terça-feira, janeiro 16, 2007

O Presente Inexistente

Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso; ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence; e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o presente, em geral, fere-nos. Escondemo-lo à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar.
Examine cada um os seus pensamentos, e há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.
Blaise Pascal, in 'Pensamentos'
França[1623-1662]Filósofo, Matemático

3 Comments:

At 12:20 da tarde, Blogger osangue / PR said...

A subtileza esplendorosa de Pascal. Bom dia.

 
At 2:12 da tarde, Blogger hfm said...

O tempo e sempre a sua linha descontínua. Bela reflexão!

 
At 5:31 da tarde, Blogger isabel mendes ferreira said...

ser feliz agorA....porque amanhã já será outro o tempo.


_____________beijo. agora e sempre.



bom regressar-.te. contigo.

 

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