quinta-feira, junho 14, 2007

Ota (s)nim

O que se está a passar em Portugal sobre o projecto de construção do aeroporto da Ota, espelha bem a realidade política e social do país. É uma lástima.
Estudos e mais estudos, Ota sim, Ota não. Todos falam, falam, falam, o tempo passa, o dinheiro gasta-se e as decisões adiam-se. Tal como à imagem do próprio país, um projecto sem futuro, com rumo incerto, sempre adiado, até quando?
O governo de José Sócrates, para não ficar mal na fotografia ao lado do Presidente da República, resolveu dar uma “colherada de chá” aos ditos argumentos de dúvidas e quiçá reponderar a questão, agora adiada por mais uns meses. É claro que na verdade todos sabemos que não faz diferença nenhuma, até porque esta situação fica a par com o interregno para férias que todos poderão gozar “mais descansados”…
Tenho para mim, que este “nim”, depois de mais uns milhares de euros gastos em novos estudos, revertendo como é de esperar a favor do Estado, dará inevitavelmente resposta a um reforçado e sólido “novo sim”, tratando-se apenas esta encenação presente, de um mero empate de decisão para “inglês ver”, abusando do estado amorfo de alma em que se encontram os portugueses.
Não sou engenheira nem arquitecta, mas a minha formação em economia e gestão desde a primeira hora me leva a crer que se trata de mais um projecto megalómano para Portugal, tal qual entendi desde a primeira hora a construção dos novos Estádios de Futebol, e destes não porque seja contra o futebol, até porque como é sabido gosto de ir aos jogos e tenho dois clubes no coração, o Benfica e o Beira-Mar.
Claro está que também tenho noção que o desenvolvimento de um país passa pelas infra-estruturas de que o mesmo dispõe para servir as populações e os empreendedores. Mas sem sustentabilidade económica e financeira em primeiríssimo lugar, não vamos a lado nenhum, seja na Ota, em Alcochete, na Margem Sul ou na Margem Norte…
O que se passa com os grandes projectos levados avante nos últimos anos pelos sucessivos governos do país, tem repercussão grave no modo de vida dos próprios portugueses que à semelhança do Governo, têm sido levados a gerir as suas vidas à imagem do que vêm na actuação dos governantes, comprando casas que não devem comprar e adquirindo carros que não conseguem manter.
Assim, ainda que seja interessante usufruir de muitos e grandes estádios de futebol, de um aeroporto como o da Ota, ou do TGV que nos economize uns minutos de viagem, a verdade é que em Portugal existem necessidades básicas por cumprir, com as quais convivemos todos os dias e não encontramos solução. Para que pactuar então com a criação de outros “elefantes brancos” que na certa pesarão mais nos custos que nos benefícios de todos nós? E se assim todos sentimos, para que insistir em fazer de conta que tudo vai bem?
Destas políticas capitalistas, gananciosas e traiçoeiras, advém o estado da nação, submersa numa depressão generalizada, atolada em dívidas internas, externas e familiares. As nossas famílias também se entusiasmaram com o “ter” acima das suas possibilidades e endividando-se, compraram casas novas, carros, até barcos ou viagens de férias a crédito, imaginando que sem empreender em novas fontes de rendimento assim poderiam continuar…
A grande diferença entre o endividamento do Estado e das famílias é que o Estado pode sempre arranjar mais uma receita extra no aumento dos impostos ou na invenção de mais uma multa qualquer, e as famílias, a essas só lhes resta pagar e calar. Enquanto há país e enquanto há famílias…