quarta-feira, junho 22, 2005

Greve, professores e depressões

A greve levada a cabo pelos professores, não obteve o sucesso esperado. Ainda bem. Haja bom senso.

Se esse sucesso se tivesse constatado, era caso para muitos trabalhadores deste país fazerem greve à greve dos professores. Que me perdoem todos os professores que fazem parte do leque dos bons profissionais do nosso ensino. Que felizmente, os há.

Há seis anos consecutivos, que assumo as funções de representante dos pais, nas escolas onde estudam os meus filhos, respectivamente de ensino básico e ensino secundário. Assim sendo, para além da visão de mera cidadã, mãe e encarregada de educação, poderei com algum à vontade, avaliar empenhos e displicências, com que durante estes anos me tenho vindo a confrontar.

Se é inegável a qualidade e dedicação de alguns professores, posso garantir que infelizmente uma grande maioria, na realidade que posso testemunhar, vê no trabalho que lhe compete uma enorme maçada, uma espera abominável pelos toques de campainha, pelos fins de dia, pelas férias… uma grande parte, trabalha sem estímulo, sem gosto, sem objectivos e pior, sem receios de avaliações.

Muitas vezes, saio das reuniões dos Conselhos de Turma interrogando-me sobre a razão da escolha desta carreira por parte de muitos professores. Comparecem de modo apressado e desatento, olhando os relógios e o adiantado da hora com desagrado evidente, optando pelo silêncio ou por uma opinião de conveniência, para que nada se aprofunde e tudo se aligeire sem demora.

Chego sempre à triste conclusão que muito vai mal no nosso Ensino. Por culpa do Sistema? Por falta de motivação? Por culpa dos alunos? Por culpa da sociedade? Por…
Mas o pior é que se trata do ensino que é proporcionado aos nossos filhos. Às novas gerações, à preparação para o futuro.

Quanto a mim, existe falta de uma séria avaliação-desempenho aos professores em geral do ensino básico e secundário. As faltas às aulas continuam a ser muitas, as férias prolongadas são demasiadas, a moda das depressões garantem baixas infindáveis, a irresponsabilidade é imensa, perante os programas a cumprir e perante os manuais que compramos por preços exorbitantes e que depois são levados nas matérias pela metade.

Penso muitas vezes, sobre o que seria da vida das empresas no nosso país, se os trabalhadores usufruíssem das regalias que têm os professores. Menos horas de trabalho, muitos intervalos, mais férias… privilégios nas reformas, na saúde… Defendem-se sob o argumento de actividade de desgaste rápido, o que também agora anda na moda argumentarem para as mais variadas profissões. Mas um operário fabril, um serralheiro, um empresário, não têm uma profissão de desgaste rápido? Como mensurar os desgastes e as diferenças, tendo em conta os direitos e obrigações, e as tão grandes injustiças de serviço: “público versus privado”?

Se queremos justiça social, é bom que se inicie a apregoar deveres iguais e a exigir o seu cumprimento, antes de se partir para a reivindicação de direitos desiguais. Num país onde cada vez mais existem cidadãos de 1ª e de 2ª. Num país em que se paga muito a alguns para nada fazerem e tão pouco a outros para tão mal viverem. Num país onde se continua a pagar a alguns pela depressão, e onde a muitos outros todos os dias se exige maior pressão. Vá-se lá saber até quando…
(publicado no Democracia Liberal)