domingo, outubro 29, 2006

Silêncio (II)

Japão. Primeira metade do século XIV, shogunato dos Ashikagaka. Um templo perdido na montanha. Quatro monges zen decidiram fazer um sesshin (espécie de retiro) em silêncio absoluto. Instalaram-se em zazen. Veio a noite. O frio cortante.
"A vela apagou-se!, diz o mais jovem dos monges.
- Não deves falar! É um sesshin de silêncio total, - observa severamente um monge mais velho.
- Porque falam, em vez de se calarem, como tinha sido combinado! - faz notar com humor um terceiro monge.
- Sou o único que não falou!", diz com satisfação o quarto monge.

Este episódio faz sorrir. Mas ilustra com exactidão a justeza do espírito do Zen. Troça-se dos monges, trata-se com humor o silêncio, do qual no entanto se sabe que é um elemento essêncial do caminho. É que o silêncio não é senão silêncio, ou seja, um meio. "Se encontrares o Buda, mata o Buda", diz uma máxima célebre.

*
Nada deve ser obstáculo à experiência pessoal.
in O silêncio
Os Melhores Contos Zen