terça-feira, fevereiro 07, 2006

Liberdade com expressão

Muito se tem falado nos últimos dias de liberdade. Liberdade de expressão, claro que sim, mas acima de tudo que seja liberdade com expressão e responsabilidade.

Correram o mundo, as notícias das caricaturas, incendiaram revolta, reavivaram ódios, desencadearam atentados. Faz-nos pensar quão frágil é a humanidade, em si mesma tão caricata, tão intolerante, tão volúvel.

Sem ousar dividir o mundo entre bons e maus, entre ocidente e oriente, ou entre norte e sul, é importante termos a noção que numa era em que tanto se fala de globalização, a humanidade caminha a passos largos para usufruir dessa globalização mas a passos muito curtos para saber com ela conviver.

Exemplos disso existem todos os dias, e infelizmente as diferenças, as desigualdades e as intolerâncias não se ficam por caricaturas. Estamos longe duma almejada liberdade de expressão a nível mundial, embora materialmente convenha às sociedades modernas a proximidade do consumo e o utilitarismo das relações internacionais assentes nas trocas de interesses e na compra e venda de produtos.

A coca-cola consome-se em todo o planeta, mas o seu custo é desigual em cada canto e a sua publicidade tem peso e medida por conta certa. Não pode haver liberdade de expressão enquanto existirem direitos desiguais e deveres desconcertados. As políticas actuais preocupam-se mais com a rentabilidade do que com a humanidade.

É urgente que se comece a equacionar que se é inevitável a globalização, também é inevitável o confronto de direitos e deveres a nível mundial. Não podemos continuar a tapar o “sol com uma peneira”. Não podemos continuar a achar normal que haja concorrência com produtos produzidos por seres humanos que trabalham o dobro de outros, e que não têm direito a férias quanto mais a liberdade de expressão!

Será bom que utilizemos a nossa liberdade de expressão, para reclamarmos mais pela resolução de problemas com expressão. Ter liberdade também implica ter responsabilidade e não poderemos ser verdadeiramente livres enquanto existir tanta desigualdade.

(publicado nas edições de hoje do Diário de Aveiro e do Democracia Liberal)

1 Comments:

At 12:36 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Concerteza!
... resumindo, é sempre a tal história de que a nossa liberdade pode começar onde a do outro acaba...
No entanto, essa globalização - ansejo de igualdade(?), ainda é um campo de minas! - não merece a indiferança e sim um aviso ou, no mínimo, um olhar atento, crítico e ponderado.

Bjts

 

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