Presidenciais: um imenso vazio
Por Jorge Ferreira, no tomarpartido
Mais uma vez o país se vai iludir nas próximas eleições presidenciais. Pelo andar da carruagem já se percebeu como vai ser o debate. Os problemas fundamentais do regime, das instituições e da sociedade, que todos passam a vida a dizer que é necessário enfrentar, vão ficar à margem do suculento debate que se aproxima. Mário Soares já decretou que este não será um combate ideológico e o seu adversário terá ficado aliviado com a ideia de não ter de fazer um debate ideológico com Soares.
Com quem gostaria que o seu filho tivesse aulas? Com quem preferia jantar? A quem emprestava o seu carro? A quem pedia ajuda na matemática? Quem gostava que fosse seu professor? Com qual preferiria passar um serão à lareira a ouvir histórias? Quem gostava que tratasse da sua contabilidade pessoal? As repostas variarão consoante os casos: Soares ou Cavaco, Cavaco ou Soares.
Este é o terreno que está preparado para o debate presidencial. É o debate dos perfis. Naturalmente apimentado com o lado emocional da política, que será meticulosamente atiçado por falsas polémicas e falsas divergências.
Cavaco Silva e Mário Soares são muito mais parecidos do que parecem e querem o mesmo de muito mais coisas do que jamais admitirão. A candidatura de Mário Soares e a candidatura de Cavaco Silva são duas faces da moeda, de um sistema que ajudou a salvar o país das ditaduras, mas que o tem condenado, nos últimos 25 anos, a uma outra espécie de ditadura: a democracia de fachada. E se na primeira face apenas participou Soares, já na segunda ambos registaram direitos de autor.
As presidenciais disputam-se num momento em que o desencanto dos portugueses com o sistema partidário, político, económico e social nunca foi tão grande. O ambiente é o ideal para a projecção de uma ilusão presidencial. A ilusão de que os homens em quem se vai votar em Janeiro virão salvar Portugal do défice, ou o Iraque da guerra, ou o mundo do terrorismo. Nada mais enganador.
Tomemos dois exemplos: o sistema institucional e a Europa.
É de bom tom pensar que Mário Soares é menos autoritário, menos interventivo e mais conciliador do que Cavaco Silva. Já será politicamente correcto pensar que Cavaco acentuará o pendor presidencial do semipresidencialismo e que Soares preferirá o pendor semi ao pendor presidencialista do semipresidencialismo. Mas será assim? Definitivamente não. Nem era de esperar que fosse. No essencial ambos concordam com este sistema. E para quem tivesse dúvidas tê-las-á certamente resolvido no sábado passado ao ler o artigo que Cavaco Silva, preventivamente, fez publicar no Expresso e em que faz uma profissão de fé no semipresidencialismo.
Isto é, quanto ao essencial do sistema, tudo continuará exactamente na mesma com Cavaco ou com Soares.
E quanto à Europa, que se tornou hoje um problema de política interna de todos e de cada um dos Estados europeus? Haverá diferenças de pensamento e de acção entre cada um dos candidatos? Também não. Ambos são federalistas, ambos têm crédito e curriculum firmes na defesa do modelo de Europa de que os cidadãos estão cada vez mais longe, como se tem visto nos últimos referendos sobre a Constituição europeia. Que ambos, aliás, apoiam e de que suponho não terem entretanto desistido.
Numa palavra: o que poderá eventualmente distinguir Soares de Cavaco é a circunstância, não a essência. Ambos querem representar ao mais alto nível um regime que os satisfaz, de que são, cada um à sua maneira, co-autores e o mais que desejam é uma consagração política dourada.
Cada um trará consigo os oportunistas do costume, a corte de Abranhos recachutada e com visual século XXI, que se afadigarão a discutir com ciência e pose qual deles será melhor ou pior para Sócrates, se saber muito de Finanças é recomendável ou indispensável para as conversas de quinta-feira com o Primeiro-Ministro, se um é mais parecido com Salazar do que o outro com Kerenski.
No fundo a história vai repetir-se: os eleitores serão chamados a votar numa eleição para eleger o símbolo vivo da República, em cujo arsenal jaz uma bomba atómica, o poder de dissolução do Parlamento, mas onde não existem fisgas, pistolas, espingardas, tanques, aviões ou barcos.
Depois de Janeiro o país será de novo confrontado com o vazio. Passado o ciclo das três eleições e, eventualmente, do referendo sobre o aborto que o PS quer fazer a saca-rolhas, Portugal será novamente confrontado com um sistema desacreditado e esgotado, que terá em Belém mais um fiel intérprete.
Com quem gostaria que o seu filho tivesse aulas? Com quem preferia jantar? A quem emprestava o seu carro? A quem pedia ajuda na matemática? Quem gostava que fosse seu professor? Com qual preferiria passar um serão à lareira a ouvir histórias? Quem gostava que tratasse da sua contabilidade pessoal? As repostas variarão consoante os casos: Soares ou Cavaco, Cavaco ou Soares.
