quinta-feira, novembro 06, 2008

Os jovens no avesso do futuro

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
As sociedades que seguiram o “mote” do capitalismo “ultra-radical”, são as mesmas que esvaziaram os jovens de princípios e valores. Estas sociedades venderam de tudo para saciar os jovens: jogos, consolas, computadores, música, moda, drogas, e até dinheiro fácil… mas afinal apenas venderam, e o principal objectivo resumiu-se à ganância do lucro. E quem fica então, para oferecer algo de bom às gerações que constituirão o futuro? Parece-nos que muito poucos para dar, e multidões para lucrar… E para lhes dar o exemplo? Isso então nem pensar!

São inúmeras, as lamentações que nos chegam todos os dias da parte de jovens que nos questionam sobre o futuro. Insegurança, crise na economia e na educação, dificuldades de habitação, desemprego, precariedade de «contratos a prazo» e de «recibos verdes», fazem a vida dos jovens «andar para trás», ou pior ainda, empurram mesmo os nossos jovens para a marginalidade.

Hoje, as novas gerações em vez de representarem a força e a esperança num futuro melhor, invertem o percurso natural da própria vida, que nos devia fazer acreditar na sua energia e criatividade, e mergulham num mundo de incertezas, sem esperança nem vontade para investir num futuro melhor. As sociedades capitalistas destituíram os jovens da capacidade de resistir às dificuldades, fazendo-lhes crer que como que por magia tudo se consegue «ter». «Ter e ter, e mais ter» … foi lema do facilitismo deste mundo feito à pressa. Para trás ficou o educar, e o «ser»!

Os nossos jovens, crescem assim com o futuro hipotecado à nascença. Os seus objectivos de curto prazo são «ter» casa e «ter» carro, o mais rápido possível, e para que tal aconteça, endividam-se até não poderem mais… Depois vêm as agruras da vida, com a perda de um emprego, ou a instabilidade do recebimento do salário, que os atira para as ruas da amargura, sem sustento para as muitas obrigações que foram assumindo.

Assim, os jovens vão perdendo a capacidade natural de empreender e de arriscar, na fase que deveria ser a mais inovadora das suas vidas. Os jovens de hoje são de tal modo enredados por um sistema fútil e supérfluo, que na sua maioria não lhes resta sequer tempo para questionar e pensar. As suas vidas apressadas num rodopio de competitividade desde a mais tenra infância, não lhes deixam tempo para a reflectir ou contemplar.

Os jovens dos nossos dias vivem sufocados e sem liberdade de acção, a pensar se o «vil metal» lhes permitirá sobreviver até ao final de cada mês. Perdem as energias a pensar nas contas da água, da luz, do gás, das prestações disto e daquilo para pagar. A sociedade de consumo foi montada para isso mesmo, para que não lhes reste tempo para mais do que trabalhar, consumir e pagar! Entralham-se de tantas coisas que de pouco servem, que esta sociedade lhes impinge, que nem percebem que empobrecem assim as suas vidas.

Falta aos nossos jovens a educação, a liberdade com responsabilidade, o espírito de sacrifício, e sobretudo o «exemplo», pois não identificam nas gerações supostamente maduras, o respeito e a dignidade que deveria ser o fio condutor das suas vidas. Hoje a crise de valores é tão grande, que estamos num mundo que já não oferece nada, só vende! À medida que os factores de risco se agravam no percurso dos jovens, os testemunhos que os adultos lhes deixam como herança, são insuficientes para lhes demonstrar que vale a pena mudar. Os valores da intriga, da inveja e da mediocridade social e política, enfraquecem os jovens desacreditando-os, e levando-os mesmo por vezes a prolongadas depressões.

Só podemos ter um mundo melhor, se nos consciencializarmos, todos, na emergência de investir na formação, estímulos e incentivos dos nossos jovens. Sem uma juventude sã, e com jovens insatisfeitos não haverá esperança que nos valha, mas nada neste mundo muda se não houver quem tente, e são urgentes políticos e políticas renovadas, para uma intervenção capaz e necessária dos jovens, na evolução e desenvolvimento das sociedades. Por um mundo mais livre e mais justo.
(publicado na edição de ontem do Diário de Aveiro)

4 Comments:

At 5:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É bem verdade que temos vindo a formar uma juventude amoral, que começa a ser, em muitos casos, incapaz de distinguir o bem do mal. Esta sociedade de capitalismo ultra-liberal, cuja preocupação consumista é, apenas, ultrapassada pela ganância, desistiu de transmitir Valores.

É, pois, culpa nossa e responderemos por esse crime – porque o é – perante a História.

Urge mudar de atitude. Urge perceber a absoluta necessidade do bom exemplo. O exemplo do trabalho, da honradez, da dignidade, da humildade…

Pode ser que, ainda, se vá a tempo!

Parabéns por mais uma excelente análise, na senda daquelas a que nos vem habituando.

E tão oportuna, que esta foi!

 
At 1:33 da tarde, Blogger isabel mendes ferreira said...

a tua palavra!


para esse mundo que tanto desejamos!



Tu____________________a Lúcida.



eu.

a seguir-te.



sempre.

beijo querida Su.

 
At 6:50 da tarde, Blogger hora tardia said...

o mundo ao avesso....que seja outro.


oh tanto que queria.

beijo.te minha Su.

 
At 11:15 da tarde, Blogger Vougario said...

parabéns Susana por ter a coragem de falar nos verdadeiros assuntos que mentem alermados os Portuguese.


Em relação a este assunto eu acho que ao contrário do que se pensa, os jovens não parecem fazer parte deste futuro que o Socrates quer para Portugal.(www.vougario.blogspot.com)

a importancia da joventude é algo que o PS não conhece, pois é de loucos as medidas politicas que continua a fazer.

Parabéns pelo artigo

Rui Pires da Silva

 

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