sexta-feira, julho 10, 2009

Manuel Pinho no país das maravilhas

Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
«O nosso país vive uma das maiores crises de todos os tempos, porque acumula uma enorme crise de valores à crise económica e financeira que a nação atravessa»
Manuel Pinho saiu deste governo tal como entrou, um teórico e desconcertante economista que, para pior dos nossos pecados, nunca viveu no país real. O cabeça de lista por Aveiro às legislativas, que conhecemos pessoalmente, demonstrou logo no distrito a sua penosa ignorância sobre tudo e todos os que pretendia representar, e poucos meses depois, e infelizmente para todos os portugueses, até à passada semana, não parou de nos contemplar com episódios aberrantes do mais profundo desconhecimento da realidade de Portugal.

Quando chegou ao poder, Manuel Pinho demonstrou que vinha de férias, e passados quatro anos, na hora de se retirar afirmou publicamente que “Agora o que quero passar é umas belíssimas férias”. Decididamente o homem não demonstrou um mínimo de respeito por Portugal, nem pelos portugueses, numa altura em que a crise impede milhares de cidadãos de gozarem o seu descanso numas férias tranquilas, o responsável em grande parte por muitos dos problemas da economia por resolver, virou costas numa atitude irresponsável, aliás como quase todas as que tomou ao longo do seu mandato.

Manuel Pinho a propósito do futuro não confirmou se voltaria para o Banco Espírito Santo depois de umas “belíssimas férias”, e afirmou ainda “não estou convencido que tenha de ter angústias a esse propósito”. No dia seguinte, o famoso empresário Joe Berardo em entrevista à SIC Notícias, convidou Manuel Pinho para o cargo de administrador da sua fundação, frisando que tinha «admiração» pelo ex-ministro da Economia.

Ora nem mais, angústias para quê? Que melhor poderia almejar um ministro incompetente como foi Manuel Pinho?

E como um mal nunca vem só, Teixeira dos Santos, actual ministro das Finanças, acumulou esta segunda-feira a pasta das Finanças com a da Economia e Inovação, já que Manuel Pinho se demitiu, depois de ter deixado em apoteose a Assembleia da República, onde simulou chifres, um gesto considerado insultuoso, que foi dirigido ao líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares.

Quanto ao mais, serão apenas três meses que teremos de esperar para que o cenário mude com novas eleições legislativas, e enquanto isso as classes médias esvaziam-se, as empresas encerram-se, Portugal afunda-se, as esperanças esgotam-se.

O debate sobre o Estado da Nação, esse passou à margem do que foi afinal o mediatismo de mais um triste episódio do estado dos políticos. E depois admiramo-nos com a falta de respeito nas escolas, com a falta de ética nos serviços, com a falta de profissionalismo nas mais variadas profissões, e com a falta de educação mesmo no seio das famílias!

Portugal continua a girar ao contrário, e os exemplos de dignidade são cada vez mais escassos para que possamos demonstrar às novas gerações que vale a pena ser correcto, honesto e honrado. Cada vez mais, os jovens são atirados para a selva da competição a qualquer preço, aquela que não olha a meios para atingir os fins.

O nosso país vive uma das maiores crises de todos os tempos, porque acumula uma enorme crise de valores à crise económica e financeira que a nação atravessa, onde a esmagadora maioria vive num país sufocado, angustiado, triste e sem rumo, e onde uma inebriada minoria vive no “país das maravilhas”.
Susana Barbosa
1ª Signatária do Partido da Liberdade

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)

1 Comments:

At 7:07 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Excelente artigo!
Do melhor que tenho lido, de sua autoria!
Manuel Pinho “deixou-nos”, e ainda bem, mais cedo do que se esperava, permitindo-nos algum alívio nestes três meses que ainda faltam para nos vermos livres da restante companha.
Fica-nos a esperança de que os substitutos sejam melhores do que os substituídos, mas não creio muito nisso. Não creio mesmo nada, pois a massa de que são feitos é a mesma.
O mal da política são os políticos, ou, melhor, estes políticos!

 

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