Poder e "contra-poder" na noite em Aveiro
Estava uma noite agradável de primavera, era quinta-feira santa e as ruas da cidade estavam muito movimentadas, repletas de turistas. Encontrámo-nos na Praça do Peixe e dividimo-nos em dois grupos para a nossa acção de colagem de cartazes da NovaDemocracia “Aveiro merece referendo local sobre o Mário Duarte”. O grupo que integrei começou ali mesmo o seu trabalho, na Praça, aproveitando um taipal de uma obra para a afixação. Daí viemos para as Pontes e fomos subindo a Avenida Dr. Lourenço Peixinho.
Havia mesmo muita gente na rua. As pessoas olhavam, muitas paravam, e muitas faziam perguntas. Os cartazes chamavam à atenção e estavam bonitos. O grupo estava animado e divertia-se trabalhando, contando peripécias ao mesmo tempo, e conversando com quem passava. Enquanto segurava cartazes e ía pedindo ao Elpídio para passar mais cola, apercebi-me que um homem com aspecto de estar na idade da reforma, nos seguia desde as Pontes. A uns dez ou vinte metros do grupo, parava junto a uma colagem, olhava fixamente para os cartazes durante alguns momentos e ali ficava a ver-nos como quem ansiava dizer algo ou juntar-se a nós.
O meu pressentimento não estava errado. De facto o homem foi-se aproximando cada vez mais, de forma tímida, com ar de reflexão como quem queria dizer alguma coisa, até que me dirigi a ele e lhe perguntei o que pensava sobre a ideia dos cartazes.
Bem, a partir daí foi seguramente um bom quarto de hora de conversa. O senhor, com nostalgia e tratando-me por “menina”, falou-me das muitas colagens de cartazes que já tinha feito na sua vida, confidenciou-me os seus sonhos políticos da juventude, as suas ilusões de querer ser diferente e a vontade que sempre teve de inverter o sistema. É agora presidente de uma das maiores Juntas de Freguesia da cidade de Coimbra e sente que chegado ao poder pouco faz para mudar o que vai mal. Desiludido, triste e inconformado, continua a lutar contra poderes instalados e disse-me «Sabe, no tempo do Manuel Machado como Presidente do Município de Coimbra, ele era boa pessoa, ouvia-nos com atenção mas não tinha freima para fazer nada, agora este presidente que lá está, nem nos ouve, nem nos deixa fazer, o poder é uma lástima!».
Era um homem culto e falou-me do muito que aprendera lendo e estudando e do pouco que conseguia aplicar depois de eleito. Antes de se despedir ainda disse «Admiro a vossa coragem, continuem a lutar por aquilo em que acreditam, esta é a melhor fase da vida política, quando se chega ao poder um homem sente-se tonto e embriagado, o que oferecemos à sociedade não representa cinquenta por cento daquilo que dávamos enquanto “contra-poder”».
No dia seguinte, verifiquei com tristeza que durante a noite muitos cartazes tinham sido descolados à força e rasgados propositadamente. Os que anunciavam a “Feira de Março”, continuavam lá, nos mesmos sítios, intactos! Nas duas noites seguintes alguém se incomodou a remover todos os restantes cartazes. No domingo, dia de Páscoa, quando saí para ir passar o dia à minha aldeia, constatei que Aveiro estava limpa de nós, dos nossos cartazes, que com toda a certeza tanto incomodaram a muitos… Pensei na conversa que tivera na noite da colagem com o senhor presidente da Junta de Freguesia (xx) da cidade de Coimbra. Ainda hoje continuo a reflectir nas suas palavras sobre os poderes instalados e na força do “contra-poder”.
Havia mesmo muita gente na rua. As pessoas olhavam, muitas paravam, e muitas faziam perguntas. Os cartazes chamavam à atenção e estavam bonitos. O grupo estava animado e divertia-se trabalhando, contando peripécias ao mesmo tempo, e conversando com quem passava. Enquanto segurava cartazes e ía pedindo ao Elpídio para passar mais cola, apercebi-me que um homem com aspecto de estar na idade da reforma, nos seguia desde as Pontes. A uns dez ou vinte metros do grupo, parava junto a uma colagem, olhava fixamente para os cartazes durante alguns momentos e ali ficava a ver-nos como quem ansiava dizer algo ou juntar-se a nós.
