terça-feira, novembro 01, 2005

Tragédia de 1 de Novembro de 1755

Poema sobre o desastre de Lisboa (extracto)

Ó infelizes mortais! Ó deplorável terra!

Ó agregado horrendo que a todos os mortais encerra!

Exercício eterno que inúteis dores mantém!

Filósofos iludos que bradais «Tudo está bem»;

Acorrei, contemplai estas ruínas malfadas,

Estes escombros, estes despojos, estas cinzas desgraçadas,

Estas mulheres, estes infantes uns nos outros amontoados

Estes membros dispersos sob estes mármores quebrados

Cem mil desfortunados que a terra devora,

Os quais, sangrando, despedaçados, e palpitantes embora,

Enterrados com seus tectos terminam sem assistência

No horror dos tormentos sua lamentosa assistência!

Aos gritos balbuciados por suas vozes expirantes,

Ao espectáculo medonhos de suas cinzas fumegantes,

Direis vós: «Eis das eternas leis o cumprimento,

Que de um Deus livre e bom requer o discernimento?»

Direis vós, perante tal amontoado de vítimas:

«Deus vingou-se, a morte deles é o preço dos seus crimes?»

Que crime, que falta cometeram estes infantes

Sobre o seio materno esmagados e sangrantes?

Lisboa, que não é mais, teve ela mais vícios

Que Londres, que Paris, mergulhadas nas delícias?

Lisboa está arruinada, e dança-se em Paris.

François-Marie Arouet de Voltaire

(1694-1778), em 1756

2 Comments:

At 11:57 da tarde, Blogger porfirio said...

sugestivo poema no dia em que se celebram os 250 anos do trágico terramoto... dia de todos os santos. e a notícia correu depressa...

bjo

 
At 12:41 da manhã, Blogger isabel mendes ferreira said...

bom mas dançar em Paris....é uma festa....:)bjo.

 

Enviar um comentário

<< Home