A Direita Que Não Havia
Com todas as evidências, por Jorge Ferreira no TomarPartido
Continua animado o debate sobre a direita e a esquerda. Esse debate é a melhor prova que esta clivagem identitária pode não esgotar o catálogo das linhas de conflito político nas sociedades contemporâneas, mas que continua a ser uma das principais.
Nos jornais e nos blogues continuam a publicar-se opiniões sobre o assunto. Um exemplo. Eduardo Pitta escrevia ontem no Da Literatura: “a esquerda e a direita democráticas são adversárias, não são inimigas. É importante que se reconheçam e se digladiem de forma clara, para que nesse confronto não se percam apoios para os sectores radicais, para as margens, onde – aí sim – se albergam os inimigos da democracia.”.
Não podíamos estar mais de acordo. Portugal tem tido uma direita a que costumo chamar a direita das cadeiras. É direita apenas porque as suas cadeiras estão postas à direita das do PS no hemiciclo parlamentar. É a direita geométrica. A direita que é tão estatista como a esquerda. Que é tão centrista como Sócrates. Por isso essa direita se sente invadida pelo actual PS e vota a maioria das iniciativas políticas do Governo. É a direita que almeja a conquista do El Dorado eleitoral a que por cá se chama de centrão.
Mas do que Portugal precisa é de uma direita política. De uma direita conservadora e liberal, que não tenha a mesquinha ambição dos consensos, mas que tenha a coragem das rupturas necessárias. Que não queira vender a alma ao diabo dos pactos, mas que se atreva a propor, defender, sufragar e executar, se para tanto tiver os votos necessários. Que não seja estatista. Sobretudo que não seja anti-estatista vivendo e comendo do Estado.
Como afirma o Prof. José Manuel Moreira, “O mal que o Estado faz não é só ao sistema económico é também ao sistema político e – principalmente – ao sistema ético-cultural ao ter-nos feito com que as pessoas tenham perdido o sentido da íntima relação entre deveres e direitos. O que levou à substituição do direito a “procurar a própria felicidade” pelo direito a “desfrutar dessa felicidade”, a desfrutá-la, claro, à custa do orçamento público. O que nos arrastou para os problemas da despesa pública e pode acarretar, a prazo, a deslegitimação do próprio Estado.”
É esta direita que não havia que a NovaDemocracia se propõe representar. As diferenças relativamente ao CDS e ao PSD são óbvias.
(publicado na edição de hoje do Democracia Liberal)
1 Comments:
O texto do "Da Literatura" não é assinado pelo Eduardo Pitta.
Enviar um comentário
<< Home