Dar menos às crianças, é criar adultos mais pobres e infelizes
Com a devida vénia ao Diário de Aveiro
«Portugal dá menos aos mais novos que a maioria da OCDE», foi a conclusão retirada do relatório “Childhood Decides”, analisado esta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), do qual se conclui que, regra geral, a qualidade de vida dos menores no nosso País está muito abaixo da média do mundo desenvolvido.
O relatório realça que Portugal se encontra entre os países desenvolvidos que menos investem nas crianças dos zero aos cinco anos e refere ainda que os menores de 18 anos têm uma qualidade de vida abaixo da média da OCDE, devido a factores como a pobreza e os fracos níveis de ensino.
É vergonhoso que os portugueses vejam aprovados no Parlamento orçamentos para grandes obras públicas como o TGV ou o novo aeroporto, entre muitas outras, e, simultaneamente, Portugal seja um dos países da OCDE que menos investimentos públicos canaliza para as crianças até aos cinco anos.
No referido estudo, foram analisadas três grandes áreas – Padrões de Vida, Educação e Protecção – e nestas, foram também considerados aspectos como os valores dos abonos de família, e os incentivos fiscais às famílias, nos quais os avanços portugueses têm ficado muito aquém na comparação com a maioria dos países da OCDE.
Não é possível continuarmos a querer ser desenvolvidos, tendo em vista a ilusão das “aparências”, quando não salvaguardamos o que de mais sagrado devemos preservar para um futuro melhor. Sem crianças bem cuidadas, jamais poderemos almejar homens mais justos e mais felizes, mas antes contribuir para uma sociedade selvagem como aquela com que nos deparamos todos os dias, cada vez mais destituída de valores e de princípios, onde os interesses de uns poucos, não olham a meios para passar por cima da liberdade e do bem estar da maioria.
Não podemos ser livres se não somos responsáveis pelos nossos actos. Não somos responsáveis se negligenciamos as nossas crianças. Não podemos ter esperança num mundo melhor se não trabalharmos para investir na qualidade de vida da infância e juventude.
São tão básicas, quanto fundamentais, as regras que os nossos políticos ignoram para a arte de bem governar. Não lembraria ao diabo a criatividade de investir milhões na transcendente “tecnologia de ponta” dos “Magalhães”, quando uma em cada cinco crianças portuguesas (20%), se encontra exposta ao risco de pobreza, segundo o relatório publicado em 2008 pela Comissão Europeia sobre a protecção social e inclusão social, e adoptado tão timidamente pelo Conselho de Ministros do Emprego e da Segurança Social, que, até hoje, nada mudou.
Continuaremos a conviver com a pobreza, na infância, na juventude e na idade adulta, e continuaremos a ter políticos com mentes deformadas, enquanto não se reivindicarem mudanças radicais. Já nada se endireita com “reformazinhas” na educação, na economia, ou na justiça, enquanto os nossos políticos não virem ameaçadas as suas próprias reformas!
Terão de existir mudanças profundas no sistema, para que se operem mudanças significativas na qualidade de vida dos portugueses. Enquanto o não conseguirmos, temos por certo, que seremos um povo cada vez menos livre, cada vez mais pobre, e cada vez mais infeliz.
Susana Barbosa
1ª Signatária do Partido da Liberdade
(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)
1 Comments:
Dediquei a minha coluna desta semana no "O Diabo" ao PL.
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