quarta-feira, março 11, 2009

A Crise Criminosa

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
Já ninguém a consegue negar. A crise é nacional, a crise é europeia, a crise é mundial. A crise veio para ficar, e torna-se tanto mais grave, quanto mais transversal se manifesta em todos os sectores sociais e económicos de todo o mundo, e tanto mais criminosa, quanto maior é a “ganância” que se constata na sua origem.

Esta semana, pela primeira vez, o Presidente da República Cavaco Silva, afirmou não ter soluções para o país e expressou publicamente a sua preocupação e tristeza com a situação de Portugal, e no mesmo dia, o analista político e fiscalista, Medina Carreira, veio afirmar numa entrevista a Mário Crespo na SIC Notícias, que para esta crise “nem Jesus Cristo teria soluções” e de seguida, arrasou a democracia portuguesa e expressou a sua total descrença no sistema e nos partidos políticos.

Em cada acção de rua que semanalmente fazemos, constatamos que os cidadãos na sua generalidade nos afirmam a nós, o mesmo que Medina Carreira afirmou ao país na SIC Notícias. Dizem-nos que já não acreditam em nada, que os políticos andam todos “ao mesmo”, ou seja, à procura de um “tacho”, dizem-nos que já nada vale a pena fazer, dizem-nos que não querem saber da política para nada, dizem-nos que “já não há remédio para nada”…

Com todo o respeito que temos por todos os cidadãos, sejam estes o próprio povo, o Presidente da República, ou qualquer conceituado analista político, damos connosco a interrogarmo-nos:

- Que fazer então?
- Admitimos que não há soluções e “encerramos o país”?
- Deixamos que nos continuem a (des)governar e a enganar desalmadamente?
- Se acreditamos que já nada vale a pena, vamos “dormir” até que a crise passe?

Se a origem desta crise é tão criminosa como pensamos, será também crime, “rendermo-nos” ao comodismo, pactuando com ela, ainda em vida!

Há pois que fazer a “desmontagem” da própria crise. Para lutar contra a crise é necessário perceber porque é que ela existe. De uma forma directa e simplista, podemos afirmar que a crise é fruto da falência do sistema, e que este sistema é o mesmo que nos quis iludir que era possível viver com muito dinheiro sem trabalhar!

Visto assim, é fácil compreender que um dia a falência “bateria à porta” de tanto facilitismo… A ganância dos homens, a sua ascensão e a sua queda, repetem-se ao longo da história da humanidade, com a diferença de que dado o caminho da globalização desenfreada por que enveredámos, desta vez, o seu efeito é também avassalador, pela própria repercussão totalitária em que nos vemos enredados.

Durante décadas a fio, o poder mundial foi-se moldando à volta da concentração dos grandes capitais, à volta da “alta finança”, e para a obtenção de lucro, e mais lucro, não se olhou a meios para atingir fins. A bem dizer, passou-se do “oito para oitenta”. Passou-se do dinheiro guardado “debaixo do colchão”, para o “dinheiro virtual”, isto é o mesmo que dizer que passámos de uma filosofia de poupança para uma filosofia de endividamento. E quem lucrou com esta mudança? Claro que foram os sistemas financeiros mundiais e todos os que os tornaram permissíveis, sob o lema “use agora, deite fora, e pague depois”!!!

De “mãos dadas” com o desenvolvimento deste capitalismo ultra-radical, andaram as políticas e os políticos a nível mundial e os lobies financeiros, aos quais pelo aumento imparável de ganância, se associaram a concentração de poderes, a corrupção e o crime. Entretanto, quase sem dar conta, as classes médias trabalhadoras foram sendo esvaziadas. A nível mundial, os campos foram abandonados, a terra, antes sinónimo de riqueza, passou a representar subdesenvolvimento, os plásticos substituíram as cerâmicas e as porcelanas, e em última análise, os “hambúrgueres” e a “coca-cola” impuseram-se ao mundo como “alimento universal”, colocando-se de parte os velhos sabores tradicionais de cada continente, de cada país, de cada região.

Sofremos hoje com os erros que se cometeram, e fruto disso é a crise mundial em que nos encontramos. É urgente inverter políticas e valores, é urgente perceber que o mundo tem de parar de girar ao contrário. Não podemos dormir descansados, enquanto uns tantos nos continuam a mentir, enquanto engordam à custa dos juros do capital que já não existe, e do dinheiro dos nossos impostos enquanto vamos pagando, não podemos deixar que a riqueza se concentre cada vez mais nas mãos de poucos.

