quinta-feira, outubro 02, 2008

Pânico, famílias e propriedade privada

Com a devida a vénia ao Diário de Aveiro
Depois de inúmeros alertas de analistas políticos, depois de estudos feitos, estatísticas divulgadas, e notícias inequívocas, até o Presidente da República já reconheceu a profunda crise em que o nosso país se encontra. Agora, já todos os dias aparecem novas declarações de reconhecimento da realidade, de ex-ministros, vários políticos, e representantes da sociedade civil, para além, evidentemente, de todos os protestos pronunciados pelo povo em geral, sentidos de uma forma transversal em todos os sectores do trabalho e da economia, e em particular na crise financeira das famílias.

É um facto, a crise económica e financeira despoletada pelo início da derrocada do neoliberalismo desenfreado dos EUA, crise essa que afecta grande parte das economias mundiais, como consequência de uma globalização desregulada e imposta pelo dito “capitalismo selvagem”, está a ter no nosso país, repercussões brutais para as classes médias, e só José Sócrates não enfrenta este “pânico” generalizado, ele mesmo, um dos culpados da adopção do pensamento económico neoliberal dominante em Portugal, ainda não o admitiu, continuando a preferir adoptar uma política baseada em dados falseados de interesse claramente propagandístico, continuando a atolar o país em despesismos supérfluos e agindo não em função dos problemas que afectam as pessoas, mas sim em conformidade com o calendário eleitoral que se avizinha.

Enquanto isso, o país real emagrece, as dívidas acumulam-se, e não se criam soluções nem rumos, que comecem a fazer face às embaraçosas situações em que se encontram milhares de portugueses. O mês de Setembro veio comprovar o que afirmamos, pois já é conhecido publicamente, que as habituais prestações de IMI que os cidadãos deveriam ter entregue ao Estado, se situaram nas mais altas percentagens de incumprimento, por declarada falta de liquidez financeira das famílias. Hoje, com as taxas de juro em ascensão diária, as pessoas não conseguem fazer face às prestações dos empréstimos, nem às despesas essenciais, quanto mais aos impostos crescentes sobre a propriedade privada.

As reavaliações de imóveis convenientes ao Estado, e as elevadas taxas de impostos sobre o património, não passam de um método disfarçado, e de uma expropriação encapotada da propriedade privada. Como prova disso, constatamos as penhoras diárias de imóveis anunciadas nos meios de comunicação social, e os inúmeros anúncios de vendas, não apenas nas grandes cidades, mas presentes em todas as vilas e em todas as aldeias, de norte a sul do país.

Existe efectivamente, um ataque desavergonhado deste neoliberalismo à propriedade privada, que está a levar as pessoas a desembaraçarem-se a qualquer custo dessa mesma propriedade, e pior ainda é o resultado deste caos, que oferece a oportunidade de pertença a meia dúzia de instituições, colocando o direito à propriedade cada vez mais nas mãos de menos, destruindo as classes médias e os trabalhadores em geral, levando à falta de equilíbrio e desagregando famílias, e gerando falta de solidariedade entre grupos sociais, fazendo com que se avance a passos largos para um clima pré-revolucionário.

Os governos devem trabalhar em políticas de sustentabilidade, e têm definitivamente de perceber que essa sustentabilidade só se consegue através do apoio aos trabalhadores em geral e às suas famílias, agora envolvidos numa nova escravidão, a escravidão da dívida. Os governos têm de perceber que urgem políticas de austeridade, não apenas para alguns, e que é emergente um plano de acção de bonificação de empréstimos, como já em tempos existiu, e uma baixa generalizada de impostos dirigida às famílias, a par de planos de incentivos e reanimação para os pequenos e médios comerciantes, pequenos e médios industriais e agricultores, que ao contrário das multinacionais que por cá se vão tão depressa instalando como deslocando, sempre constituiram a base do nosso bem estar social e da nossa harmonia económica.

Hoje, interesse ao “sistema” que não haja tempo para pensar, muito menos para reflectir, a vida vive-se “às pressas” entre as ilusões do “ter” que ocupam descaradamente a essência e o lugar do “ser”, alimentando-se sem dar conta novos monstros capitalistas. Nasce-se endividado e morre-se endividado. Começa por cada um de nós, investir na necessidade de provar a mudança, e na força de acreditar que é possível mudar. Para isso são necessárias acção, “atitude”, e novas posturas, enquanto é tempo!
Susana Barbosa
1ª Signatária do Partido da Liberdade
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

3 Comments:

At 9:34 da manhã, Blogger hfm said...

As mudanças que este capitalismo desenfreado precisa! Um beijo.

 
At 10:33 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Cumprimentos.

Devemos estar agradecidos por escrever sobre aquilo que poucos falam: o ataque à pequena propriedade privada, às classes médias e remediadas, facilmente expostas, pela sua fragilidade, às agressões do capitalismo neoliberal.

E depois os (des)governantes, em lugar de governarem em função dos problemas que afectam as pessoas, (des)governam em função dos seus próprios interesses.

Pobre País!

 
At 9:38 da manhã, Blogger isabel mendes ferreira said...

querida Su.


deixo-te o Piano reaberto. parto por uns dias....virei dep. aqui. como aquele sempre.


beijo-te!!!!!!

 

Enviar um comentário

<< Home