terça-feira, setembro 20, 2005

«60 minutos com Brecht» em Aveiro

Sobe ao palco do Estaleiro Teatral do Efémero nos próximos dias 30 de Setembro e 01 de Outubro, pelas 21:30. Com encenação e adaptação de Clovis Levi, «60 minutos com Brecht» é uma produção de Margarida Mendes Silva e conta com a participação dos actores Fernando Taborda, Rui Damasceno e Victor Torres.
A escolha de Brecht reside no facto da sua extensa, variada e rica obra, escrita na primeira metade do século passado, permitir a reflexão sobre temas que permanecem, infelizmente - no século XXI -, como actuais: a (in)dignidade humana, a (falta de) liberdade, o (des) respeito entre os homens, o interminável combate entre o Poder e a Verdade, a delicada relação entre vencedores e vencidos, explorados e exploradores, e os conflitos entre o indivíduo e a colectividade.
O texto básico do espectáculo assenta na peça «Galileu Galilei», considerada pela maioria dos estudiosos de Brecht como a sua obra prima. A encenação deseja propor uma reflexão sobre o planeta, nos dias de hoje: as relações entre a Ciência e o Poder Político (na época de Galileu, séculoXVII, o poder era sinónimo de igreja católica); as relações entre a Ciência e a realidade quotidiana: pode a ciência permanecer na sua torre de marfim, perseguindo o conhecimento pelo conhecimento, sendo mais importante a descoberta e não o que se fará com ela? Caberá ao cientista apenas descobrir, deixando aos políticos o que fazer (de bem e de mal) com o novo?
Brecht defende que a Ciência deve buscar a melhoria de vida do ser humano, pois se assim não for,«cavar-se-á abismo tão grande, que a cada nova descoberta vossa (dos cientistas) a resposta será um grito de horror universal» -in Galileu Galilei.
Esta peça discute também a ética: até que ponto devemos utilizar formas honestas de luta contra os inimigos que utilizam estratégias desonestas? Inimigos que pelo recurso a comportamentos desonestos, acabam injustamente por vencer. No seu poema «Aos que vão nascer», Bertolt Brecht pergunta: «Que tempos são estes em que uma conversa sobre árvores é quase um crime, porque inclui um silêncio sobre tantos malefícios?»