O regresso à terra
Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
«O REGRESSO À TERRA, MAIS DO QUE UMA VONTADE, TERÁ DE SER JÁ NA PRÓXIMA DÉCADA UMA URGÊNCIA, PORQUE SE TRATA DE UMA NECESSIDADE»
«PORTUGAL CORRE HOJE SÉRIOS RISCOS PELA SUA DEPENDÊNCIA DO EXTERIOR, E ESTA SITUAÇÃO É TRANSVERSAL A TODOS OS SECTORES, MAS NA AGRICULTURA E PESCAS, A SITUAÇÃO É AINDA MAIS CAÓTICA»
«Portugal importa 70% dos alimentos que consome, o que traduz uma inversão completa do cenário anterior, em que esses 70% correspondiam à auto-suficiência alimentar do País». Esta foi a principal conclusão do 3º Colóquio Nacional de Horticultura Protegida, que decorreu dias 7 e 8 de Novembro deste ano, no Auditório Municipal da Póvoa do Varzim, conforme noticiado pelo Jornal de Notícias (JN).
Os 200 produtores, empresários e investigadores, que reuniram na Póvoa do Varzim, concluíram pelo «falhanço da economia de mercado», nas palavras do presidente da Associação Portuguesa de Horticultores (APH), Manuel Soares, e reclamaram a regulação do mercado interno, e a concessão de incentivos para a competição no mercado internacional.
Já em Maio passado, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de um estudo realizado entre 2003 e 2006, nos alertaram para a preocupante situação de dependência em que Portugal se encontra, face às crescentes percentagens de importações de produtos alimentares. Quando se analisam por exemplo, produtos da nossa base alimentar, como os cereais produzidos no nosso país no ano de 2006, a situação torna-se ainda mais grave, pois apenas 16 por cento das necessidades internas são colmatadas pela agricultura portuguesa. No estudo apresentado, dados do INE indicam que o país importa mais de 90 por cento do trigo e da cevada consumidos, cerca de 70 por cento do milho, e mais de 60 por cento do centeio.
Importa pois, que estes dados não continuem a passar à margem das preocupações de quem nos vem (des) governando. Fechar os olhos a esta realidade, é contribuir para o profundo desequilíbrio de uma nação e para a sua inequívoca dependência do exterior. A globalização desenfreada asfixiou as economias agrícolas dos países mais pobres, e por sua vez, a terra deixada ao abandono constitui uma menos-valia para as gerações vindouras, que não reconhecem hoje na actividade agrícola uma forma digna de vida e de gerar riqueza, nem identificam na terra e na natureza a sua verdadeira importância para o progresso e para a auto-suficiência de um povo.
Uma nação que não cuida dos seus recursos naturais, será sempre uma nação aculturada e sem estratégia de futuro. Por muitas tecnologias de que possa dispor um povo, se as mesmas não forem colocadas ao serviço das suas necessidades básicas, de nada servirá essa pretensa evolução, pois faltar-lhe-á a sustentabilidade, que se aliará sempre à falta de independência.
Portugal corre hoje sérios riscos pela sua dependência do exterior, e esta situação é transversal a todos os sectores da economia, mas na agricultura e pescas, a situação é ainda mais caótica, porque perdemos a capacidade de explorar a nossa própria riqueza natural. As políticas de redução de cotas agrícolas e pesqueiras, em troco da ilusão de maiores fundos comunitários temporários, transformam-se agora num pesadelo, e Portugal tem de perceber a urgência de inverter políticas e mentalidades, a fim de ainda salvar a soberania que nos resta.
Receber subsídios para não produzir, fez parte de “resmas” de pacotes políticos absurdos de políticas de facilitismos. Hoje já estamos a pagar um preço elevado pelas asneiras cometidas pelo capitalismo global, e pelos desafios que as sociedades provocaram às próprias leis da vida. Mudam-se os tempos, mudam-se as necessidades, alteram-se os vícios e as vontades.
O regresso à terra, mais do que uma vontade, terá de ser já na próxima década uma urgência, porque se trata de uma necessidade. Reconhecer o valor da sua riqueza natural, será para cada povo o retorno às suas origens, à sua cultura, às suas tradições, ao recriar e ao reinventar de novas formas de vida, que substituam o “abandono” da agricultura e a “desertificação” hoje latentes, e que a par da modernidade adquirida, valorizem o que de mais nobre temos ao nosso alcance: a própria natureza e a liberdade de continuarmos independentes!
Susana Barbosa
1ª Signatária do Partido da Liberdade
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
4 Comments:
Não sei que mais elogiar! Se o amor pela terra, se o regresso às origens, se o sentimento de verdadeiro nacionalismo que ressalta do texto. Aquele nacionalismo que coloca sempre em primeiro lugar, Portugal e os Portugueses!
Regressar à terra, é já, para o Portugal actual, uma questão de sobrevivência. Não só individual, pelo que permitirá de independência alimentar, mas da própria Pátria, pelo restaurar das unidades económicas familiares, à volta de uma área de terra que lhes permite, não só a auto-suficiência, mas também a preservação das tradições e dos costumes característicos da nossa Identidade.
E quem diz, o regresso à terra, diz também, o regresso à nossa pesca, ao nosso comércio tradicional, à nossa pequena mas eficaz indústria, sem megalómanos projectos, de modo a que a riqueza produzida beneficie, em primeiro lugar, o nosso País e o nosso Povo.
Urge, para isso, revolucionar o Poder Local, de modo a que este represente, efectivamente, o querer das populações que representa, em especial daqueles que mais contribuem para o bem colectivo, coordenando vontades e esforços em prol de todos. É por um novo Poder Local que passará o ressurgimento nacional.
Do amor da terra partilhado. Um beijo.
adoro-teeeeeeeeeeeeeeeeeeeee.
regresso.
aqui. sempre.
Admiro bastante a lucidez dos seus artigos, que acompanho desde há algum tempo. Mas atenção que a Póvoa é "DE Varzim" e não "DO Varzim".
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