sexta-feira, setembro 23, 2005

O Primeiro Cavaquista

Por Jorge Ferreira, no tomarpartido
A proto-candidatura de Cavaco Silva aparece desejada por um inultrapassável anseio de segurança na tabuada financeira do défice e da restauração da autoridade do Estado, que hoje é abertamente posta em causa na rua pelos cônjuges da tropa e nos tribunais pela greve dos juízes.
Pouco interessa saber se Cavaco Silva em Belém nada pode fazer para reconduzir os juízes à beca e as mulheres dos militares ao doce remanso do lar. Pouco interessa saber se Cavaco Silva poderá usar a sua tabuada anti-monstro e pouco interessa até recordar que é o próprio Cavaco Silva o recordista da despesa pública nos idos de noventa.
O que interessa é que como dizia o velho sábio (quando ainda não existia televisão…), o que parece é. Em política. O problema é que já não estamos no domínio da política, mas sim da psiquiatria social. E aí o que parece nem sempre é.
Conclusão: julgavam que Sócrates está interessado em ter Mário Soares em Belém? Para ter de se justificar ao país sobre o diálogo com os terroristas, o enxotar dos GNR’s nas presidências abertas e o manifesto desinteresse do candidato pela ciência oculta do défice? Não acredito. Ele já tem chatices que cheguem.
E lá no íntimo, Sócrates deve estar a suspirar por não suceder em Portugal o que aconteceu na Alemanha. Em três semanitas de campanha foram 20% de avanço da cavaquista Merkl sobre o Sócrates alemão ao ar. Evaporados entre três gaffes e dois debates. O Primeiro-Ministro é hoje o principal interessado em ter de falar com Cavaco Silva às quintas-feiras e não com Soares. Ele é o verdadeiro dos primeiros cavaquistas. E deve ser dos pensam que quanto mais tarde a visão sebastianista for comunicada aos portugueses melhor.
O problema de sempre, porém, persiste. E como fica o país? Em campanha eleitoral desde Dezembro de 2004 até Janeiro de 2006, os problemas de fundo vão-se discutindo como sempre, e vão ficando por resolver como sempre. Com a agravante de que o povo vai olhar para o futuro Presidente como o salva-vidas sem se dar conta de que ele não tem bote nem bóia. É de novo a exangue III República no seu pior.
(publicado no Diário de Aveiro)