O meu pressentimento não estava errado. De facto o homem foi-se aproximando cada vez mais, de forma tímida, com ar de reflexão como quem queria dizer alguma coisa, até que me dirigi a ele e lhe perguntei o que pensava sobre a ideia dos cartazes.
Bem, a partir daí foi seguramente um bom quarto de hora de conversa. O senhor, com nostalgia e tratando-me por “menina”, falou-me das muitas colagens de cartazes que já tinha feito na sua vida, confidenciou-me os seus sonhos políticos da juventude, as suas ilusões de querer ser diferente e a vontade que sempre teve de inverter o sistema. É agora presidente de uma das maiores Juntas de Freguesia da cidade de Coimbra e sente que chegado ao poder pouco faz para mudar o que vai mal. Desiludido, triste e inconformado, continua a lutar contra poderes instalados e disse-me «Sabe, no tempo do Manuel Machado como Presidente do Município de Coimbra, ele era boa pessoa, ouvia-nos com atenção mas não tinha freima para fazer nada, agora este presidente que lá está, nem nos ouve, nem nos deixa fazer, o poder é uma lástima!».
Era um homem culto e falou-me do muito que aprendera lendo e estudando e do pouco que conseguia aplicar depois de eleito. Antes de se despedir ainda disse «Admiro a vossa coragem, continuem a lutar por aquilo em que acreditam, esta é a melhor fase da vida política, quando se chega ao poder um homem sente-se tonto e embriagado, o que oferecemos à sociedade não representa cinquenta por cento daquilo que dávamos enquanto “contra-poder”».
No dia seguinte, verifiquei com tristeza que durante a noite muitos cartazes tinham sido descolados à força e rasgados propositadamente. Os que anunciavam a “Feira de Março”, continuavam lá, nos mesmos sítios, intactos! Nas duas noites seguintes alguém se incomodou a remover todos os restantes cartazes. No domingo, dia de Páscoa, quando saí para ir passar o dia à minha aldeia, constatei que Aveiro estava limpa de nós, dos nossos cartazes, que com toda a certeza tanto incomodaram a muitos… Pensei na conversa que tivera na noite da colagem com o senhor presidente da Junta de Freguesia (xx) da cidade de Coimbra. Ainda hoje continuo a reflectir nas suas palavras sobre os poderes instalados e na força do “contra-poder”.
(publicado na edição nº 4 da Revista Nova Vaga)
5 Comments:
vim visitar-te... desculpa a ausencia...
Olá Susana:
Uma coisa é certa...alguém foi que rasgou esses cartazes que por sinal até falavam de uma questão exclusivamente relacionada com a nossa cidade...e que deveria ser democraticamente respeitada, estando ou não de acordo.
Podemos "assobiar para o lado" mas todos nós sabemos "quem" porventura terá estado na origem desse "rasganço" e as suas possíveis motivações.
Sei-o eu e sabe-lo-á concerteza a Susana.
Não foi ninguém que pense como o tal seu interlocutor de circunstância.
Passados 30 anos do 25 de Abril custa-me constatar que ainda há pessoas que não respeitam o livre pensamento e a livre opinião e que procedem exactamente como o fizeram logo após a Revolução.
Sinto-me até enojado com esse comportamento.
Cumprimentos,
e de noite até parece que o poder não existe....ou existirá....por oposição ao contra-poder?????
tenho de pensar...:)))))))))))
beijos.....muitos.
Explique-me por favor, Sr. José Alberto, como se eu tivesse 4 anos, quem foi que rasgou os cartazes?
1. Alguém que adora a Feira de Março?
2. Alguém que não gostou da côr desses cartazes em particular?
3. Alguém que não gosta de referendos????
4. O Élio Maia? À noite e à socapa?
5. O Ferreira para se vitimizar e dizer que lhe rasgaram os cartazes?
Em qual das opções aposta, Sr. José Alberto?
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