quarta-feira, janeiro 07, 2009

O nosso Primeiro-actor

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro

Foi fantástica, a tão anunciada entrevista da SIC ao nosso primeiro-ministro José Sócrates. Muito seguro do seu papel, tal qual deve ser um Primeiro-actor no teatro clássico italiano, fazia transparecer claramente “o adivinhar” das “deixas” dos entrevistadores, pois questão após questão, a entrevista decorreu plenamente ao sabor da vontade e da direcção do senhor primeiro-ministro, ou melhor dizendo, do nosso Primeiro-actor!

Durante todo o tempo da entrevista, ao contrário de que seria natural de supor, foram os jornalistas que demonstraram nervosismo e ansiedade, mantendo o primeiro-ministro uma postura sereníssima, e dominante, só possível nos tempos que atravessamos, a quem “imagina” poder estar protegido de todos os vendavais da crise, ou àqueles que já destituídos de quaisquer escrúpulos, dormem todos os dias descansados. Até mesmo, o jornalista Ricardo Costa, percebendo estar a perder o controle do ritmo de trabalho, da entrevista que deveria conduzir, a determinada altura interveio de forma infeliz interpelando «passemos a outra questão, antes que aqui fiquemos até à meia noite a falar de “ventoinhas”». É claro que entretanto, já Sócrates tinha aproveitado uns bons minutos para debitar texto sobre as gloriosas medidas do governo, e sobre os fantásticos programas criados para as energias alternativas.

Decididamente, o primeiro-ministro de Portugal, justificando-se com a necessidade de estabilidade necessária e com os males do mundo, não vive com certeza no mesmo país que nós, simples mortais, todos os dias afectados pela crise, sentindo “na pele” e nos bolsos esvaziados, as consequências das falências diárias, do desemprego, da insegurança, da falta de soluções, e do marasmo gerado pela inequívoca paragem das unidades produtivas.

Apesar, de pela primeira, vez Sócrates ter admitido que «Tudo aponta para um cenário cada vez mais provável de recessão», num momento em que todos já assistimos à efectiva mudança do cenário, o malabarismo que consegue encontrar no meio de tantas mentiras, para iludir os portugueses, só surte efeito porque na verdade, estamos duplamente perante um grande actor, salvaguardado por uma magnífica “máquina” de marketing, que não olha a meios, nem a custos para o preparar e maquilhar, e por outro lado, perante um homem sem escrúpulos.
Portugal merecia melhor, mas perante uma oposição tão fraca como aquela que temos neste momento no parlamento, estamos em crer que alguns portugueses até preferem viver na ilusão de que Sócrates pode falar verdade. Por vezes torna-se menos doloroso acreditar na “defesa do indefensável”, o que não passará de um adiar da realidade, e da inevitável saída do patamar dos palcos e das luzes da ribalta, para a dureza de um dia-a-dia onde já não há lugar para o convívio com a ficção.

Hoje, até já Vítor Constâncio prevê para 2009 uma quebra do PIB de 0,75%, proferindo afirmações impensáveis há uns meses atrás, e outros brilhantes economistas, contactados pelo “Económico” prevêem uma recessão acentuada para 2009, entre 0,2% e 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB).

E nós, em dia de Reis, já não acreditamos em oferendas políticas milagrosas, porque sabemos bem que estes números, não passam de números que ainda por magia, servem o sistema, mas que pela verdade, ao longo de 2009 engordarão de forma abrupta, fazendo emagrecer os mesmos de sempre, até que a corda um dia rebente.

Susana Barbosa
1ª Signatária do Partido da Liberdade
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

2 Comments:

At 12:22 da tarde, Blogger hfm said...

Susana penso que nós "já não acreditamos em oferendas políticas milagrosas" por muitas razões sendo que uma delas é porque deixamos de acreditar nos políticos donde, na política. Triste mas real.

Um beijo ainda com esperança.

 
At 6:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Nesta política de mentira, só vinga quem for bom actor. E Sócrates, sem qualquer dúvida, é-o.

É um bom actor e até pode ser um bom político. Sendo, porém, um mau governante, resta-lhe representar. Declama grandes tiradas para espanto do povo-espectador que, no fim, aplaudirá de pé.

E o Povo ilude-se com a ilusão da farsa. Porque a realidade é demasiado amarga e quanto mais amarga é, mais ilusão se procura.

Não se podem dizer verdades ao Povo. Porque o povo não as quer ouvir e porque se perdem eleições. Assim, o político-actor esconde a verdade sob as roupagens da mentira e, mentindo com tanta convicção, é, até, capaz de se convencer a si próprio de que são verdades as mentiras que nos diz.

Normalmente, estas coisas não se dizem e muito menos se escrevem. Não por receio, mas porque dizê-las é desmascarar a farsa que é esta política de soalheiro e isso não interessa a ninguém. Ou só a muito poucos, aos poucos que, ainda, têm convicções e Valores e que deles não abdicam.

V.Exa. teve a coragem de o fazer, o que só pode merecer-lhe admiração e respeito.

 

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