O Manifesto da Direita e um Deus Irónico
Manuel Monteiro e o PND divulgaram um documento a que chamaram Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal. O documento foi recebido com a habitual comiseração com que as iniciativas de Manuel Monteiro são recebidas, mas merece uma atenção mais cuidada. A começar, porque essa comiseração é um reflexo comunicacional do banimento com que o PP de Portas pretende ostracizar Monteiro, mais do que uma consideração do real mérito do documento.
Se não fosse Monteiro o autor, mas sim Portas, o documento teria certamente outro tratamento e seria saudado de outra maneira, em vez de ocultado. O que é, em primeiro lugar, interessante no manifesto é que ele é uma síntese das ideias que deram origem ao PP, e que circulam nos corredores de uma “nova direita” ligada ao grupo de Portas no CDS-PP (Grupo parlamentar, blogues, revista Atlântico, etc.), e que Paulo Portas não pode hoje enunciar, mas Monteiro pode. É um caso de punição divina em que um Deus cruel e irónico misturou protagonistas e ideias, dando a cada um a fala do outro, e a impossibilidade de falar a própria.
Monteiro diz aquilo que disse (e pensa) Portas, porque ele, Monteiro, nasceu com essa fala a que deu o seu corpo político. Portas não pode dizer aquilo que diz Monteiro porque o uso daquela fala, com que fez o PP, era para ele instrumental em relação a uma ambição maior, a de tomar conta do PSD. Enquanto para Monteiro o PND é a encarnação actual e virgem do projecto do PP, que ele tomou e toma a sério, para Portas o PP servia para demarcar-se do velho CDS e do PSD e para colocar na ordem os dirigentes do PSD que se opunham a uma “frente de direita”, os “cavaquistas” que foram o seu alvo preferencial no Independente, o cadinho do PP.
Para prosseguir esse objectivo, Portas vendeu o seu corpo político a tudo, - ao PS, ao PSD, à Constituição Europeia, ao estatismo anti-liberal, –, mas não o conseguiu e ficou num limbo de onde não sabe sair. Tem um partido na mão, mantendo Ribeiro e Castro numa teia de que não se consegue livrar, mas hesita em querer ou não o CDS-PP porque não sabe o que lhe é mais útil, a única consideração que conta. Por isso, a Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal lhe é particularmente incomoda e tudo fará para que não seja levada a sério. É como se uma parte do passado se recusasse a ir embora e viesse todos os dias para morder o presente.
Como esse banimento aqui não se aplica, voltaremos ao Manifesto.
Se não fosse Monteiro o autor, mas sim Portas, o documento teria certamente outro tratamento e seria saudado de outra maneira, em vez de ocultado. O que é, em primeiro lugar, interessante no manifesto é que ele é uma síntese das ideias que deram origem ao PP, e que circulam nos corredores de uma “nova direita” ligada ao grupo de Portas no CDS-PP (Grupo parlamentar, blogues, revista Atlântico, etc.), e que Paulo Portas não pode hoje enunciar, mas Monteiro pode. É um caso de punição divina em que um Deus cruel e irónico misturou protagonistas e ideias, dando a cada um a fala do outro, e a impossibilidade de falar a própria.
Monteiro diz aquilo que disse (e pensa) Portas, porque ele, Monteiro, nasceu com essa fala a que deu o seu corpo político. Portas não pode dizer aquilo que diz Monteiro porque o uso daquela fala, com que fez o PP, era para ele instrumental em relação a uma ambição maior, a de tomar conta do PSD. Enquanto para Monteiro o PND é a encarnação actual e virgem do projecto do PP, que ele tomou e toma a sério, para Portas o PP servia para demarcar-se do velho CDS e do PSD e para colocar na ordem os dirigentes do PSD que se opunham a uma “frente de direita”, os “cavaquistas” que foram o seu alvo preferencial no Independente, o cadinho do PP.
Para prosseguir esse objectivo, Portas vendeu o seu corpo político a tudo, - ao PS, ao PSD, à Constituição Europeia, ao estatismo anti-liberal, –, mas não o conseguiu e ficou num limbo de onde não sabe sair. Tem um partido na mão, mantendo Ribeiro e Castro numa teia de que não se consegue livrar, mas hesita em querer ou não o CDS-PP porque não sabe o que lhe é mais útil, a única consideração que conta. Por isso, a Proposta para um Manifesto da Direita em Portugal lhe é particularmente incomoda e tudo fará para que não seja levada a sério. É como se uma parte do passado se recusasse a ir embora e viesse todos os dias para morder o presente.
Como esse banimento aqui não se aplica, voltaremos ao Manifesto.
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