Tragédia de 1 de Novembro de 1755
Poema sobre o desastre de Lisboa (extracto)
Ó infelizes mortais! Ó deplorável terra!
Ó agregado horrendo que a todos os mortais encerra!
Exercício eterno que inúteis dores mantém!
Filósofos iludos que bradais «Tudo está bem»;
Acorrei, contemplai estas ruínas malfadas,
Estes escombros, estes despojos, estas cinzas desgraçadas,
Estas mulheres, estes infantes uns nos outros amontoados
Estes membros dispersos sob estes mármores quebrados
Cem mil desfortunados que a terra devora,
Os quais, sangrando, despedaçados, e palpitantes embora,
Enterrados com seus tectos terminam sem assistência
No horror dos tormentos sua lamentosa assistência!
Aos gritos balbuciados por suas vozes expirantes,
Ao espectáculo medonhos de suas cinzas fumegantes,
Direis vós: «Eis das eternas leis o cumprimento,
Que de um Deus livre e bom requer o discernimento?»
Direis vós, perante tal amontoado de vítimas:
«Deus vingou-se, a morte deles é o preço dos seus crimes?»
Que crime, que falta cometeram estes infantes
Sobre o seio materno esmagados e sangrantes?
Lisboa, que não é mais, teve ela mais vícios
Que Londres, que Paris, mergulhadas nas delícias?
Lisboa está arruinada, e dança-se em Paris.
François-Marie Arouet de Voltaire
(1694-1778), em 1756
2 Comments:
sugestivo poema no dia em que se celebram os 250 anos do trágico terramoto... dia de todos os santos. e a notícia correu depressa...
bjo
bom mas dançar em Paris....é uma festa....:)bjo.
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