A mudança tem de ser possível, esta crise tem de ter um fim, a corrupção e o crime têm de ser combatidos, os equívocos têm de ser corrigidos. Não podemos continuar a consumir sem produzir, não podemos continuar a ver aculturar as nossas crianças com os falsos progressos dos “Magalhães”, e se queremos ter uma vida melhor, temos de começar por salvar a nossa própria casa, antes de querer salvar o mundo.

Mais vozes alternativas têm de emergir, mais vozes incómodas têm de gritar, mais sede de justiça e de bom senso tem de ser motivo, mais liberdade com maior responsabilidade, tem de ser uma luta para se tornar realidade.

Susana Barbosa

1ª Signatária do Partido da Liberdade

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

2 Comments:

At 9:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Aprendi, há muitos anos, que a estrutura económica da sociedade assenta na existência de dois grupos humanos, um dos quais, minoritário, é possuidor dos meios de produção e o outro, maioritário, é, apenas dono da sua força de trabalho, que vende ao primeiro grupo.

Era a visão marxista da sociedade, dita capitalista. O grupo minoritário tenderia a enriquecer cada vez mais, pela apropriação de grande parte da mais-valia que o outro criava. Sendo o ser humano igual em dignidade, há que reconhecer que se tratava de uma sociedade fortemente injusta, pelo que, vários teóricos ao longo do tempo, preconizaram outros sistemas porventura correctores desta distorção social.

Além de injusta, a estrutura capitalista da sociedade, e à medida do seu próprio desenvolvimento, originava um conjunto de factos económicos – cerceamento salarial, falências dos empreendedores menos competitivos e absorção destes pelos mais bem sucedidos, desemprego, inflação e outros mais – de que resultava, a par de um aumento da capacidade produtiva, uma sociedade com cada vez menor poder de compra. Desta contradição, surgiram as bem características crises do sistema, por enquanto relativamente localizadas e de dimensão assaz reduzida, tantas vezes resolvidas graças à economia de guerra de uma guerra qualquer.

Falhadas que foram as tentativas socialista e comunista, as sociedades optaram por vias intermédias que não alteravam as características capitalistas – a propriedade privada e o livre mercado – mas corrigiam o resultado da sua acção. E traziam consigo a vantagem de, de forma livre, o ser humano dar asas a toda a sua imaginação, à sua capacidade de empreender, de trabalhar, de criar, de produzir, distinguindo-se, os indivíduos, pelo mérito de cada um.

Entretanto, aparecera uma nova mercadoria que veio deformar a estrutura: o dinheiro. Este, inicialmente um meio prático de relacionamento mercantil, ganhou vida própria, digamos assim, e passou a ser objecto de acumulação com vista ao domínio económico. Surgiram gigantes financeiros, sobretudo a Banca, com capacidade, agora, para controlar todas as outras actividades. Mas mais: transpuseram fronteiras, estenderam os seus tentáculos por toda a parte, globalizaram-se, fundindo-se com os seus iguais onde isso convinha e compraram o que os Estados privatizaram. Cresceram, monstros alimentados pela parte de leão da riqueza que a humanidade produz e para a qual pouco ou mesmo nada contribuíram. E, como quem controla o dinheiro controla o crédito, controlaram, consequentemente, tudo.

É a este monstro criminoso que devemos esta Crise Criminosa.

Esta nova era capitalista foi, de início, saudada com o entusiasmo de quem pensava que era o caminho para o fim das crises cíclicas. O mercado auto-regular-se-á, o mercado, auto-corrigir-se-á, era o dogma do neo-liberalismo reinante, condenando, ao mesmo tempo, quaisquer veleidades proteccionistas. A alta finança rejubilava e inchava como a rã do conto. E, de tanto inchar, um dia, rebentou.

Não acredito que seja difícil encontrar as medidas adequadas, mas necessárias, ao combate à crise. É, apenas, necessária, alguma vontade e, sobretudo, abandonar de vez este falso conceito de liberdade que, afinal de contas, nos escraviza. Bastará, quanto a mim, encarar como necessário o proteccionismo económico, defendendo a humanidade, país a país, dos interesses egoístas do Capital Financeiro. Com este não me preocupo muito. Mesmo nada. Que pague a crise que criou, que não soube prever e que não foi capaz de evitar, em prejuízo de todos.

 
At 9:02 da manhã, Blogger isabel mendes ferreira said...

Tua, a voz!

incómoda porque delatora!



meu o beijo. sempre a seguir-TE.

 

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