates e o PS andam tão descansados.
O estado particular da direita é mau. Vamos a números. Na anterior sessão legislativa o Governo apresentou no Parlamento 54 iniciativas legislativas. O PSD votou contra 7. O CDS votou contra 9. É isto, a direita de Marques Mendes, de Ribeiro e Castro e de Paulo Portas (a banda, recordam-se?). O fracturante Bloco votou contra 11. O PCP votou contra 24. Lamento informar, mas o líder da oposição é o PCP. Ou seja, a esquerda do “estalinismo requentado” lidera a oposição à “esquerda Armani” e meteu a direita no bolso. Uma tristeza.
Magníficas foram as performances colaboracionistas e concordantes do conformado PSD e do bicéfalo CDS, sobretudo se atentarmos no facto de existir maioria absoluta e não haver necessidade de tanta colaboração com a maioria. Não é nada confortável ver que é o PCP quem se esforça por apresentar consequentemente alternativas ao Governo. A ideia é pôr o país a andar para a frente e não para trás.
Mas bem pior é perceber que a direita está cansada, sem ideias e sem diferenças políticas face ao PS. Põe o calculismo acima das ideias. Elege a táctica em detrimento da estratégia. Procura o voto periodicamente para fazer depois o que for preciso e, sobretudo, o que for conveniente. Sempre que pode a direita troca as ideias por um motorista, os projectos por uma avença, os princípios por um parecer bem pago.
É de elementar bom senso concluir que é preciso um novo programa político para Portugal. Inovador, federador, ganhador. E que isso não se faz se se mantiver o egoísmo grupal das quintas e quintinhas em que a direita está espartilhada. Que assuma a responsabilidade quem, vaidoso, comprometido ou incompetente disser que não.
2. Este mês, um simples almoço entre Ribeiro e Castro e Manuel Monteiro chegou para pôr esta direita instalada à beira de um ataque de nervos. Devo dizer que se me tivesse sido pedida opinião, eu teria manifestado as maiores reservas ao almoço. Por uma razão simples. Porque, ao contrário do que possa parecer, esse almoço foi mais benéfico para Ribeiro e Castro do que para Manuel Monteiro e o seu projecto de realizar uns Estados Gerais da Direita.
Manuel Monteiro pode ainda não ter um partido, mas tem significado político. Desde logo o de se ter batido sempre pelas suas ideias independentemente do partido onde o fez e de ter ainda hoje o melhor resultado eleitoral do Partido Popular, que nem Portas conseguiu, se é que conseguirá alguma vez, igualar. Ribeiro e Castro tem partido, mas não tem significado político. Ganhou ele mais com o almoço, porque ganhou o significado público de interlocutor, que até então não tinha. Falou-se mais do líder do CDS em Agosto por causa do almoço do que no tempo todo que leva de liderança (Congressos aparte, naturalmente).
Independentemente desta objecção, que ainda não vi razões para alterar, sobretudo depois do “não” que a proposta de Manuel Monteiro recebeu dos dois CDS’s, confesso que as reacções ao almoço me têm divertido imenso. A oposição interna a Ribeiro e Castro no CDS desatou a atacar Monteiro dizendo ao mesmo tempo que o mesmo não existia. Os colunistas do costume, que fazem parte da direita serventuária e fretista, atacaram como sempre o dedo que apontou para a Lua, em vez de reflectirem sobre a Lua. Também faz parte. O incómodo, foi, pois, geral. Até em certos sectores no PSD foi indisfarçável o incómodo. Clarificar ideologicamente é a última coisa que a direita instalada pretende. Discutir o poder, está bem. Para quê, não interessa, desde que se lá chegue. Cada um trata da sua quinta particular. O interesse do país em ter uma direita moderna que seja agente de mudança e de solução dos problemas é para estes grupos, secundário.
Por isso Sócrates e o PS andam tão descansados.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home