quarta-feira, maio 09, 2007

Comércio Justo versus Comércio Selvagem

Hoje, dia 8 de Maio, é o “Dia Mundial do Comércio Justo”, que em Portugal se celebra de forma tímida, um pouco, será mesmo importante frisar, “muito pouco”, por todo o país. No próximo fim-de-semana, dias 11, 12 e 13 de Maio, Lisboa será palco do primeiro Fórum de Comércio Justo, que se realizará no Jardim da Estrela. Quantos portugueses sabem disto?
Numa altura em que está na moda comemorar-se o “Dia” de tudo e qualquer coisa, porque não se empenham os governantes de Portugal em divulgar o “Dia Mundial do Comércio Justo”?
A ideia de Comércio Justo nasceu na Holanda em 1969 e foi-se expandindo, Europa fora, mobilizando ONG’s, cooperativas e produtores nos países do Sul (cerca de 5 milhões em todo o mundo) e criando organismos coordenadores e fiscalizadores.
O Comércio Justo é definido pela News! (Rede Europeia de Lojas de Comércio Justo) como: «uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar o seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentado. O Comércio Justo procura criar os meios e oportunidades para melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos. A sua missão é a de promover a equidade social, a protecção do ambiente e a segurança económica através do comércio e da promoção de campanhas de consciencialização».
Ora é claro que ninguém poderá estar contra os princípios da dignificação do Comércio, face a uma consciência das injustiças sociais e humanas que poderão estar por detrás de uma actividade económica e integrando a necessidade de promover um desenvolvimento sustentável. Mas como se compreende então, que passadas quatro décadas, ainda caminhemos no sentido inverso ao do Comércio Justo? Porque nos sentimos nós cada vez mais afundados num Comércio Selvagem?
Na realidade, quem nos tem governado, nada se tem preocupado com o Comércio Justo. Não estão criados mecanismos de defesa eficientes para nos podermos sentir confortáveis, nem como comerciantes, nem como clientes.
Este ano, o “Dia Mundial do Comércio Justo” é celebrado no próximo sábado. O tema para 2007 é “As crianças precisam do Comércio Justo”, e refere-se ao facto de o Comércio Justo proteger os direitos das crianças. Seria mais uma razão para que nem o ministério da Educação, nem o ministério da Economia esquecessem esta data.
Não há Comércio Justo, há um “salve-se quem puder” que é o lema da falta de regras predefinidas. Assim, hoje podemos ter produtos chineses ao nosso dispor em Portugal, por metade do preço de idênticos produtos fabricados no nosso país, porque para idênticos fabricos concorreram diferentes custos de mão-de-obra ou diferentes exigências de condições de trabalho, ou de número horas de trabalho ou mesmo de preservação do ambiente ou de respeito pelos animais. Assim pactuando, não estamos a contribuir para a igualdade de direitos entre quem vende e entre quem compra.
A culpa é sempre da permissividade de quem nos governa e das políticas que deixamos implantar. Os resultados estão à vista: Portugal produz cada vez menos e compra tudo feito. Por sua vez, o desemprego está a aumentar e as famílias vêem diminuir o seu poder real de compra. O pequeno comércio está em vias de extinção, e o Comércio Justo ninguém sabe o que é. Ganham os banqueiros, ganham os estrangeiros, ganham os grandes “lobies”. Fica a perder Portugal.
(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

4 Comments:

At 10:39 da manhã, Blogger Bernardo Kolbl said...

Li.
Um bom dia e um abraço.

 
At 7:43 da tarde, Blogger PintoRibeiro said...

Simplesmente excelente.
Passei para deixar boa noite e um bjinho.

 
At 11:23 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Li e gostei.

Bjinho,

Fátima

 
At 11:35 da tarde, Blogger martim de gouveia e sousa said...

oportuna achega. bjo.

 

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