sexta-feira, janeiro 13, 2006

Os Sismos

Por Jorge Ferreira, no Tomarpartido

Portugal tem sido abalado nos últimos dias por vários sismos, felizmente sem danos pessoais nem materiais. Eles têm-se feito sentir um pouco por todo o país.
Não, não me refiro ao facto de o Estado, isto é, nós todos, estar a dever no final de 2005, 101,7 mil milhões de euros. Não, não me refiro ao facto de a criminalidade violenta ter aumentado 30 % em 2005 no nosso país, apesar de um deputado da Nação, Paulo Rangel, numa evidente ignorância sobre o país e a sociedade onde vive, ter afirmado que "O que gera insegurança nos cidadãos é a pequena criminalidade em massa, já que os homicídios são esporádicos". O deputado não lê jornais nem deve parar muito por cá.
Também não me refiro ao facto de Mário Soares ter afirmado que existem interesses ilegítimos por detrás da candidatura de Cavaco Silva, dando a entender que alguém por razões obscuras e não identificadas precisa de ter um amigo em Belém, sem nomear nem especificar. Também não me refiro ao facto de a Câmara Municipal de Aveiro ter nomeado pessoas para dirigir empresas municipais que vai já extinguir, como é o caso da EMA e que certamente custarão chorudas indemnizações ao erário público, acrescentando mais uns pozinhos aos tais 101,7 mil milhões.
Não. Refiro-me mesmo aos abalos derivados da agitação das placas tectónicas, a oeste do cabo de S. Vicente.
É, pois, altura, mais uma vez, de alertar as autoridades nacionais e locais para o facto de ser imperioso cumprir, fazer cumprir e fiscalizar efectiva e impiedosamente o cumprimento das normas anti-sísmicas da legislação portuguesa em todo o país. Ainda recentemente, por ocasião das comemorações dos 250 anos do terramoto de 1755, impropriamente chamado de terramoto de Lisboa, os especialistas alertaram o país, embora sem frémito de reacção, para o incumprimento generalizado dessas normas e para a total ausência dessa fiscalização.
Que diabo, assim como assim e já que a dívida do Estado é o que é, não virá certamente mal ao mundo se se gastarem mais uns cêntimos nessa fiscalização. A não ser que, como diria Mário Soares, haja interesses ilegítimos que dissuadem essa actividade em prol do bem comum, a favor de maiores ganhos na construção.

(publicado na edição de hoje do Diário de Aveiro)