quinta-feira, outubro 16, 2008

Da realidade à ficção política de Sócrates

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Face a uma conjuntura de crise efectiva como a que atravessamos na actualidade, é extraordinário analisar o comportamento dos mais altos responsáveis de Estado da nossa nação. É tão preocupante quanto hilariante, e não encontro melhor expressão para atribuir à postura de José Sócrates, do que aquela que há uns dias ouvi num comentário político de um amigo – estamos a ser governados por uma política de ficção, mais não temos por primeiro-ministro, do que um senhor que teima em ignorar a realidade e insiste em fazer crer que vivemos no país das maravilhas, estamos perante “O SENHOR PROPAGANDA”.

O momento de crise financeira internacional, veio servir “como uma luva” ao nosso primeiro-ministro que já iniciou o discurso da desculpabilização do governo. Contradizendo todos os estudos dos últimos anos do FMI, Eurostat, e Banco de Portugal, que apontam os medíocres resultados da nossa economia, Sócrates insiste na mentira, afirmando agora que «o governo estava a fazer um bom trabalho com resultados surpreendentes que se tinham já traduzido na recuperação da economia e no crescimento económico. Mas agora uma crise externa imprevisível, de que não tem culpa, veio estragar o bom trabalho que estava a fazer». É este o novo discurso de desculpabilização do governo.

Importa pois desmontar esta mentira oportunista, pois quem está atento à realidade, bem sabe que Portugal se encontra há largos anos em derrapagem económica e financeira. Em 2005-2007, segundo o FMI, a taxa de crescimento económico foi pouco superior a 1% ao ano, e portanto um crescimento asténico. Para 2008 o crescimento previsto é apenas 0,8%, e de 1% em 2009. E os valores 2008-2009 são previsões que poderão ser ainda corrigidas, tal como aconteceu com as anteriores previsões do próprio FMI, do governo e do Banco de Portugal — pois é cada vez mais evidente que o País caminha novamente para a recessão económica. Nos últimos anos a taxa de crescimento do investimento foi reduzida, e segundo o FMI o seu valor diminuiu entre 2007 e 2008, o que revela, por um lado, uma degradação crescente do aparelho produtivo português devido ao reduzido investimento realizado e, por outro lado, dificulta, para não dizer mesmo que impede, que no futuro Portugal possa atingir melhores taxas de crescimento económico.

Ainda segundo estudos do FMI, «o saldo das relações de Portugal com o estrangeiro, tem apresentado elevados saldos negativos. Em 2004, o saldo negativo foi de -10.900 milhões de euros e, em 2008, o FMI prevê que atinja -19.400 milhões de euros, ou seja, praticamente o dobro, o que é indicador da crescente falta de competitividade da economia. Como consequência, o endividamento do País ao estrangeiro atingiu valores assustadores, hipotecando o futuro de Portugal. Entre 2004 e 2008, o valor dos activos portugueses pertencentes já a estrangeiros aumentou de 92.900 milhões de euros para 166.300 milhões de euros (99% do PIB), o que fez que o valor do rendimento gerado no País transferido para o estrangeiro aumentasse vertiginosamente atingindo, em 2008, cerca de 21.868 milhões de euros. Em 2004, cerca de 18% do PIB e, em 2007, o correspondente a 20,5% do PIB foi para o estrangeiro, deixando o País e os portugueses mais pobres».

Na verdade, o neoliberalismo que levou à actual crise mundial, foi durante anos o “mote” adoptado não só por Sócrates, mas também por todos os responsáveis que hoje tanto lamentam a crise como Cavaco Silva, António Guterres, ou Durão Barroso. A ganância que não olha a meios para atingir fins, levou ao estado em que hoje se encontra Portugal e já não há “Propaganda” nem “Magalhães” que nos valham.

Perante a grave crise que abala o sistema mundial do capitalismo desenfreado, o mundo das “ilusões” acabou, e de nada adiantarão mais políticas de ficção e de invenção de “milhões” que já não existem, porque a realidade falará mais alto, e este caos só se ultrapassará com o fim da “subsídio-dependência” e com o regresso ao trabalho, com o regresso à identidade e estímulo da nossa indústria, do nosso comércio, da nossa agricultura e das nossas pescas, gerando uma produtividade mais independente, de uma nação que ainda se pretende livre, num mundo moderno mas mais justo, onde a responsabilidade caminhe a par com a verdadeira liberdade.

Susana Barbosa
1ª Signatária do Partido da Liberdade
(publicado na edição de ontem do Diário de Aveiro)

3 Comments:

At 10:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muito bem!

Análise incisiva, concisa e precisa! Em poucas palavras, porque não são necessárias muitas para ir ao fundo da questão.

Não é novidade que as crises do mundo capitalista são cíclicas. Todavia, quem com elas beneficia, esconde-o, porque somos sempre nós que as pagamos. Se o sistema financeiro dá lucro, privatiza-se, se dá prejuízo, nacionaliza-se. Até de forma encapotada, como agora, por via do aval dos diversos Estados.

Onde pára o livre comércio, a livre circulação de capitais e bens, tão caros aos nossos eurocratas? O neo-liberalismo capitalista só valeu, enquanto interessou. Veio a crise e é o “salve-se-quem-puder” geral!

Importa, pois, como muito bem diz, retornar aos Valores da Pátria, às fronteiras económicas, e “com o regresso ao trabalho, com o regresso à identidade e estímulo da nossa indústria, do nosso comércio, da nossa agricultura e das nossas pescas” recriar as condições de independência económica, características da “verdadeira liberdade”.

 
At 8:03 da tarde, Blogger isabel mendes ferreira said...

contigo "aprendo" tanto.....


contigo fui passando o tempo.pelo fio da amizade.



contigo sempre Querida Su.


até que a vida nos seja mais plena e direita.



gosto-te muito.

 
At 10:54 da manhã, Blogger Unknown said...

Um beijo, Susana.

 

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