quarta-feira, maio 10, 2006

O Ideal da Amizade

A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas de que essa intimidade é uma espécie de amizade. Naturalmente, nesses casos não se trata de verdadeira amizade. Uma pessoa imagina que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal?

E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? Quanto vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse altruísmo que não quer nada e não espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca? E se entrega ao outro toda a confiança de uma juventude, toda a abnegação da idade viril e finalmente oferece a coisa mais preciosa que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano, a sua confiança absoluta, cega e apaixonada, e depois se vê confrontado com o facto de o outro ser infiel e vil, tem direito de se ofender, de exigir vingança? E se se ofende e grita por vingança, era realmente amigo, o traído e abandonado?
Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'
(via Citador)

7 Comments:

At 9:16 da manhã, Blogger hfm said...

Que texto, Susana - uma beleza!

 
At 12:43 da tarde, Blogger Elise said...

quantas infidelidades na amizade conseguimos perdoar quando somos fiéis?

 
At 6:08 da tarde, Blogger isabel mendes ferreira said...

querida Su...é tão dificil sabermos "aprender" a prender a amizade...afinal o único sentimento perdurável...

divino o texto....:)

beijo Amigo. Muito.

 
At 7:06 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Gostei!
Obrigado.

 
At 11:52 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A solidão é o inimigo dominante a abater.
E, as lealdades, infedilidades, qualidades e defeitos, entre tantas outras, são os escolhos, são as vicissitudes dessa luta.

Desculpe arestália, abservação é um pouco triste.


Cumprimentos do Maréchal Ney

 
At 6:31 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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At 7:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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