terça-feira, setembro 19, 2006

Porque desilude Cavaco Silva?

Quem me acompanha sabe que eu jamais me desiludiria com Cavaco Silva, por uma simples razão, porque ele nunca me iludiu. Nem como economista, nem como Ministro, nem como 1º Ministro, muito menos como Presidente da República.

Nas últimas eleições presidenciais conheci muita gente a criar expectativas em Cavaco Silva, que em menos de um ano de mandato já caíram por terra. Era inevitável, uma vez que acreditar em alguém que deu provas como primeiro-ministro de uma desmedida incapacidade para a governação do país, numa altura em que abundavam os apoios comunitários traduzidos em milhões de contos-dia, jamais poderia ter a coragem de assumir um papel activo encarando o mesmo país de frente, numa posição de estado-membro na cauda da Europa, para a qual ele muito contribuiu enquanto governante.

Ser Presidente da República em Portugal, já é pelo sistema instituído, um cargo de muito mais representatividade do que de responsabilidade. Cavaco Silva, poder-se-á agora dizer sem margem para dúvidas, tem dado mostras de ser o presidente que melhor incorporou o papel deste cargo “à letra”, desde o 25 de Abril.

Se dúvidas houverem, poder-se-á consultar a Página Oficial da Presidência da República Portuguesa, na Internet, que pelas actualizações diárias, elucidam bastante bem o trabalho desenvolvido pelo actual Presidente. Envios de condolências e mensagens de cortesia, reuniões de conveniência, inaugurações, apresentações, festas e almoços preenchem a agenda “superlotada” de Cavaco Silva.

E o espaço dedicado a reuniões de trabalho para a reflexão da realidade portuguesa, o espaço dedicado para a análise dos problemas nacionais e intervenção na vida política, o espaço dedicado às sugestões a fazer à governação ou ao país, o espaço dedicado à integração de Portugal na Europa e no Mundo de hoje?

Não, estes espaços não tomam posição na agenda do presidente.

Alguém se recorda de alguma intervenção de Cavaco Silva ao país, desde que tomou posse como Presidente da República? Muito poucos se recordarão, das suas também poucas palavras, que até hoje dirigiu aos portugueses, pela razão de que quando o fez foi de forma que a todos passou despercebida, sem interesse, sem força e sem alma. Passou-se a calamidade de mais uma época de incêndios, centenas de empresas continuaram a deslocar-se e a encerrar portas por esse país fora, passaram-se as férias, iniciou-se um novo ano escolar e o nosso Presidente da República lá continua com a sua família impávido e sereno, reservando-se a salamaleques e cortesias que de nada servem ao país real.

Continuar a alimentar este estado do Estado da Presidência, já não faz sentido nas sociedades modernas dos dias de hoje. O Presidente da República não pode continuar a servir apenas de figura alegórica, consumindo para tal parte de um orçamento de Estado que tanta falta faz às inúmeras carências que se constatam de norte a sul do país. Se queremos figuras alegóricas, restaure-se a monarquia, o que não parece ser a crença da maioria dos portugueses.

É pois, tempo de equacionar para Portugal um diferente modelo Presidencial, antes que todos se habituem à ideia de que viver sem produzir, é o exemplo a seguir. Nenhum país pode evoluir sem trabalho, nenhum modelo pode singrar sem exemplos. O povo tem em qualquer sociedade a necessidade de exemplos a seguir, e se não pode dar conta do exemplo que devia surgir do mais alto cargo da nação, desmorona a suas ambições no na procura do facilitismo e da futilidade da vida.

A factura desta forma de estar, é constatada todos os dias pela falta de progresso. Se queremos ter um Portugal diferente, agir, trabalhar e intervir são verbos que devem começar a fazer parte do nosso dia-a-dia, antes que seja tarde!

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)


1 Comments:

At 6:28 da tarde, Blogger AC said...

Óbviamente. Assino por baixo.
Cpts

 

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