terça-feira, janeiro 10, 2006

Reflexão: em que tipo de país é que vivemos?

Começa mal o novo ano de 2006. Em pouco mais de uma semana, constata-se que vivemos num país sem retoma económica, mas onde em contrapartida as vendas de automóveis de luxo aumentam 62,5%; num país onde se maltratam as crianças; num país onde uma campanha eleitoral para a presidência da República só serve para realçar compadrios e interesses particulares; num país onde há lugar à demolição em vez da recuperação e enaltecimento das suas memórias. Em suma, é triste constatar que vivemos num país cada vez mais subdesenvolvido.

Desta forma se compreende que os ricos estejam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. O fosso entre classes é cada vez maior. Os hotéis de cinco estrelas esgotaram por todo o país na passagem de ano. Baixam as vendas de automóveis considerados utilitários, estagnam as vendas de ligeiros e pesados de mercadorias ao ritmo que estagnada se encontra a economia, e o que é que sobe em flecha? Nem mais nem menos que os automóveis de luxo, em 62,5% de aumento!

Ainda assim, o governador do Banco de Portugal, dá conta ao país na nota de apresentação do Boletim Económico de Inverno do Banco Central, que a procura interna reflecte os desequilíbrios acumulados na economia e o grau de endividamento dos agentes económicos. Pasme-se quem ainda conseguir, porque as informações estão viciadas e não constituem novidade. Para além de que o próprio Banco de Portugal no final do ano passado deu o exemplo de como fazer aumentar as vendas do sector automóvel, adquirindo seis novas viaturas de luxo para o seu executivo. E é assim que passado um mês Vítor Constâncio, o governador, vem apelar ao rigor e ao equilíbrio financeiro do país?

Vivemos num país onde ninguém tem escrúpulos, e onde o exemplo não vem de cima! O Estado apela ao rigor e à contenção de custos, e desenvolve nas suas próprias estruturas as maiores despesas supérfluas. Os vários ministérios apelam ao consumo nacional, e são os primeiros a consumir e a impingir-nos o que vem de fora. Até o slogan “vá para fora cá dentro” apelando ao turismo nacional, deixa de fazer sentido na lógica de coerência do estado, quando o próprio primeiro-ministro passa as férias de Verão em “safaris” e as férias de Inverno em estâncias de neve na Suíça.

E enquanto isso o país real vai morrendo aos poucos. Muitos são os que nem salários de Dezembro receberam, mais são ainda os que ficaram sem subsídio de Natal. E pior ainda os que perderam o seu trabalho. Só no distrito de Aveiro, a empresa de calçado Ecco enviou para o fundo de desemprego cerca de 400 trabalhadores. Os investidores também vão abandonando o país que os sobrecarrega com os mais altos impostos da Europa.

Neste mesmo país onde se constata em cada dia que as crianças continuam a receber maus-tratos, e onde a justiça tarda em punir quem deveria pagar por isso. Se ninguém se apressa a defender o mais valioso futuro que são as nossas crianças de hoje, que Portugal e que valores deixaremos ao nossos filhos? Estamos perante um país onde os ministros se preocupam em anotar tudo sobre preços, e nada reflectem sobre valores.

Também não nos entusiasma a abertura oficial da campanha eleitoral para as presidenciais. O nível a que se desenvolve é tão medíocre quanto este estar generalizado dos políticos do sistema, dos seus egoísmos e da sua falta de valores. Só assim se justificam as corridas desenfreadas à caça ao voto, o reatar de relações através de uma hipocrisia nua e crua e os oportunismos e jogos de interesses que não dão lugar a uma disputa séria dos candidatos pela defesa de ideias e apresentação de rumos para o país. Em breve apontamento televisivo para o demonstrar, basta ter apreciado a animação de Soares colocando-se ao lado de Valentim, ou as festanças na Madeira com que Cavaco é recebido por Jardim.

É este o ambiente em que se vive. É este o país que em consequência deste ambiente, se vai rendendo todos os dias aos espanhóis, já não acreditando ser capaz de sobreviver independente. Só mesmo num país como este se pode estar a demolir uma casa onde viveu e morreu Almeida Garrett, um dos maiores escritores nacionais, sem que ninguém tenha tido força suficiente para o impedir. Só mesmo num país subdesenvolvido podem dar lugar a condomínios de luxo, as memórias do passado que deveriam ser enaltecidas e recuperadas à luz da preservação da nossa cultura e das nossas raízes. É que o imóvel de grande valor histórico agora demolido, é propriedade do actual ministro da economia e talvez este pormenor seja suficiente para compreender muito de tudo que se vai passando por aqui…

(Publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

2 Comments:

At 4:47 da tarde, Blogger isabel mendes ferreira said...

vivemos no país dos equívocos...no tal país onde tudo se confunde e é confundível....até que se reaprenda a pensar com a cabeça e não com os punhos...coisa que é apanágio dos menores....
olá Susana. Bom post. Excelente post.
beijo.

 
At 9:10 da manhã, Anonymous Anónimo said...

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