Este é o terreno que está preparado para o debate presidencial. É o debate dos perfis. Naturalmente apimentado com o lado emocional da política, que será meticulosamente atiçado por falsas polémicas e falsas divergências.
Cavaco Silva e Mário Soares são muito mais parecidos do que parecem e querem o mesmo de muito mais coisas do que jamais admitirão. A candidatura de Mário Soares e a candidatura de Cavaco Silva são duas faces da moeda, de um sistema que ajudou a salvar o país das ditaduras, mas que o tem condenado, nos últimos 25 anos, a uma outra espécie de ditadura: a democracia de fachada. E se na primeira face apenas participou Soares, já na segunda ambos registaram direitos de autor.
As presidenciais disputam-se num momento em que o desencanto dos portugueses com o sistema partidário, político, económico e social nunca foi tão grande. O ambiente é o ideal para a projecção de uma ilusão presidencial. A ilusão de que os homens em quem se vai votar em Janeiro virão salvar Portugal do défice, ou o Iraque da guerra, ou o mundo do terrorismo. Nada mais enganador.
Tomemos dois exemplos: o sistema institucional e a Europa.
É de bom tom pensar que Mário Soares é menos autoritário, menos interventivo e mais conciliador do que Cavaco Silva. Já será politicamente correcto pensar que Cavaco acentuará o pendor presidencial do semipresidencialismo e que Soares preferirá o pendor semi ao pendor presidencialista do semipresidencialismo. Mas será assim? Definitivamente não. Nem era de esperar que fosse. No essencial ambos concordam com este sistema. E para quem tivesse dúvidas tê-las-á certamente resolvido no sábado passado ao ler o artigo que Cavaco Silva, preventivamente, fez publicar no Expresso e em que faz uma profissão de fé no semipresidencialismo.
Isto é, quanto ao essencial do sistema, tudo continuará exactamente na mesma com Cavaco ou com Soares.
E quanto à Europa, que se tornou hoje um problema de política interna de todos e de cada um dos Estados europeus? Haverá diferenças de pensamento e de acção entre cada um dos candidatos? Também não. Ambos são federalistas, ambos têm crédito e curriculum firmes na defesa do modelo de Europa de que os cidadãos estão cada vez mais longe, como se tem visto nos últimos referendos sobre a Constituição europeia. Que ambos, aliás, apoiam e de que suponho não terem entretanto desistido.
Numa palavra: o que poderá eventualmente distinguir Soares de Cavaco é a circunstância, não a essência. Ambos querem representar ao mais alto nível um regime que os satisfaz, de que são, cada um à sua maneira, co-autores e o mais que desejam é uma consagração política dourada.
Cada um trará consigo os oportunistas do costume, a corte de Abranhos recachutada e com visual século XXI, que se afadigarão a discutir com ciência e pose qual deles será melhor ou pior para Sócrates, se saber muito de Finanças é recomendável ou indispensável para as conversas de quinta-feira com o Primeiro-Ministro, se um é mais parecido com Salazar do que o outro com Kerenski.
No fundo a história vai repetir-se: os eleitores serão chamados a votar numa eleição para eleger o símbolo vivo da República, em cujo arsenal jaz uma bomba atómica, o poder de dissolução do Parlamento, mas onde não existem fisgas, pistolas, espingardas, tanques, aviões ou barcos.
Depois de Janeiro o país será de novo confrontado com o vazio. Passado o ciclo das três eleições e, eventualmente, do referendo sobre o aborto que o PS quer fazer a saca-rolhas, Portugal será novamente confrontado com um sistema desacreditado e esgotado, que terá em Belém mais um fiel intérprete.
(publicado na edição do Expresso do último sábado)
3 Comments:
best regards, nice info Honda s90 police motorcycle Manitoba casinos
Cool blog, interesting information... Keep it UP free yasmin bleeth nude free John hancock property and casualty insurance custom engraved brass license plate frames Accepting online payments workshop Ultram medication florida Online culinary art school 20 license plate frames stainless steel Long pulse diode laser hair removal top 10 laptop computers 2006 t mobile blackberry texas regulations for license plate frames Ri lottery power ball numbers Polymalgia and nexium license plate frames whorses Lexus grapevine dunlop tire company
Where did you find it? Interesting read Mitsubishi dealers charlotte2c nc pornstar pornstar Tramadol drugtest Hairy woman foto Anal hotpics teen photos Lake resale share tahoe time car rentals saunas caribbean cruises Land rover freelander se passenger air bag http://www.refinancing-68.info free perfume sample Free free best cheap meridia Computer science information North america gps vehicle navigation updated cd software Javascript detect popup blocker norton Remove vaseline from hair
Enviar um comentário
<< Home