terça-feira, setembro 12, 2006

Pirâmides em extinção

Não, não quero falar das pirâmides do Egipto. Quero apenas anotar a imensa tristeza que é perder na nossa Ria as pirâmides que se erguiam pelos montinhos de sal que caracterizavam as belas paisagens de Aveiro.

No passado sábado, integrei uma comitiva da NovaDemocracia que foi convidada a almoçar na “Marinha da Passagem” a convite do seu proprietário Sr. Rafael Pereira Simões. Fizemos no fim de almoço uma visita pedonal às salinas, onde constatámos que a tradicional produção de sal deu agora lugar a viveiros de peixe e que por sua vez este peixe é alimentado de forma intensiva à base de rações.

Nas redondezas da Marinha da Passagem, apenas o Sr. Rafael Simões mantém viveiros naturais de peixe nas suas salinas, mas o sal, esse está mesmo em extinção nas nossas salinas e apenas na Marinha da Troncalhada, propriedade da Câmara Municipal de Aveiro onde se situa um Eco-Museu, se avista um montinho de sal mas ainda assim, formado por um sal amarelado na base em nada comparável aos montinhos de sal de outros tempos que davam uma luz resplandecente e única à paisagem.

Com a globalização, o sal que hoje consumimos é na sua maioria importado da Argélia e de outras paragens que não as salinas portuguesas. Será que nunca os Ministérios da Agricultura e Pescas dos sucessivos governos se interrogaram sobre a importância desta actividade? E se isso aconteceu porque se acomodam ao “deixa andar” e ao “nada fazer”?

É que para além de um meio de subsistência de várias famílias, a produção do sal é também o garante de um ecossistema particular que permite a sobrevivência de várias espécies num ambiente único e digno de ser preservado.

A par dos múltiplos argumentos que se podem expor, caminha sempre a desolação de uma das maiores fontes de receita da nossa cidade que é representada ao que sabemos pelo turismo. Os postais ilustrados que durante décadas e séculos levaram Aveiro e as suas pirâmides de sal por esse mundo fora, deixaram de ter razão de ser constituem hoje infelizmente uma adulteração da realidade.

Umas salinas tristes e sem vida, sem a luz que as caracterizou de forma tão brilhante, é hoje o que podemos encontrar. Sinal dos tempos ou negligência dos homens?

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

5 Comments:

At 1:14 da manhã, Blogger Migas (miguel araújo) said...

Viva Cara Susana
Espero que o passeio, para além da questão política, tenha corrido bem. Pelo prazer que é percorrer a maravilha dos nossos canais.
Quanto às salinas, esse é um factor directamente ligado a questões económicas e sociais. E mais, muito ligado a cultura aveirense que se foi e vai perdendo.
Os dias e as exigências sócio-económicas actuais obrigam a outro tipo de comércio e desenvolvimento.
No entanto, apesar das salinas estarem, já há muitos anos (não só agora) a desaparecerem, elas devem sofrer investimentos válidos ao nível do turismo, mais do que a questão comercial que hoje está ultrapassada e obsuleta.
Como se diz na gíria, deverá ser para turísta (seja ela nacional ou não) ver.
Mas ainda mesmo assim, a exploração salineira do ano transacto foi excessiva para a oferta, como já há muitos anos (com muitas salinas activas) já não se verificava.
E pela imagem que tenho e a metereologia deste verão, este ano vai ser igual.
Cumprimentos

 
At 9:04 da manhã, Blogger hfm said...

e fala-se em progresso.

 
At 12:33 da manhã, Blogger AC said...

Viva Susana,
Se fosse apenas as salinas em vias de extinção..., a gente ainda organizava uma marcha pelas salinas mas, não vale a pena porque o que verdadeiramente está em extinção, é o país. Este sítio vai ser integrado oficialmente a médio prazo numa economia ibérica, porque na prática …, já vai estando não é?

 
At 1:26 da manhã, Blogger Al Berto said...

Olá Susana:

As salina são de facto um ex-libris de Aveiro.
Os tempos mudam e as actividades económicas também.
Concordo com o Miguel Araújo, só mesmo com conceitos turísticos se poderá combater a sua desertificação. Haja ideias.

Obrigado pelo apoio nos BOB´s, :-)

Um abraço,

 
At 12:27 da tarde, Blogger PedroCM said...

Tenho a dizer em relação às salinas portuguesas de uma maneira geral, que me envergonha a falta de visão dos nossos empresários portugueses (tivesse eu dinheiro...). Estou na Noruega há 7 meses. Encontrei um importador norueguês que está a começar a importar produtos alimentares de Espanha e Portugal.
Infelizmente os nossos queijos, os nossos azeites, etc, estão a perder terreno à concorrência espanhola. Para não alongar, falando só do sal e das salinas, estou a começar a exportar para a Noruega sal e flor de sal espanhol aos montes e com muita qualidade. Vem em embalagem de design arrojado, muito elogiado na Noruega, e vem o sal simples ou em mistura com especiarias/condimentos. A visão dos espanhóis conseguiu atrair e criar novos produtos atrativos para este grande mercado escandinavo.
Ver o site: http://www.agendanoba.com/agendanoba/Novos·Produtos/Entradas/2009/5/27_SOSO_-_temperos_e_condimentos_de_sal.html

E o cúmulo é que o sal espanhol é do mediterrâneo e de menor qualidade que o nosso atlântico.
Mas revitalizaram as salinas deles.
Se os investidores portugueses não sabem criar e investir em novos produtos, ao menos que apanhem boleia dos espanhóis e lhes comecem a vender o sal e a flor de sal.

São factos, não é uma opinião.
Se alguém quiser contactar-me sobre isto o meu e-mail é:
imperdivelmente@me.com

 

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