quarta-feira, janeiro 14, 2009

O «Urso Russo»

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Reaparece em todo o seu esplendor, e maior importância, no Inverno, como que desafiando o frio e as imensas camadas de neve que o envolvem. E assim acontece, porque este «Urso Russo» se sente perfeitamente confortável e adaptado ao frio, e mais do que isso, é nesta altura do ano que pode cobrar mais alto o preço das suas reservas naturais, e até mesmo vingar-se com as suas valias e o poder que lhe é inato, daqueles que durante o resto do ano vão fazendo por o ignorar.

Referimo-nos naturalmente, de forma metafórica, à Rússia, ao maior país do mundo, pois possui um território com a maior área total – 17.075.200
km², constituída pela parte continental e diversas ilhas à sua volta, e que apesar da sua baixa densidade populacional, tem a sétima maior população do mundo, com mais de 152 milhões de habitantes, e é uma nação transcontinental cujo território ocupa uma vasta área da Ásia e da Europa.

Após o recente, e recorrente conflito, entre a Rússia e a Ucrânia no que concerne ao abastecimento de gás natural russo a este país, e até aos possíveis desvios na passagem deste gás natural para vários países da União Europeia, sentimos a necessidade de uma reflexão sobre estes importantes acontecimentos, e que verdade seja dita, quase todos os anos se repetem por esta altura do pico do Inverno, deixando “gelados” todos aqueles que tomam consciência da sua enorme dependência do «Urso Russo».

Ao que se sabe, a Rússia é o maior exportador mundial de gás natural, e 80% da Europa depende do gás russo, para além de que a Rússia faz parte do G8, e graças às exportações de petróleo e do gás natural, tem uma economia rica e em constante crescimento. Por outro lado, apesar disso, a Rússia ainda convive com o flagelo da pobreza em várias regiões, e depara-se também com graves problemas do crime organizado, da corrupção, e da falta de liberdade de expressão, o que enuncia as suas fragilidades na actualidade, não conformada com a derrocada do Império de outrora, que influenciou de forma inequívoca os destinos do mundo.

Hoje, após a mediação da UE dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia, e apesar dos acordos que Bruxelas conseguiu entre Moscovo e Kiev, nós interrogamos, mas com que ónus?

Esta não é a primeira vez que a UE é apanhada de surpresa pela Rússia, neste e noutros conflitos, gerindo-os de forma displicente e desatenta, e não será por certo a última, porque todavia, pagando atempadamente e aos mais altos preços o gás natural, este terá sempre de passar pela Ucrânia, que importa não esquecer, também não faz parte da UE nem da NATO, o que faz da própria UE, a principal aprisionada do problema que representa a sua dependência deste gás natural.

Porque se preocupa tanto esta UE federalista, com a adesão da Turquia, e não equaciona a sua aproximação à Rússia? Será por receio ou preconceito? Ou será apenas por equívoco, ou falta de visão estratégica?

Será bom que se passem a debater estas questões, olhando de frente para os problemas reais, em tempo certo, dada a importância que elas apresentam para o futuro de todos nós.

De resto, esta pretensiosa União Europeia, só teria a ganhar com a aproximação à Rússia, porque para além dos preciosos combustíveis, a Rússia tem uma imensa reserva agrícola, também faz importações da UE, e mais do que toda a riqueza que possa representar a sua economia, tem uma imensa, portentosa, rica, e inequívoca cultura secular, marcante na Europa, e uma identidade que nos é próxima. Não nos parece pois positiva, a desatenção que a UE apresenta em relação a este potencial, deixando-o aproximar-se à cobiça da China, e que colonizado por chineses, só a todos poderá trazer prejuízos.

Susana Barbosa
1ª Signatária do Partido da Liberdade
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

3 Comments:

At 9:41 da tarde, Blogger isabel mendes ferreira said...

leio-te. como sempre.


encantada por te re.saber tão clara.



obrigada querida Su.

 
At 10:48 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Uma análise que me parece muitíssimo lúcida.

Não sou, reconheço-o humildemente, grande entendedor no que respeita a política externa. Normalmente, vou acompanhando os casos pelos jornais, sem me preocupar demasiado com os porquês respectivos. Reconheço, porém, a interdependência mundial dos diversos acontecimentos, razão pela qual eles nos deveriam preocupar, também, a par de tudo quanto se vai passando dentro das nossas portas.

A sovietização da Rússia, afastou-a da Europa e de todo o Ocidente. Independentemente dos graves problemas com que se debate, a verdade é que deu alguns passos já, no sentido de uma sociedade livre e democrática. Os preconceitos, a que se refere, não se justificam actualmente. Vão longe os tempos da “guerra-fria” e a EU tem, efectivamente, o dever de olhar para este “Urso Russo” com outros olhos. Com olhos que vejam a grandiosidade deste Povo, a riqueza da sua cultura e todo o seu potencial económico. Para que venha a fazer parte duma nova Europa que queremos seja, pelo menos, até aos Urais.

 
At 9:47 da manhã, Blogger hfm said...

Um beijo, Susana.

 

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