terça-feira, novembro 14, 2006

A anestesia do poder

“A perda da ressonância afectiva às noções de bem e de mal”: foi aquilo que eu senti no que pude acompanhar durante o passado fim-de-semana, relativamente ao Congresso do Partido Socialista.

Senão vejamos:
1) Como é possível ser José Sócrates reeleito com 97,2% dos votos dos militantes socialistas?
2) Como pude eu reconhecer professores meus amigos com assento no Congresso, que sei que ainda há dias rumaram a Lisboa para participar nas manifestações de protesto contra as actuais políticas da Ministra da Educação?
3) Como pude eu reconhecer tantos médicos conceituados com assento no Congresso, que no passado mês de Outubro, na Convenção da Ordem dos Médicos que se realizou no Centro Cultural e de Congressos em Aveiro, se indignaram duramente contra as actuais políticas da saúde, e inclusivamente o manifestaram na presença de Correia de Campos, actual Ministro da Saúde?
4) Mediante a decorrência dos dois anteriores pontos, como é possível que a moção de José Sócrates tenha ganho com apenas 1 voto contra de Helena Roseta, e apenas 6 abstenções?
5) Porque se ausentavam da sala as vozes gritantes da discórdia, dentro do seio do PS, sempre que havia lugar a votações?
6) Porque é que em três dias de Congresso, Manuel Alegre só apareceu para recusar o convite que lhe foi feito por José Sócrates para a Comissão Nacional do Partido Socialista, e resolveu dar a graça da sua presença apenas num só dia?
7) Porque é que os militantes em Congresso tudo aplaudiam, apesar das suas convicções contrárias fora daquela sala, e das suas adversidades políticas públicas com o próprio rumo que José Sócrates vai impondo no Governo, que como constatamos são radicalmente diferentes daquilo que o Partido Socialista a todos os portugueses prometeu nas últimas Eleições Legislativas?
As sete questões enunciadas anteriormente, são mais do que suficientes para percebermos que temos um Partido Socialista anestesiado pelo seu líder, que mesmo navegando nos caminhos da mentira, ilude e deslumbra nas teias hiper calculistas do marketing e inebria os militantes pela sua posse do poder num governo com maioria socialista.
Pois… claro está que o “Poder” conta tudo! A cobardia dos instalados no poder pesa mais do que o risco que seria afirmarem-se por aquilo que verdadeiramente pensam ideologicamente ou aquilo que sentem no seus mais íntimos princípios.
É pena que a massa humana seja tão frágil, tão dependente, tão pouco corajosa, tão deslumbrada com o bem-estar do poder. Ficou a perder o partido socialista, que com toda a certeza continuará a viver os seus dias numa podre unanimidade. Ficou a perder o país, que continuará a viver num vazio de protestos, de inconformismos, de lutas inglórias, enfim, de mais sofrimentos.
Mas nós sabemos que o “engano também é como o azeite, mais tarde ou mais cedo virá acima” e que a verdade, essa impõe-se naturalmente à ilusão, e nessa altura vermos o que realmente vencerá. Tal como já dizia António Aleixo: «Vós que de lá do vosso império prometeis um mundo novo, calai-vos que pode o povo querer um mundo novo a sério».
(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

8 Comments:

At 1:11 da tarde, Blogger mfc said...

A hipocrisia é imensa!
TENS RAZÃO NOS REPAROS FEITOS.

 
At 6:13 da tarde, Blogger AC said...

Aquilo foi mais um encontro de amigos onde se confundiu o congresso de um partido político com o governo, como se fosse uma e a mesma coisa. Quanto às questões, é habitual nos portugas: ter duas caras e usar circunstancialmente, a que mais convém.

Cpts.

 
At 11:04 da tarde, Blogger Al Berto said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 11:06 da tarde, Blogger Al Berto said...

Olá Susana:

Este artigo, completamente vesgo de análise política, reflete a ignorância de quem, por ver a política a partir dos zero vírgula qualquer coisa por cento, tem dum partido de governo e que, no caso, dispõe de uma maioria absoluta no parlamento.

Utiliza linguagem imprópria e carece de objectividade caindo numa vulgaridade populista sem sentido própria de irresponsável político.

"... A cobardia dos instalados no poder pesa mais do que o risco que seria afirmarem-se por aquilo que verdadeiramente pensam ideologicamente ou aquilo que sentem no seus mais íntimos princípios."

é duma lamentável e infeliz qualidade para além de ser gratuitamente insultuosa.

Grande parte das pessoas presentes nesse Congresso combateram pela democracia e pelas liberdades para Portugal, coisa que muitos dos neo-preocupados com a nossa vida política e com a qualidade da nossa cidadania nada fizeram ou são descendentes de antepassados que de democratas nunca nada tiveram, bem pelo contrário.

Estes sim é que são os verdadeiros covardes que agora muito falam mas que em tempo de ditadura calaram o "bico".

Que o autor do artigo se não preocupe porque:

-"Os cães ladram, mas a caravana passa"

... e Portugal progride.

Um abraço,

 
At 11:11 da tarde, Blogger martim de gouveia e sousa said...

a sério, um mundo novo. bjo.

 
At 12:24 da manhã, Blogger Migas (miguel araújo) said...

Cara Susana
Excelente texto. E com muita clareza, apenas falha em dois aspectos.
Sejamos lógicos: a política é subserviente e cheia de "servos" e teias de interesses.
E o que hoje é verdade, amnhã será, decididamente, mentira.
Cumprimentos

 
At 4:25 da tarde, Blogger veritas said...

Olá!

"É pena que a massa humana seja tão frágil, tão dependente, tão pouco corajosa, tão deslumbrada com o bem-estar do poder." Transcrevo esta frase, porque é o que ficou a ecoar na minha memória, porque é o que se aplica a todos os sectores da nossa vida, porque é um mal que se detecta,mas todos ficam inertes e por isso é uma tendência que temos de nos esforçar por inverter!

Bjs.

 
At 11:40 da tarde, Blogger José Manuel Dias said...

Não há memória de políticos quedigam o que têm que dizer e que prometem fazer, não se importando com os votos mas com o interesse dos portugueses. Cavaco, está contente porque têm um Primeiro Ministro que é capaz de fazer o que ele teria gostado de fazer. Colocar ordem e rigor no modo como se gere o Estado, que o mesmo é dizer, o dinheiro de todos nós. E a mim, que sou contribuinte, custa ganhar o dinheiro, aprecio quem tem da vida política um espírito de missão e não faz como outros um " bodo aos pobres e aos ricos" com o nosso dinheiro.
O Manuel Monteiro compreende a justeza das decisões, a Manuela Ferreira concorda e o Cavaco Silca exprime a solidariedade. Um Partido político com vocação de poder discute o país. Foi o que foi feito sem entrar em intrigas, pensou-se no interesse de todos.
Gostei, em particular, a reafirmação do respeito pela vontade do povo no referendo sobre a despenalização do aborto e da decisão em continuar as reformas apesar dos protestos dos profissionais " do contra" e dos que dependem da política.
imentos

 

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