domingo, outubro 22, 2006

Existir Eficazmente

Esta necessidade de estar só, de não sentir que te pedem seja o que for, que te separam de ti próprio. Este horror a que tenham o mínimo direito sobre ti, de que to façam sentir... Esta evidente impertinência dos outros, quando esperam qualquer coisa, quando take for granted alguma coisa de ti. Tornas-te de súbito distante, apagas-te, ficas rígido, repeles. Incapaz de dizer uma boa palavra. Pões ponto final e afastas-te. Rancor contra aqueles que tiveste de eliminar dessa maneira e que, por piedade, por espírito de sacrifício, tens de voltar a aceitar.
A saúde interior que dão a profissão político-moral e o contacto com as massas não é diferente da que provém de qualquer ocupação, de qualquer actividade a que um homem se consagre. Quando escreves e te entregas inteiramente à tua arte, sentes-te sereno, equilibrado, feliz.
E se tudo for apenas saúde, existir eficazmente? Que dirás no momento da morte?
Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'
Itália[1908-1950]Escritor